Lava Jato prende ex-deputados e agora investiga crimes na Caixa Econômica Federal e no Ministério da Saúde
Os ex-deputados André Vargas (sem partido), Luiz Argolo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE) |
A Polícia Federal prendeu na sexta-feira (10.abr.2015) os ex-deputados
federais André Vargas (ex-PT-PR e hoje sem partido), Luiz Argôlo (ex-PP e
hoje Solidariedade-BA) e mais quatro pessoas ligadas aos políticos.
Também houve ordem de prisão contra o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE),
que já estava preso em Pernambuco por condenação no mensalão. Ele será
transferido para a PF em Curitiba.
As prisões fazem parte da 11ª fase da Operação Lava Jato,
que investiga o esquema de corrupção na Petrobras e que, a partir de
agora, também apura desvios na Caixa Econômica Federal e no Ministério
da Saúde feitos a partir de contratos de publicidade.
Os outros detidos são Leon Vargas, irmão de André Vargas, Elia Santos da Hora,
secretária de Argôlo, Ivan Torres, apontado como laranja de Corrêa, e
Ricardo Hofmann, vice-presidente e diretor-geral da agência de
publicidade Borghi/Lowe em Brasília.
Segundo a PF, 10% do valor dos contratos de publicidade mantidos com a
Caixa e com o ministério da Saúde pela agência eram desviados para
empresas de fachada dos irmãos Vargas. Segundo a PF, porém, ainda não se
pode afirmar se a agência tinha conhecimento do esquema.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que coordena as investigações, declarou que a operação "ainda está no seu começo" e que outros órgãos serão atingidos. "Essa investigação vai nos levar a mares nunca dantes navegados", afirmou.
Intitulada "A Origem", essa nova fase foca crimes relacionados a três
grupos de ex-agentes políticos após o envio de inquéritos que estavam no
Supremo Tribunal Federal. Segundo os investigadores, o título é uma
referência às investigações iniciais, realizadas no Paraná, que levaram a
Vargas e Argôlo. Também indica uma resposta aos recursos dos advogados
dos suspeitos, que sustentam que as apurações deveriam ter andamento no
Rio, onde fica a sede da Petrobras.
Além dos sete mandados de prisão, a PF cumpriu 9 de condução coercitiva –
entre eles de Márcia Danzi Corrêa de Oliveira, nora do ex-deputado
Pedro Corrêa – e 16 de busca e apreensão. A ação ocorreu no Distrito
Federal e em seis Estados (São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia,
Pernambuco e no Ceará).
Márcia chegou à sede da PF no Recife (PE) acompanhada pelo marido, Fábio
Corrêa Neto – filho do ex-deputado –, prestou depoimento e já foi
liberada. O apartamento do casal foi alvo de busca e apreensão, assim
como a residência do ex-deputado.
Ex-funcionário de Corrêa, Jonas Aurélio de Lima Leite prestou depoimento
na sede da PF em Caruaru (135 km do Recife) e foi liberado. Ele também
teve a casa foi vasculhada por agentes da PF.
Um imóvel de alto padrão em Londrina (PR) foi sequestrado. Na Bahia,
foram cumpridos três mandados de busca e apreensão: na casa de Luiz
Argôlo, de sua assessora e no escritório político do ex-deputado.
Fábio Corrêa (paletó), filho do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-BA), chega à sede da PF no Recife (PE), onde sua mulher, Márcia Danzi Corrêa de Oliveira, foi levada para prestar depoimento |
CAIXA ECONÔMICA
Segundo o juiz Sergio Moro, há suspeita de que a Borghi/Lowe tenha pago
propina aos irmãos Vargas para obter vantagens em contratos da Caixa e
de outros órgãos públicos. Os repasses teriam sido feitos às empresas
LSI e a Limiar.
O magistrado também apontou que há a suspeita de que outra empresa, a
IT7 – que também mantém contratos com a Caixa e outros órgãos públicos
–, fez repasses de mais de R$ 2 milhões aos irmãos Vargas, e que este
valor teve origem ilícita.
Moro apontou que a IT7 mantém contratos com empresas públicas como a
Caixa Econômica Federal, o Serpro (Serviço Federal de Processamento de
Dados) e a Celepar (companhia de processamento de dados do PR), entre
outras.
"Somente no ano de 2013, por exemplo, a IT7 recebeu, da Caixa Econômica Federal, cerca de R$ 50 milhões", diz Moro.
De acordo com o despacho do juiz, há prova de que o doleiro Alberto
Youssef providenciou, em dezembro de 2013, o repasse de quase R$ 2,4
milhões em espécie a André Vargas, "numerário este proveniente de
empresa que mantém vários contratos com entidades públicas", por meio da
emissão de notas fiscais fraudulentas por serviços que não foram
prestados.
"Em tese, os fatos configuram crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro."
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Moro também afirma haver "razoável prova de que Vargas realizou diversas
intensas intervenções junto ao Ministério da Saúde para a aprovação da
parceria" entre a pasta e o laboratório Labogen.
O denunciado na Lava Jato Leonardo Meirelles e Youssef tiveram uma
sociedade no laboratório, que chegou a fazer uma parceria com o
Ministério da Saúde para produzir o princípio ativo de um remédio que o
país importa.
A parceria foi rompida no ano passado, após a Lava Jato ter revelado que
o ex-deputado havia intermediado encontros para a Labogen conseguir o
negócio. Uma das suspeitas é que o laboratório tivesse o papel de pagar
propina para obter o negócio com a Saúde.
A empresa foi apanhada na Lava Jato porque foi usada por Youssef para
fazer remessas ilegais de US$ 37 milhões (R$ 85 milhões) simulando
importações, de acordo com laudos da polícia.
CASSADO
André Vargas foi o primeiro parlamentar sob suspeita de participação de fraude na estatal a ser cassado pela Câmara,
em dezembro. O Conselho de Ética considerou que o ex-petista quebrou o
decoro parlamentar por sua ligação com Youssef por intermediar, no
Ministério da Saúde, negócios do doleiro.
O ex-deputado Luiz Argôlo é investigado sob a acusação de ter atuado com o grupo. Ele sempre negou ter contato com o "pessoal da Labogen" e disse que nunca "abriu portas" para a equipe do laboratório no Ministério da Saúde.
Pedro Corrêa, condenado no mensalão, é apontado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa por ter recebido R$ 5,3 milhões
de uma só vez por meio do esquema de corrupção na estatal. Segundo
depoimento de Costa à Lava Jato, houve um "repasse extraordinário" a
ele, pois não era comum que um único parlamentar do PP recebesse uma
quantia dessa monta do '"caixa" de propinas do PP.
Quando o depoimento de Costa veio à tona, o advogado Marcelo Leal de
Lima Oliveira, que defendeu o ex-deputado no processo do mensalão,
afirmou, que não poderia comentar porque ainda não conversou com Corrêa
sobre o caso nem teve acesso à delação, mas que não havia acusações
contra seu cliente.
OUTRO LADO
A Caixa e o Ministério da Saúde informaram que abrirão apuração interna para averiguar
os fatos e que vai colaborar integralmente com as investigações. O
banco afirmou que encaminhará todos os contratos relacionados às
empresas citadas à CGU (Controladoria Geral da União), à Polícia Federal
e ao Ministério Público.
O Ministério da Saúde informou que abriu apuração interna para analisar
as denúncias e adotar medidas cabíveis e que todas as informações de
contratos de publicidade do período em investigação serão encaminhadas
para a CGU e PR "e ficarão à disposição dos demais órgãos de controle",
como Tribunal de Contas da União e Ministério Público.
Em nota, o ministério ainda negou irregularidades e diz que não firmou
contrato com a empresa Labogen. Segundo a pasta, em todas as parcerias
de desenvolvimento produtivo, realizadas para produção de medicamentos,
"a relação do Ministério é com os laboratórios oficiais, que podem
buscar parceiros privados".
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