Dirceu faturou R$ 29 milhões em consultoria a mais de 50 empresas
Quebra do sigilo fiscal da empresa do ex-ministro já havia sido autorizada em janeiro
José Dirceu |
A consultoria do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, a JD Assessoria e
Consultoria, faturou R$ 29 milhões em serviços para mais de 50 empresa
no período de nove anos. A informação faz parte do inquérito que
investiga Dirceu na Operação Lava-Jato. O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal Criminal de Curitiba, quebrou nesta terça-feira (17.mar.2015) o
sigilo sobre a investigação.
Em janeiro, Moro havia determinado a quebra do sigilo bancário e
telefônico da JD Assessoria e Consultoria, de propriedade do
ex-ministro. A decisão foi tomada depois que as autoridades responsáveis
pelas investigações constataram que as empreiteiras envolvidas em
fraudes na Petrobras pagaram R$ 3,7 milhões, entre 2006 e 2012, para a
empresa de Dirceu. A suspeita é de que a JD jamais tenha prestado
serviços de consultoria e que os recibos sejam uma fachada para encobrir
repasses de dinheiro desviado da Petrobras.
A informação sobre o faturamento da empresa foi apresentada, de acordo
com documento anexado ao inquérito, pela defesa do ex-ministro. O
ex-ministro e a JD são investigados por lavagem de dinheiro, ocultação
de bens e corrupção. Dirceu teria prestado consultoria para empresas de
20 setores da economia.
“Nota-se nos contratos que tais serviços estão em conformidade com
objetos sociais da empresa JD, quais sejam, prestação de assessoria na
integração da América do Sul, Mercosul, África, Estados Unidos e Europa,
além de ministrar palestras e conferências internacionais e participar
de reuniões juntamente com a direção das empresas contratantes. Não
obstante a todos esses fatos, também é possível verificar que os sócios
da JD Assessoria e Consultoria obtiveram lucros os sócios_da JD
Assessoria e Consultoria Ltda obtiveram lucros abaixo do mercado”,
destaca Anna Luiza de Sousa, advogada de Dirceu, no documento
apresentado à Justiça.
Moro destaca, no despacho em que liberou o sigilo sobre o inquérito, “a
licitude desses pagamentos está em apuração e que qualquer conclusão é
prematura”. “Tratando-se de supostos crimes contra a administração
pública, também se justifica o levantamento do sigilo, quando não há
mais risco à investigação, considerando o interesse público existente”,
escreveu Moro.
Depois que saiu do governo, Dirceu planejou viver de palestras. Mas,
diante da repercussão negativa na imprensa dos eventos que fazia passou a
atuar no mercado com a JD Assessoria e Consultoria. A função de Dirceu,
segundo pessoas próximas, seria “abrir portas”, o que incluiria a
intermediação de encontros entre autoridades estrangeiras e empresas
brasileiras que pretendiam fazer negócio no exterior. Costumava fazer
levantamentos de conjuntura política, jurídica e econômica dos países em
que os empresários pretendiam investir. Para construir relações no
exterior, o ex-ministro se utilizava de suas antigas relações do período
de militância de esquerda. Para a UTC Engenharia, Dirceu teria
prospectado negócios na Espanha e no Peru. Já OAS e Galvão Engenharia
tinham interesses em países da América Latina.
Até a prisão do ex-ministro, a JD funcionava em um imóvel na Avenida
Ibirapuera, em São Paulo. Ali trabalhariam entre 8 e 10 funcionários, e o
faturamento médio seria de R$ 200 mil mensais - cada empresa pagaria
algo em torno de R$20 mil por mês durante a vigência do contrato,
segundo pessoas próximas ao ex-ministro. Quando Dirceu foi preso, seu
irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que aparece como sócio na
empresa, cumpriu os contratos que ainda estavam vigentes, mas não teria
firmado novos negócios.
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