Testemunha-chave da My Way relata propinas de até 10% na BR Distribuidora
Ex-funcionária do financeiro de empresa
de Santa Catarina aponta operador ligado a Renato Duque em negócios
suspeitos que perduraram até novembro em subsidiária da Petrobrás
Sede da Arxo, em Balneário Piçarras - Santa Catarina |
Uma ex-funcionária da área financeira da Arxo Industrial do Brasil –
novo alvo da Lava Jato no esquema de corrupção na Petrobrás – afirmou ao
Ministério Público Federal que constatou saques em espécie de até R$ 7
milhões para pagamentos suspeitos que perduraram na Petrobrás
Distribuidora S/A (BR Distribuidora) mesmo depois da descoberta da
existência de cartel de empreiteiras e pagamentos de propinas a
políticos na estatal petrolífera. A BR Distribuidora é subsidiária da
Petrobrás, responsável pela rede de postos de vendas de derivados.
“Em data de 24 de setembro de 2014, o senhor Sérgio (Maçaneiro, diretor
Financeiro da Arxo) fez a retirada do caixa da empresa um total de R$
7.088.304,57, para a realização de pagamentos suspeitos”, afirmou ela ao
apontar quatro movimentações suspeitas, registradas por ela.
A Arxo, com sede em Santa Catarina, fornece tanques aéreos e
subterrâneos e caminhões tanques para a BR Distribuidora. A ex-gerente
financeira trabalhou na empresa de janeiro de 2012 e novembro de 2014.
Nesse período, a testemunha afirma ter presenciado pagamentos de propina
de 5% a 10% e registrou boa parte das movimentações suspeitas.
“Para obter os contratos, a Arxo receberia informações privilegiadas da
Petrobrás e efetuaria o pagamento de vantagem indevida de 5 a 10% do
total do contrato a empregados da referida empresa (BR Distribuidora)”,
informou a ex-funcionária.
A figura central dessa nova frente de investigação procurou a
força-tarefa do Ministério Público Federal em 15 de janeiro. Ela apontou
e reconheceu o operador da propina no caso dos contratos da Petrobrás,
Mário Goes.
“Mario Goes seria o intermediador das propinas, conforme reconhecimento
fotográfico efetuado pela testemunha e identificação de seu nome na
contabilidade informal da empresa (“GOIS”)”, registrou o MPF ao pedir a
prisão preventiva do acusado.
Foi através dele que a Lava Jato estabeleceu a conexão entre o esquema
investigado nas Diretorias de Serviço, Abastecimento e Internacional,
que arrecadaria propina para os partidos da base do governo – PT, PMDB e
PP. Goes foi um dos operadores de propina do ex-diretor de Servios
Renato Duque, segundo apontou o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco,
que era seu braço direito e fez delação premiada com a Lava Jato.
A ex-funcionária afirmou ainda que “nos dias anteriores a vinda dele
(Mário Goes) procediam-se todas as movimentações na empresa para gerar
dinheiro em espécie”. ”Inclusive a depoimento auxiliava a colocar o
dinheiro em envelope, sendo que algumas oportunidades viu que Goes saia
da empresa com, este envelope debaixo do braço”.
Segundo a testemunha, o suposto operador ligado a Duque e Barusco foi
visto por ela pela última vez em outro do ano passado. Goes foi o único a
ter prisão preventiva decretada e está foragido. A ex-gerente
financeira montou para a força-tarefa da Lava Jato um quadro da divisão
de tarefas no esquema de propina envolvendo a Petrobrás, que teria
atuado até 2014.
Os sócios-dirigentes da Arxo Gilson João Pereira e João Gualberto
Pereira Neto eram quem coordenavam o pagamento da propina. Os valores
seriam entregues “a cada dois ou três meses, a Mario Goes, na própria
Arxo.”
“Eventualmente, o dinheiro seria levado pelo diretor financeiro Sérgio
Ambrósio Marçaneiro até Mario Goes no Rio de Janeiro”, contou a
ex-funcionária.
Em detalhes ela apontou a “responsável pela movimentação das contas da
empresa” que “teria conhecimento da propina”, indicou o “programa
contabilidade Proteus da empresa, com registro, no caixa 2, das
movimentações ilícitas” e os funcionários responsáveis por ele. Ela
também encaminhou a lista de notas frias emitidas pela empresa para
justificar a propina.
Propina e medo
As revelações da ex-gerente, que espontaneamente procurou a força-tarefa
da Lava jato e foi ouvida no dia 15 de janeiro, apontam um esquema de
propina em outras áreas, sonegação fiscal e medo de ameaças.
A testemunha afirmou ainda que “foi diversas vezes enviada a lugares que
não na empresa, inclusive na Receita Federal de Florianópolis, para
levar pacotes ou malas contendo dinheiro”. “Sempre acompanhada de um
policial civil, na função de segurança.”
A ex-gerente afirmou ter sido ameaçada. “Devido a questionamentos
referentes a pagamentos em espécie a pessoas que não faziam parte da
folha de pagamento de funcionários ou fornecedores, fui advertida a
ficar calada, como continuei a questionar, passe a ser ameaçada de
morte.”
Lavanderia
Com base nas revelações da testemunha e com apoio da Receita Federal a
Lava Jato chegou às empresas usadas para “disfarçar os pagamentos” de
propina com “notas fiscais frias”: RPK Comercial Eireli- ME,
Transportadora Cedense Ltda., Linkcom Comercial Ltda., Metalsinter
Indústria e Comércio de Filtros e Sintetizados Ltda., RTN - Consultoria e
Representações, MTX Equipamentos, PL Costa Serviços Administrativos
Ltda. e AFB Sistemas Ambientais e Informática Ltda – ME.
COM A PALAVRA, A BR.
“A Petrobrás Distribuidora informa que está encaminhando aos
responsáveis pelas investigações os documentos referentes à relação
comercial com a Arxo Industrial do Brasil Ltda. A empresa reafirma seu
compromisso de colaborar com as autoridades.”
COM A PALAVRA, A ARXO.
“O sócio proprietário da Arxo, João Gualberto Pereira Neto,
apresentou-se no final da tarde desta sexta-feira na Polícia Federal, em
Curitiba, para prestar esclarecimentos sobre a empresa.
As informações declaradas pela ex-gerente e responsável da área
financeira e contábil da Arxo são infundadas. Ela foi demitida em
novembro de 2014, quando foi instaurada uma auditoria interna para
apurar indícios de desvio de valores que podem ultrapassar R$ 1 milhão
por parte da ex-gerente. As apurações apontam que a mesma utilizava-se
de empresas de terceiros para recebimento dos valores, incluindo uma das
empresas citadas por ela na denúncia. A Arxo está tomando todas
providências legais para indicação dos envolvidos.
Nenhum membro da diretoria ou colaborador da empresa teve qualquer
ligação com tratativa ou pagamento de propina à Petrobras. Da mesma
forma, todos desconhecem o citado Mário Góes.
A direção da empresa reafirma a disposição de contribuir com o trabalho
das autoridades, ajudando-os com todo e qualquer esclarecimento
necessário. A Arxo é uma empresa que está no mercado desde 1967, líder
em seu segmento, o que garante que todas as atividades da empresa e
compromissos com os clientes e fornecedores sejam mantidos. A ação da
Polícia Federal em nada impede o andamento do processo fabril e
administrativo e todos os prazos de entrega de equipamentos,
carregamento e pagamento estão assegurados.”
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