Ministro da Justiça pediu para executivo da UTC não fazer delação premiada
Publicação relata pontos que o sócio da
construtora estaria disposto a revelar à Justiça caso seu pedido de
delação premiada seja aceito
José Eduardo Cardozo Ministro da Justiça |
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu a advogados
contratados pela UTC que o engenheiro Ricardo Pessoa, dono da
construtora, não fizesse acordo de delação premiada com a força-tarefa
da Lava Jato, segundo reportagem da revista Veja deste fim de semana.
A UTC é uma das empresas cujos dirigentes foram presos na sétima fase da
operação. O sócio e ex-presidente da construtora, Ricardo Pessoa,
cumpre prisão preventiva em Curitiba.
Na semana passada, o ministro admitiu ter se encontrado com o advogado
Sérgio Renault, contratado pela UTC. Cardozo afirmou, contudo, que o
encontro foi casual e eles não trataram da Lava Jato.
A revista relata pontos que Pessoa estaria disposto a revelar à Justiça caso seu pedido de colaboração premiada seja aceito.
Segundo a reportagem, a UTC garante ter R$ 600 milhões a receber por
serviços já prestados à Petrobrás e vem pressionando interlocutores do
PT para conseguir a liberação do dinheiro. Por isso, a empresa procurou
Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e braço-direito do
ex-presidente.
Doações
Conforme a Veja, Pessoa pretende relatar também em eventual delação
premiada que deu R$ 30 milhões desviados da Petrobrás a candidatos do PT
nas eleições do ano passado. A maior parte do valor, contudo, teria
sido repassada por meio de doações legais.
A revista relata que o executivo diz que se considera amigo do
tesoureiro petista João Vaccari Neto - investigado na Lava Jato - e que a
pedido dele doou R$ 10 milhões para a campanha à reeleição da
presidente Dilma Rousseff. A reportagem cita ainda o ex-tesoureiro da
campanha de Dilma, Edinho Silva, que, segundo o empreiteiro, está
"preocupadíssimo" pois saberia a origem do dinheiro que abasteceu a
campanha presidencial.
Outro ponto que Pessoa estaria disposto a revelar é uma ajuda financeira
para que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pagasse despesas
pessoais. Em 2011, após ser procurado por Vaccari, a UTC simulou um
contrato de consultoria com o ex-ministro e repassou R$ 2,3 milhões a
Dirceu - que atualmente cumpre pena domiciliar pela condenação no
mensalão.
Jaques Wagner
De acordo com Veja, o esquema de corrupção financiou também campanhas ao
governo da Bahia do atual ministro da Defesa, Jaques Wagner. Conforme a
reportagem, um auxiliar de Pessoa disse à revista, sob condição de
anonimato, que "Ricardo pode destruir Wagner" se revelar tudo o que sabe
ao Ministério Público e à Polícia Federal.
O ministro, por meio de sua assessoria, chamou de "ilação" a notícia.
"Lamento a ilação dando conta de que eu teria recebido doação da empresa
UTC, do senhor Ricardo Pessoa, de forma clandestina", afirmou. "É uma
frase inócua. Minha vida política está consolidada em três eleições para
deputado federal e duas vitórias em primeiro turno para governador da
Bahia", argumentou o ministro, ao lamentar que as informações tenham
sido publicadas "com base em uma delação premiada que ainda não
existiu".
Wagner disse que todas as doações para suas campanhas "foram declaradas e
as prestações de contas, aprovadas pela Justiça Eleitoral". O ministro
negou que tenha recebido contribuição da UTC na disputa de 2006, quando
concorreu pela primeira vez o governo da Bahia, mas confirmou a doação
da construtora na campanha pela reeleição, em 2010.
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