Julio Camargo afirma que transferiu propina
para conta de Renato Duque
Delator declarou à Justiça que fez
repasse para ex-diretor de Engenharia da Petrobrás;
segundo ele, propina
“era a regra do jogo, um compromisso de confiança”
Julio Camargo |
O executivo Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato,
afirmou nesta segunda-feira, 09.fev.2015, à Justiça Federal no Paraná
que o pagamento de propinas na Petrobrás “era a regra do jogo, um
compromisso de confiança entre as partes, um compromisso
institucionalizado”. Renato Duque tem reiterado com veemência que jamais
recebeu propinas do cartel de empreiteiras que agiam na Petrobrás.
Ele disse que repassou propinas para duas diretorias da Petrobrás,
Abastecimento, então sob comando de Paulo Roberto Costa, e Engenharia e
Serviços, na ocasião dirigida por Renato Duque, ambos alvos da Lava
Jato. Ao ser questionado se havia pagamentos diretamente em contas de
titularidade de diretores ou gerentes da estatal petrolífera, Camargo
declarou.
“Era sempre em nome de offshores, cujo beneficiário eu não sabia quem
era. Identifiquei uma conta só, do sr. Renato Duque, porque eu auxiliei
na abertura da conta no mesmo banco onde eu tinha conta. Houve uma
transferência da minha conta para a conta dele.”
Julio Camargo foi arrolado pelo Ministério Público Federal como
testemunha de acusação nas ações penais contra os maiores empreiteiros
do País, que estão sob suspeita de terem formado cartel para conquistar
contratos bilionários na Petrobrás. Para não ser preso, ele decidiu
fazer delação premiada e se comprometeu a devolver R$ 40 milhões ao
Tesouro. Ele era titular de três empresas, Auguri, Treviso e Piemonti,
pelas quais transitavam valores ilícitos.
Em seu depoimento desta segunda-feira, 09.fev.2015, ele admitiu ter
distribuído propinas sobre seis contratos para as Diretorias de
Abastecimento e de Engenharia. Segundo ele, na Abastecimento o contato
era o doleiro Alberto Youssef. Na Engenharia, Pedro Barusco (ex-braço
direito de Renato Duque), que também fez delação premiada.
Camargo foi enfático quando indagado pelo juiz Sérgio Moro, que conduz
todas as ações da Lava Jato, se naqueles seis contratos houve pagamento
de propinas e se isso era uma praxe. “Era a regra do jogo”, respondeu o
delator. Ele disse que trabalhava como consultor empresarial,
inicialmente, pela Toyo do Japão e Setal Óleo e Gás. O juiz perguntou.
“O sr. tem conhecimento de que outras empresas pagavam?” O delator
respondeu. “Era a regra do jogo, eu acredito que pagavam. Eram coisas
que a gente não comentava um com o outro porque evidentemente era
segredo de cada empresa.”
O sr. encarava esses pagamentos com naturalidade? Insistiu Sérgio Moro.
“Sim, se eu quisesse ter sucesso, e a minha atividade era obter sucesso
aos meus clientes, era obrigatório o pagamento das propinas.” Julio
Camargo relembrou que em 2006 repassou R$ 7,5 milhões para a “a área de
Engenharia” e outros R$ 7,5 milhões “para a área de Abastecimento”. “Na
Abastecimento sempre meu contato para liquidação era o senhor Alberto
Youssef. E dali, em conjunto, a gente organizava um cronograma de
pagamento para contemplar a área. Na parte de Engenharia eu me
relacionava para a liquidação e para determinação do cronograma com o
senhor Pedro Barusco.”
Um procurador da República perguntou ao delator sobre como se chegou aos
valores de R$ 7,5 milhões para cada diretoria da Petrobrás. ”Eram
negociações, havia um número nominal de 1% (de propinas sobre o valor de
cada contrato) para cada área. Porém, isso aí era negociável, flexível,
e se chegava a esses valores de comum acordo sobre o montante dos
contratos. Se a gente não fizesse assim não obteria os contratos, as
coisas não andariam tão bem como deveriam andar.”
“Quando eu fazia os meus contratos eu calculava o valor da propina como
um custo meu”, declarou Julio Camargo. “E quando eu negociava o montante
do contrato eu considerava a propina, mais evidentetemente os custos
que esse contrato gerava. E determinávamos em comum acordo o montante do
meu contrato.”
O procurador perguntou a Julio Camargo como era feito o pagamento.
“Geralmente, pelo senhor Alberto Youssef, através das minhas empresas
que tinham origem da Receita reconhecida, os impostos pagos. Eram feitas
remessas através do Banco Central para o exterior. Uma parte dessas
remessas ia para aplicações das empresas. Uma parte se destinava ao
pagamento de propinas. Minhas três empresas fizeram aportes na GFD
Investimentos (controlada por Youssef).” Segundo o delator, na área de
Engenharia a propina era pago por meio de offshores indicadas por Pedro
Barusco.
VEJA O DEPOIMENTO DE JULIO CAMARGO À JUSTIÇA FEDERAL
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