Governo federal anunciou em jornais 'fantasmas'
Um relatório feito pela Presidência em 2013 confirma indícios de que o
governo federal pagou anúncios em jornais inexistentes no ABC paulista.
O relatório de auditoria da Secretaria de Controle Interno da
Presidência, feito a partir do trabalho da Controladoria-Geral da União,
diz que periódicos 'forjados' receberam R$ 364,6 mil da Presidência.
Segundo a auditoria, entre 2008 e 2012, a Secretaria de Comunicação
Social da Presidência pagou R$ 364,6 mil a cinco jornais do Grupo Laujar
de Comunicação S/A, de São Bernardo do Campo.
Os auditores concluíram que os jornais "resumem-se a quatro páginas cada
um", com notícias repetidas, cujas "informações e imagens" são "cópias
de reportagens de sites de notícias sem atribuição [de] créditos",
aspectos que seriam "indícios de fraude".
Os jornais traziam três anúncios: um da Unimed com números de telefone
genéricos; outro sem identificação; e o terceiro, do governo.
No endereço da sede do grupo, os fiscais encontraram um "sobrado
residencial". Os vizinhos do suposto parque gráfico desconheciam a
existência de atividades no local.
Os auditores também visitaram 35 bancas de jornal e contataram outras
21. A única que conhecia um dos títulos investigados, o "Jornal do ABC
Paulista", do qual havia recebido dois exemplares para venda naquele
dia, fora indicada pelo dono da Laujar.
O relatório conclui que "os periódicos entregues como prova à Secom
foram forjados". A declaração em cartório sobre a tiragem dos jornais,
diz o texto, "é falsa".
Em 2012, uma reportagem mostrou que a Secom gastara, desde 2011, R$
135,6 mil para anunciar nesses jornais. Em 2014, revelou que, entre 2004
e 2012, estatais federais pagaram R$ 1,3 milhão à empresa.
A reportagem, que descrevia os jornais com as mesmas características
apontadas no relatório, mostrava que eles não eram vendidos nem tinham
registros conhecidos.
O relatório recomenda que a Secom apure o que aconteceu e tome medidas
administrativas. A secretaria afirma que o processo está aberto e espera
resultado de uma investigação também em curso feita pela Polícia
Federal.
Outro lado
Empresa diz que relatório mente e não é 'técnico'
Ouvido pela reportagem, um representante da Laujar disse que o relatório
da Presidência mente e foi feito por pessoas não "técnicas".
"Esse relatório está completamente furado. Ele acompanhou as mentiras
escritas naquela matéria caluniosa [reportagem de 2012]. Empresa
fantasma tem endereço? Empresa fantasma não paga imposto à prefeitura.
Não somos fantasmas. Temos tudo. Foram lá e montaram [o relatório]",
afirmou o homem, que disse se chamar João Carlos (ele se negou a dar
sobrenome) e trabalhar há mais de 20 anos para o dono da Laujar, Wilson
Nascimento.
"É mentira [que a empresa funcione num imóvel residencial]". Questionado
sobre os anúncios, disse: "São verdadeiros. Isso é da cabeça deles".
Segundo ele, os jornais são reais, impressos em rotativas. Para ele, a
reportagem tem interesse em investigar a Laujar pois o jornal seria
concorrente da empresa no ABC.
Procurada, a Secom reafirmou que, além de investigar o caso, suspendera a
publicidade em jornais antes da primeira reportagem sobre a
publicidade.
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