Preso em casa, José Dirceu influencia rumos do PT
'O que ele fala, a gente ouve', afirma deputado sobre ex-ministro José Dirceu |
Em prisão domiciliar desde novembro de 2014, o ex-ministro
José Dirceu tenta voltar à cena em articulações políticas com
integrantes do PT, que costumam visitá-lo. Mas se até então agia nos
bastidores sem ser incomodado, Dirceu voltou a virar notícia. Mais uma
vez, teve seu nome envolvido em investigações da Polícia Federal.
Condenado por corrupção no mensalão, Dirceu agora passou a ter os
negócios de sua empresa JD Consultoria devassados. A Justiça Federal do
Paraná quebrou o sigilo da JD por conta dos pagamentos que recebeu de
empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, que apura desvios na Petrobras.
Dirceu nega vinculação com a estatal.
Segundo petistas, Dirceu ainda desfruta da simpatia de correligionários e tem influência dentro do partido.
- Ele tem audiência dentro do PT. O que ele fala, a gente ouve - disse o
deputado Paulo Ferreira (PT-RS), um dos que tem visitado o ex-ministro.
Nessas conversas, Dirceu tem mostrado preocupação com os rumos do
partido e com a articulação política do governo Dilma. Integrante da
corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), ele
ficou contrariado, segundo pessoas próximas, com a reforma ministerial. A
CNB perdeu espaço no governo.
Nesta semana, a equipe de seu blog divulgou nota negando que ele esteja
exercendo atividade político-partidária: "Como tem direito qualquer
cidadão, ele recebe visitas de amigos e companheiros de décadas de
militância e luta. São visitas de solidariedade e apoio. Nelas discute
sua situação de condenado injustamente; a situação política do país; e
evidentemente o PT, partido a que dedicou a vida, e o governo ao qual
apoia".
CRÍTICA À POLÍTICA ECONÔMICA E A DILMA
Se a articulação política é discreta, José Dirceu não tem escondido as
críticas ao governo Dilma Rousseff. Expõe em seu blog o descontentamento
com as mais recentes medidas adotadas pelo Executivo. Na última
terça-feira (20.jan.2015), um dia depois de o Ministério da Fazenda
anunciar um pacote de aumento de impostos, o blog de Dirceu veiculou
críticas à política econômica. “Caminhamos assim — conscientemente,
espero, por parte do governo — para uma recessão com todas as suas
implicações sociais e políticas”, dizia.
Nesta semana, a insatisfação do PT, antes restrita aos bastidores, veio à
tona, com críticas públicas feitas pela Fundação Perseu Abramo, do
partido, e por um dos vice-presidentes da sigla, Alberto Cantalice. A
preocupação com a política econômica também esteve presente em reunião
da CNB na última segunda-feira (19.jan.2015).
— Discutimos que as medidas não podem gravar setores que historicamente
pagaram a conta das crises. A opinião média (na CNB) é que essas medidas
(correção da tabela do IR e aumento da Selic) não enfrentam os setores
rentistas — disse o deputado Paulo Ferreira.
JUSTIÇA: ‘TRABALHO HONESTO’
Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão no processo do mensalão, Dirceu
ficou 11 meses e 11 dias no Complexo Penitenciário da Papuda, no
Distrito Federal, e no Centro de Progressão Penitenciária. Agora em
regime domiciliar, tem que ficar em casa das 22h às 5h nos dias úteis e
todo o tempo nos fins de semana e feriados.
Ele tem dito a amigos que sua preocupação maior é reorganizar sua vida
pessoal. Por isso, já decidiu que irá morar definitivamente em Brasília,
sobretudo a partir do ano que vem, quando terá cumprido sua pena do
ponto de vista legal e poderá transitar livremente. Em São Paulo, ele
deixará apenas a casa em Vinhedo — mais por causa dos filhos do que para
uso pessoal.
Dirceu tem feito planos profissionais, segundo interlocutores. Já teria
decidido não atuar mais na área de assessoria empresarial. A ideia é
montar um escritório de advocacia. Ele é beneficiário de duas
aposentadorias, uma da Câmara e outra da Assembleia Legislativa de São
Paulo, e avalia que, com o trabalho de advogado, terá o suficiente para
se manter e à família.
No final do ano, quando passou para o regime domiciliar, a Justiça deu
prazo de 90 dias para que ele informasse vinculação a “trabalho honesto”
ou justificasse suas atividades. Dirceu tem até o início de fevereiro
para dar essa informação.
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