O verão dos ‘apaguinhos’
Queixas de falhas no fornecimento aumentam 68%.
Transtorno constante. Alessandra Castinheiras e o filho, Arthur Cezar, ficaram sem energia duas vezes na última semana: em casa, sem video game nem tablet para distrair do calor |
Os problemas no setor elétrico vão além dos que causaram o apagão em 11
estados e no Distrito Federal na última segunda-feira (19.jan.2015). Há
diversos “apaguinhos” sendo sentidos pelo Brasil. São falhas de
fornecimento que afetam ruas ou bairros por algumas horas e que
atormentam a vida da população. Em geral, as pequenas quedas de
eletricidade ocorrem por problemas na distribuição de energia, causada
pelo aumento do consumo neste verão sem o devido investimento das
empresas, e por problemas meteorológicos. E, ao que tudo indica, há mais
“apaguinhos” neste verão que em anos passados, segundo consumidores e
especialistas.
No site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), crescem as
queixas de consumidores. Nos primeiros 19 dias de janeiro foram
protocoladas 3.293 reclamações, número 68% acima do registrado em
dezembro de 2014 (1.955 reclamações) e mais de 10% de todo o ano
anterior, que somou 27.727 reclamações. Na média destes primeiros dias
de 2015, foram 173,3 reclamações diárias de falta de energia, contra a
média de 135,4 de janeiro de 2014, quando as reclamações em todo mês
chegaram a 4.197.
Ainda não existem estatísticas oficiais do setor sobre estas falhas
menores no fornecimento de energia — há uma defasagem de informações de
dois meses —, mas há indicativos de que o problema está se
intensificando. Algumas destas informações são calculadas pela própria
Aneel. No acumulado de 2014 até outubro, três regiões do país já haviam
superado o limite anual de duração de interrupções de fornecimento (DEC,
indicador que corresponde ao tempo médio, em horas, que cada residência
de uma área ficou sem energia): Sul, Centro-Oeste e Norte. No Sudeste e
no Nordeste o número estava muito próximo de ser ultrapassado. A média
nacional do indicador ficou em 14,29 em dez meses, contra o limite de
14,47 para todo o ano de 2014.
Assim como ocorreu com o apagão nacional, a falta de energia cada vez
mais se concentra no meio da tarde, novo pico de consumo com a onda de
calor e o aumento de aparelhos de ar-condicionado. Isso reforça a tese
de que há falhas na manutenção das redes, planejadas para outro tipo de
consumo. Ainda há falhas de fornecimento causadas por temporais. Mas
mesmo em locais onde não chove, os problemas ocorrem.
MEMÓRIA DA ESCASSEZ
Na década de 1950, as falhas no fornecimento de energia davam samba.
Marchinhas tratavam do tema no país que se industrializava em alta
velocidade. Depois, grandes obras, incluindo a maior hidrelétrica do
mundo, Itaipu, passaram a gerar energia farta e barata. Mas, a partir da
virada do século, a crise energética se abateu de vez sobre o Brasil.
Em 1999, o país viveu o que foi considerado seu maior apagão até então,
após um raio atingir uma subestação que atendia a Itaipu. Mas, de julho
de 2001 a setembro de 2002, o Brasil precisou entrar em racionamento em
razão da falta de investimentos, da alta do consumo e da seca
prolongada. A medida teve forte impacto na economia e na imagem do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que havia iniciado a
privatização do setor.
Desde então, evitar apagões e racionamento virou obsessão dos governos.
Mas as falhas voltaram a ocorrer. A maior foi em novembro de 2009,
quando um problema na linha de transmissão de Itaipu deixou 18 estados
no escuro. Em 2012, o Nordeste ficou diversas vezes sem luz, e um
blecaute atingiu o país em dezembro. Em fevereiro de 2014 e 19 de
janeiro deste ano novos apagões ocorreram. Os vilões foram picos de
consumo e falhas na transmissão, que substituíram o “raio” como o
culpado da vez.
BRASIL PERDERIA R$ 6 BILHÕES COM RACIONAMENTO DE ENERGIA
Situação teria impacto direto no Produto Interno Bruto.
Técnicos do governo chegaram a calcular, no ano passado, qual seria o impacto de um racionamento de energia, indicando um cenário desastroso para a economia do país. Essas contas apontaram um efeito imediato de perda de quase R$ 6 bilhões para a economia, sem considerar os efeitos indiretos. Esse número decorre do cálculo de uma eventual redução de carga na economia nacional, em torno de 10%. A conta é feita todos os anos e, em 2014, foi um dos parâmetros para avaliar a decisão de se adotar um racionamento. O resultado da conta também é importante para decisões de investimentos.
Situação teria impacto direto no Produto Interno Bruto.
Técnicos do governo chegaram a calcular, no ano passado, qual seria o impacto de um racionamento de energia, indicando um cenário desastroso para a economia do país. Essas contas apontaram um efeito imediato de perda de quase R$ 6 bilhões para a economia, sem considerar os efeitos indiretos. Esse número decorre do cálculo de uma eventual redução de carga na economia nacional, em torno de 10%. A conta é feita todos os anos e, em 2014, foi um dos parâmetros para avaliar a decisão de se adotar um racionamento. O resultado da conta também é importante para decisões de investimentos.
A escassez de energia elétrica no país pode ameaçar o esforço da nova
equipe econômica do governo Dilma Rousseff para trazer credibilidade às
contas públicas. Além de afetar perspectivas relativas ao crescimento do
país e à alta da inflação, um racionamento de energia neste ano
frustraria, ainda, as expectativas de arrecadação. Uma queda nas
receitas atrapalharia o plano de recuperar a credibilidade das contas
públicas — uma prioridade do time do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
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