Fundação do PT divulga boletim com críticas
à política econômica de Dilma
Texto diz que a presidente adota, no segundo mandato, estratégia ‘conservadora e ortodoxa’
Um dia depois de o Ministério da Fazenda anunciar um pacote de aumento
de impostos, a Fundação Perseu Abramo (FPA), do PT, divulgou um boletim
com análise de conjuntura na qual afirma que a presidente Dilma
Rousseff, no início deste segundo mandato, adota estratégia “bastante
conservadora e ortodoxa na política econômica”. O documento ainda coloca
em dúvida os efeitos do “ajuste recessivo” para alcançar os efeitos
desejados. A Fundação Perseu Abramo foi criada em 1996 pelo PT para
promover estudos e debates. Ela recebe pelo menos 20% dos recursos do
Fundo Partidário destinados ao PT, de acordo com a Lei dos Partidos
Políticos.
“O problema é que, diante da continuidade de um mundo em crise e da
desaceleração abrupta do mercado interno (último motor de crescimento da
economia nacional que ainda funcionava), a possibilidade desses ajustes
aprofundarem as tendências recessivas da economia nacional não é
desprezível”, afirma o texto.
O documento não é assinado. Procurada, a assessoria de imprensa da
fundação disse que ele foi escrito pelo economista Guilherme Mello, que
trabalha para a fundação. Mello é doutor em Economia pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de
Conjuntura da instituição. Economistas, Dilma, o ministro Aloizio
Mercadante (Casa Civil) e o presidente da fundação, Marcio Pochmann,
também passaram pela Unicamp.
O Boletim Diário de Conjuntura 236, divulgado, faz uma análise sobre o
pacote de aumento de impostos, que visa ampliar a arrecadação em R$ 20
bilhões; as mudanças de regras de benefícios sociais como o
seguro-desemprego, que devem significar um corte de R$ 18 bilhões; o
retorno de cobrança de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI)
sobre automóveis; e o corte de gastos correntes.
Segundo a análise feita pela fundação, o conjunto de medidas adotadas
pelo governo neste início do segundo mandato de Dilma “indica uma clara
inflexão na estratégia da política econômica”. Ainda de acordo com o
documento, o governo Dilma abandonou a agenda de incentivo à
competitividade das empresas, como desonerações tributárias.
A escolha de Joaquim Levy, de perfil mais liberal, para o Ministério da
Fazenda incomodou as alas mais à esquerda do PT. Ele colaborou com a
campanha do candidato do PSDB, Aécio Neves, para presidente da
República. Apesar do desconforto com as medidas impopulares, integrantes
da corrente majoritária petista afirmam que elas são necessárias e
lembram que o mesmo foi feito pelo ex-presidente Lula em seu primeiro
mandato, quando o ministro da Fazenda era Antonio Palocci.
— O PT é um partido democrático, tem várias opiniões, e não
necessariamente essa (da fundação) é a do conjunto do partido. Ele
(Levy) é um especialista em finanças públicas, se ele está defendendo
isso (aumento de imposto), é porque acha necessário para recompor o
caixa do governo — disse Alberto Cantalice, vice-presidente do PT.
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