Dólar sobe 13% ante real em 2014
Alta deve continuar em 2015
Apesar da forte e constante atuação do Banco Central, o dólar fechou
2014 em alta de quase 13% ante o real e deve continuar subindo no ano
que vem, com a expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos e
redução gradual da presença da autoridade monetária brasileira no
mercado cambial.
Foi o quarto ano seguido de valorização da moeda norte-americana, que
acumulou alta de 60% ante o real no primeiro mandato da presidente Dilma
Rousseff.
Nesta terça-feira, 30.dez.2014, último pregão regular do ano, contudo, o
dólar recuou 1,79%, a R$ 2,65 reais na venda, em meio a ajustes após a
escalada recente e ao baixo volume de negócios.
Em dezembro, a moeda norte-americana avançou 3,39%, no quarto mês
seguido de alta, e no trimestre acumulou alta de 8,61%. No ano, o avanço
foi de 12,78%.
A expectativa do mercado é que o dólar mantenha a trajetória de alta em
2015, mesmo com a divisa oscilando perto das máximas em quase dez anos.
O relatório Focus do BC mostrou na segunda-feira, 29.dez.2014, que
economistas de instituições financeiras passaram a projetar o dólar a R$
2,80 no fim de 2015.
“Esperamos uma valorização global do dólar, com a perspectiva de alta
dos juros nos Estados Unidos. É quase impossível imaginar um cenário em
que o real fique imune a isso”, afirmou a estrategista para mercados
emergentes do banco Jefferies em Nova York, Siobhan Morden.
Os últimos indicadores econômicos dos EUA têm reforçado a percepção de
que a recuperação norte-americana segue forte, apesar do fraco
crescimento de outras economias importantes, pavimentando o caminho para
uma alta dos juros que pode atrair para a maior economia do mundo
recursos aplicados em países como o Brasil.
No quadro interno, a expectativa é que o BC reduza gradualmente sua
atuação no mercado de câmbio, embora deva continuar atuando diariamente
no primeiro semestre de 2015.
O BC tem intervindo diariamente no câmbio desde agosto de 2013,
justamente quando o Federal Reserve, banco central norte-americano,
começou a sinalizar que pretendia reduzir seu programa de estímulos
monetários. Na época, a oferta diária era de 10 mil contratos de swaps
cambiais e o programa incluía também leilões semanais de venda de
dólares com compromisso de recompra, os chamados leilões de linha.
Em 2014, o BC reduziu sua presença no mercado, eliminando os leilões de
linha e passando a ofertar diariamente 4 mil swaps. Entre os agentes
financeiros, a expectativa é que, agora, o BC reduza as ofertas diárias
de swap e calibre as rolagens para garantir que o estoque desses
contratos não cresça muito, preparando o terreno para mais uma redução
nas atuações diárias.
O presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, já afirmou que o
BC continuará ofertando o equivalente a entre US$ 50 milhões e US$ 200
milhões em swaps cambiais por dia, mas não precisou ainda qual será o
montante. Ele também tem afirmado que o atual estoque de swaps, que
corresponde a pouco mais de US$ 100 bilhões, já dá conta da demanda por
proteção cambial.
“É natural que o dólar seja um pouco pressionado com o BC diminuindo as
ofertas de swap, mas ele já indicou que vai fazer isso de forma bastante
gradual”, disse o gerente de câmbio da corretora BGC, Francisco
Carvalho.
Nesta manhã (30.dez.2014), o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps
pelas atuações diárias, com volume correspondente a US$ 195,1 milhões.
Foram vendidos 550 contratos para 1º de setembro e 3,45 mil contratos
para 1º de dezembro de 2015.
Na véspera, a autoridade monetária também concluiu a rolagem dos swaps
que vencem em janeiro, movimentando praticamente todo o lote equivalente
a US$ 9,827 bilhões. Nos últimos quatro meses, o BC tem feito rolagens
praticamente integrais.
O plano do BC de reduzir as intervenções deve ser auxiliado pela melhora
da credibilidade fiscal do governo. O ministro indicado para a Fazenda,
Joaquim Levy, já disse que perseguirá em 2015 uma meta de superávit
primário equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e, nos anos
seguintes, buscará a redução da dívida bruta.
Essas promessas têm agradado os agentes financeiros, que criticam a
condução atual da política fiscal por ser excessivamente expansionista e
pouco transparente. Mas operadores ainda querem ver garantias de que
esse objetivo será cumprido, uma vez que a avaliação é que o caminho não
será fácil.
Na segunda-feira (29.dez.2014), o governo anunciou um pacote de ajustes
nas regras de acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários que
deve gerar economia anual de R$ 18 bilhões.
“O dólar vai subir, sem dúvida, mas um ajuste fiscal crível pode
amortecer a pressão”, disse o operador de câmbio da corretora B&T,
Marcos Trabbold.
Nesta sessão, o dólar chegou a cair quase 2,5%, a R$ 2,64, em um
movimento amplificado pela briga antes da formação da Ptax de dezembro. A
Ptax, que serve de referência para diversos contratos cambiais, fechou a
R$ 2,655 para compra e R$ 2,656 para venda.
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