7,2 milhões de pessoas convivem com a fome no Brasil
Segundo a pesquisa do IBGE, um em cada quatro lares brasileiros
ainda vivia em 2013 algum grau de insegurança alimentar
Mais de 7 milhões de brasileiros convivem com a fome,
constatou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
no Suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
divulgado na quinta-feira, 18.dez.2014. Segundo o documento, 7,2 milhões
de brasileiros moram em 2,1 milhões de domicílios onde pelo menos
uma pessoa passou um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro
para comprar comida, nos três meses anteriores à pesquisa. No termo
técnico, essas pessoas vivem em insegurança alimentar grave e são
3,6% do total de moradores em domicílios particulares (193,9
milhões).
Houve avanço em relação a 2009, quando 11,3 milhões de pessoas (5,8%
do total) vivam sob ameaça da fome - uma redução de 36%. A pesquisa
não revela quantas pessoas efetivamente passam fome no País. Em 2013
o IBGE investigou pela primeira vez a atitude das famílias diante da
falta de alimentos e não há comparação com outros anos.
Além disso, um em cada quatro lares brasileiros ainda vivia em 2013
algum grau de insegurança alimentar. A pesquisa mostra que, na
comparação com 2004, reduziu-se no ano passado o porcentual de
brasileiros que passavam fome ou estiveram perto disso. Também
cresceu no período a proporção de domicílios com acesso adequado aos
alimentos, em quantidade e qualidade. Chegaram a 50,5 milhões de
domicílios - mais de três quartos dos 65,3 milhões de residências.
Neles, moravam 149,4 milhões de pessoas, 74,2% dos habitantes do
País.
A pesquisa usou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA).
Ela considera em Segurança Alimentar (SA) um domicílio cujos
moradores, nos 90 dias anteriores à entrevista, tiveram acesso a
alimentos em qualidade e quantidade adequadas e não se sentiram na
iminência de sofrer restrição de alimentação. Em Insegurança
Alimentar Leve (IL) estão os lares nos quais, no período de
referência, foi detectada preocupação com a quantidade e qualidade
dos alimentos. A Insegurança Alimentar Moderada (IM) ocorre em
residências com restrição na quantidade de comida. E a Insegurança
Alimentar Grave (IG) acontece em domicílios nos quais faltam
alimentos, atingindo não só adultos, mas também crianças, podendo
chegar à fome.
"A redução (de 2004 a 2013) ocorreu no País como um todo, na
insegurança alimentar leve, moderada e grave", disse a pesquisadora
do IBGE Adriana Araújo Beringuy. "Quando é feita a análise
comparando as áreas urbana e rural, constata-se que a urbana segue o
padrão do País. No entanto, na área rural, caem as IAs moderada e
grave, mas a leve aumenta."
Aumento
A expansão de domicílios particulares em segurança
alimentar evoluiu de 65,1% (2004) para 69,8% (2009) e 77,4% (2013).
Das três formas de insegurança alimentar, a leve foi a única em que
houve aumento no período, de 18% em 2004 para 18,7% em 2009, mas no
ano passado caiu para 14,8%. Na moderada, o recuo foi de 9,9% para
6,5% e 4,6%. Na grave, situação que caracteriza a fome, a redução
foi de 6,9% para 5% e 3,2%. O IBGE constatou, porém, aumento na IA
leve na área rural de 19,5% para 21,4% dos lares (em 2009 e 2013).
Houve ainda nessas áreas recuo nas IAs moderada ou grave no período:
de 15,6% para 13,9%.
Os números da PNAD mostram que de 2009 para 2013 cresceu de 70,7%
para 79,5% o porcentual de lares brasileiros da área urbana em
segurança alimentar. Nas regiões rurais, houve queda de apenas 0,1
ponto: de 64,8% para 64,7%.
A pesquisa também constatou que eram perto de 52 milhões os
moradores do Brasil que, em 2013, viveram alguma forma de
insegurança alimentar - da preocupação com uma hipotética falta de
alimento à situação real de passar fome. Estavam em 14,7 milhões de
domicílios, 22,6% do total. Em IA leve, estavam 14,8% (9,6 milhões)
dos lares, com 34,5 milhões de habitantes e 17,1% a população. Em IA
moderada, havia 4,6% (3 milhões) das residências, onde moravam 10,3
milhões de pessoas, 5,1% dos moradores.
O recuo nacional em todas as formas de insegurança alimentar
ocorrido em 2013, porém, foi desigual. As Regiões Norte e Nordeste
apresentaram as maiores proporções dessas situações, respectivamente
de 36,1% e 38,1%. São porcentuais consideravelmente maiores dos que
foram registrados no Sudeste (14,5%), no Sul (14,9%) e no
Centro-Oeste (18,2%). Quando o foco é a insegurança alimentar grave,
que caracteriza situações de fome, nortistas e nordestinos têm as
maiores proporções: 6,7% re 5,6%. No Centro-Oeste, esse porcentual
chegou no ano passado a 2,3%; no Sudeste e no Sul, a 1,9%.
Nordeste
Apesar disso, foi entre os nordestinos que ocorreu o maior
aumento na segurança alimentar no período investigado. A PNAD
constatou que, de 2004 a 2013, a proporção de lares em situação de
segurança alimentar cresceu de 46,4 para 61,9% - 15,5 pontos
porcentuais. Depois de apresentar pequeno aumento no porcentual de
residências em SA de 2004 (68,8%) para 2009 (69,8%), o Centro-Oeste
registrou em 2013 81,8%. Foi um aumento de 12,1 pontos.
O Nordeste permaneceu no ano passado como a região com menor
proporção de domicílios em segurança alimentar. Quase metade (44,2%,
perto de um em cada dois) das residências em IA estava em 2013 em um
dos nove Estados nordestinos. É um porcentual bem maior do que a
proporção de domicílios particulares do País situadas neles: 26,2%,
um em cada quatro.
O IBGE também constatou que em 2013, em todas as regiões, a
proporção de domicílios em segurança alimentar era maior na região
urbana que na rural. Trata-se de uma mudança em relação a 2009,
quando no Sul e no Centro-Oeste o porcentual de domicílios em SA era
menor no meio urbano. No ano passado, a região com maior porcentual
de insegurança alimentar moderada ou grave (13,1%) na área urbana,
na comparação com as demais , foi a Norte. Na área rural, esse posto
ficou com o Nordeste: 20,1%.
"As prevalências de IA na área rural eram maiores que as verificadas
nas áreas urbanas", diz o estudo. "Em 2013, enquanto 6,8% dos
domicílios da área urbana tinham moradores em situação de IA
moderada ou grave, na área rural a proporção foi de 13,9%. Nos
domicílios particulares urbanos em IA moderada ou grave viviam 7,4%
da população urbana, enquanto nos rurais viviam 15,8% da população
rural."
São Paulo em terceiro lugar
Na comparação entre todas as Unidades
da Federação, São Paulo, Estado mais rico do País, fica em terceiro
lugar em segurança alimentar. De acordo com a pesquisa, 88,4% de
seus domicílios estavam nesta situação no ano passado. O primeiro
colocado no quesito era o Espírito Santo, com 89,6%, seguido de
Santa Catarina, com 88,9%. Com menos da metade de seus domicílios
com alimentação assegurada, Maranhão (39,1%) e Piauí (44,4%) ficaram
nas duas últimas posições. Mesmo assim, registraram no ano passado
aumento na SA, de 3,6 e 3,3 pontos, respectivamente.
Mesmo registrando avanços, todos os Estados nordestinos apresentaram
taxas de segurança alimentar inferiores aos 77,4% nacionais em 2013.
Com 74,1%, Pernambuco foi o Estado brasileiro que chegou mais perto
desse patamar. Na Região Norte, apenas um Estado apresentou
proporção de domicílios em SA acima da nacional. Foi Rondônia, com
78,4%.
Maioria das famílias que não têm comida já comprou fiado
Pesquisa do IBGE revelou que a prática é mais comum do que pedir
alimentos a vizinhos ou receber de instituições de caridade.
A maior parte das famílias que enfrentaram falta de alimento
em 2013 tentou resolver a dificuldade comprando fiado. De acordo com
pesquisa sobre segurança alimentar do brasileiro divulgada na
quinta-feira, 18.dez.2014, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 43,3% das famílias recorreram à medida. A
segunda estratégia mais adotada foi pedir alimentos emprestados a
outras pessoas. Em menor incidência, houve quem tenha deixado de
comprar alimentos supérfluos, tomado dinheiro emprestado, recebido
doações ou reduzido o consumo de carnes.
O suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
mostrou que 7,2 milhões de pessoas no País convivem com a fome no
País. Elas moram em 2,1 milhões de domicílios onde pelo menos uma
pessoa passou um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para
comprar comida nos três meses anteriores à pesquisa.
No termo técnico, essas pessoas vivem em insegurança alimentar grave
e são 3,6% do total de 193,9 milhões de moradores residentes em
domicílios particulares. Houve avanço em relação a 2009, quando 11,3
milhões de pessoas (5,8% do total) viviam sob ameaça da fome - uma
redução de 36%. A pesquisa não revela quantas pessoas efetivamente
passam fome no País. Em 2013 o IBGE investigou pela primeira vez a
atitude das famílias diante da falta de alimentos e não há
comparação com outros anos.
Presente à divulgação da pesquisa, o secretário de Avaliação e
Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS), demógrafo Paulo Jannuzzi, disse que grande
parte das pessoas que vivem em insegurança alimentar grave está em
áreas de difícil acesso e de extrema pobreza do Norte e Nordeste.
"Povos isolados da região Norte e de bolsões de pobreza no Nordeste
já estão sendo objeto de ações específicas, mas outras ações
precisarão ser deflagradas para garantir que tenham acesso a
alimentos. A distribuição de cestas básicas é uma das estratégias de
que o governo se vale, pela dificuldade de produção nas próprias
comunidades. Procuramos identificar população quilombola, índios,
ribeirinhos, povos da floresta. É uma estratégia que ainda tem que
persistir, com seus desafios, inclusive pelo isolamento de muitas
comunidades", afirmou.
Jannuzzi considerou positivo que a maioria das famílias recorra à
compra fiado para resolver o problema. Para o secretário, é um
indicativo de que elas têm crédito no mercado, graças a programas
sociais: "Recorrer à compra fiado revela o sucesso da estratégia do
governo brasileiro em fazer a ampliação dos programas de
transferência de renda para a população mais pobre. Exatamente no
Norte e no Nordeste é que se recorre mais à prática, porque eles têm
crédito na praça. O cartão do Bolsa Família garante ao comerciante
que aquela dívida será honrada. É revelador que um menor número de
famílias peça a vizinhos, como era a estratégia há dez ou quinze
anos, ou recorria a entidades religiosas. Muitas dessas famílias
preferiram comprar fiado do que deixar de comer carne ou frutas",
destacou.
O representante do MDS fez questão de esclarecer que a informação de
que 7,2 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar grave não
significa que todas passem fome: "Não é correto dizer que temos sete
milhões de pessoas que passam fome. São pessoas residentes em
domicílios onde foi reportado que pelo menos um indivíduo deixou de
se alimentar propriamente e passou fome nos últimos três meses. Dos
52 milhões que vivem em algum grau de insegurança, 34 milhões vivem
em domicílios onde há preocupação de que venha a faltar alimento.
Não estão passando fome de modo algum", afirmou o secretário.
É considerada insegurança alimentar leve a situação em que a família
tem preocupação ou incerteza quando à disponibilidade de alimentos
no futuro. A insegurança média refere-se à família onde houve
redução da quantidade de alimentos entre os adultos.
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