Petrobrás ligou 228 vezes para Costa depois que ele deixou estatal, indica investigação
Segundo os dados, as ligações partiram
de oito números em nome da Petrobrás no Rio, sede da estatal, Salvador e
Macaé, para dois números de Costa no Rio e na cidade do interior
fluminense
O ex-diretor cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro desde quarta-feira, 01.out.2014, como parte de um acordo de delação premiada |
Acusado de comandar um esquema de corrupção na Petrobrás, Paulo Roberto
Costa manteve frequentes contatos com a estatal mesmo após deixar o
cargo de diretor de Abastecimento, em 27 de abril de 2012, conforme
indicam dados das quebras de seu sigilo telefônico.
Mesmo sem vínculo formal, Costa recebeu ao menos 228 ligações de
telefones da companhia entre maio daquele ano e 20 de março de 2014,
quando foi preso pela Polícia Federal, durante a Operação Lava Jato. De
um ramal da companhia em Macaé (RJ), foi feita, no dia da prisão, uma
ligação de 14 minutos.
Segundo os dados, obtidos pela reportagem, as ligações partiram de oito
números em nome da Petrobrás no Rio de Janeiro, sede da estatal, em
Salvador e em Macaé, para dois números de Costa no Rio e na cidade do
interior fluminense.
O ex-diretor cumpre prisão domiciliar no Rio desde quarta-feira
(01.out.2014), como parte de um acordo de delação premiada. Em troca de
redução de pena, ele deu detalhes do esquema de corrupção na Petrobrás e
aceitou devolver recursos recebidos de forma ilícita no exterior. À PF e
ao Ministério Público Federal (MPF), Costa admitiu ter recebido propina
na compra, pela estatal, da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e
afirmou que fornecedores da petrolífera pagavam “comissão” para
conseguir contratos arranjados.
A maioria dos telefonemas listados nas quebras de sigilo foi feita da
Petrobrás em Macaé, onde a companhia mantém plataformas de extração de
petróleo. O Estado telefonou para todos os números da estatal indicados
nos documentos, mas na maioria dos casos as ligações não se completaram.
As identificadas foram feitas de telefones gerais, como Central de
Atendimento da estatal, e do setor de Exploração e Produção da Petrobrás
no Rio.
Os relatórios listam ainda 16 telefonemas da Petros, fundo de pensão dos
funcionários da Petrobrás, feitos para o genro de Costa, Márcio
Lewkowicz. O número de origem é geral, da portaria da sede da Petros.
A reportagem enviou os números relacionados nos documentos para a
Petrobrás, que não respondeu, até esta edição ser concluída, aos
questionamentos sobre quais são os usuários dos ramais e a quais
departamentos eles pertencem.
Sob elogios. Costa renunciou à Diretoria de Abastecimento da
Petrobrás em 27 de abril de 2012, sob elogios do Conselho de
Administração, que destacou seus “relevantes serviços prestados à
companhia”. Em seguida, abriu empresas que, segundo a Polícia Federal,
eram usadas para desvio de recursos da petrolífera.
Em delação premiada, após ser preso pela PF, Costa contou que um
consórcio de empresas obteve contratos na Petrobrás mediante o pagamento
de 3% sobre os negócios. Parte deste dinheiro era repassada a
políticos, segundo os depoimentos. Os recursos eram lavados pelo doleiro
Alberto Youssef, acusado de operar um esquema que teria movimentado R$
10 bilhões.
Como noticiou-se em 16 de setembro, o doleiro também recebeu ligações da
Petrobrás. Elas partiram de um celular corporativo da empresa, que se
nega, desde então, a identificar o histórico de usuários da linha.
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