No governo do PT, os fins justificam meios
Aparelhos atuam nas eleições e na corrupção
Ricardo Noblat |
Prestes a completar 12 anos de Planalto, o PT, ou facções dele, vê-se
envolvido em alguns casos emblemáticos de uma característica relevante
desse longo período no poder, a montagem de aparelhos do partido na
máquina pública.
A invejável disciplina e o empenho petistas na defesa da visão de mundo
do partido se refletem no exercício do perigoso princípio de que “os
fins justificam os meios”. Com este pano de fundo é que foi engendrado o
mensalão, abastecido com dinheiro público desviado sem pudores para
comprar apoio político-parlamentar ao primeiro governo Lula.
Os últimos meses têm sido férteis em casos nada abonadores derivados da
atuação de aparelhos petistas. O que operou desde o primeiro governo
Lula na Petrobras, num conluio entre sindicalistas, políticos e
empreiteiros, apenas começa a ser conhecido com vazamentos de partes de
longos depoimentos prestados sob acordo de delação premiada pelo
ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa.
O doleiro desse e outros esquemas, Alberto Youssef, fez o mesmo acordo
com a Justiça e deve contribuir com informações também esclarecedoras
deste que talvez seja o maior escândalo, em cifras, dos últimos tempos.
Soube-se há pouco da atuação enviesada dos Correios, em Minas, para
privilegiar as candidaturas de Dilma e de Fernando Pimentel, esta ao
governo do estado, na distribuição de peças de propaganda eleitoral.
Desvendada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, a história também é
exemplar da atuação de aparelhos petistas, cujo resultado é a
“privatização” dessas estatais por interesses partidários. E, como a
eleição presidencial tem sido a mais dura enfrentada pelo PT desde a
vitória de Lula em 2002, todo este aparato de militantes instalados
dentro da máquina do Estado — funcionários concursados ou não — trabalha
nestes dias com empenho extra. Há muita coisa em jogo nas urnas — além
do poder em si, empregos e dinheiro.
Na mesma linha dos golpes dados na Petrobras, há o uso criminoso de
fundos de pensão de funcionários de empresas públicas, em altas
negociatas, diante do silêncio do braço sindical petista e, por tabela,
dos funcionários.
O próprio Youssef e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, são citados
em investigações sobre malfeitos com dinheiro da Petros, fundo dos
empregados da Petrobras, e da Postalis, não por acaso o fundo dos
Correios. Há várias operações de que resultam prejuízos para os fundos
e, claro, lucros para os operadores.
Pouco ou nada se sabe de reclamações contra esses virtuais assaltos aos
fundos. Talvez o silêncio se explique por alguma estranha solidariedade
ideológica. Na Petrobras, há quem não critique a gestão no mínimo
temerária de José Sérgio Gabrielli, em cuja administração Paulo Roberto
fez a festa, por considerá-lo um “nacionalista”. Mais uma vez, fins
justificam meios.
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