Meu livro, minha vida
Dilma decora as respostas para todos os
temas do debate, mas gosta de levar uma enorme apostila com suas
anotações sobre cada assunto
Tal qual uma prova de vestibular, a presidente Dilma Rousseff se prepara
para os debates eleitorais na TV decorando todos os temas que podem vir
a cair na prova".
Nos confrontos televisivos, a presidente passou a carregar uma apostila
debaixo do braço. O calhamaço, de quase 90 páginas, é levado para o
púlpito com tanta frequência que assessores já o apelidaram de "Bíblia".
Outros preferem o termo "cola".
"E a Bíblia vai crescendo a cada debate", brinca um auxiliar da
presidente. O documento traz um conjunto de perguntas e respostas sobre
os temas que podem ser tratados nos embates com os rivais, além de
anotações de próprio punho da candidata.
No último debate da TV Globo antes do primeiro turno das eleições, no dia 2 de outubro, a "cola" desfilou na mão da petista.
Para assessores, a apostila com dados de programas do governo e perfis
de perguntas se destacou por conta do modelo do debate. Diferentemente
dos anteriores, em que os candidatos permaneciam atrás de púlpitos, o da
TV Globo obrigava o participante a se levantar e dirigir-se para o
centro do palco toda vez que era chamado para falar.
Se para a presidente a "Bíblia" funciona como um porto seguro na hora de
enfrentar os adversários, para alguns de seus principais auxiliares o
objeto acaba aprisionando a candidata.
Um interlocutor afirmou que, por vezes, a chefe tenta decorar dados, o
que a faz perder a oportunidade de rebater seus rivais em temas que
domina de forma mais livre.
No livro há ainda sugestões de réplicas e abordagens mordazes que ressaltam algumas fragilidades do adversário.
Segundo assessores, as páginas são atualizadas com dados que surgem a
cada semana. Exemplo: se um novo escândalo envolvendo desvios na
Petrobras aparece, há novas anotações de réplicas no quesito corrupção.
Apesar da ajuda para as horas de "branco", assessores querem a
aposentadoria da "cola". Isso porque, após o debate da TV Globo,
monitoramento das redes sociais mostrou uma repercussão negativa por
parte dos eleitores. A cola foi vista como sinal de fraqueza e falta de
domínio sobre os assuntos.
Tensão
Na véspera de cada um dos quatro debates do primeiro turno, Dilma
repassou exaustivamente com coordenadores de sua campanha todos os dados
de governo passíveis de serem explorados tanto por ela quanto por
concorrentes. Os números são checados pela assessora Sandra Brandão,
apelidada de "Google de Dilma" pela função de ser uma espécie de memória
auxiliar da presidente.
Nas reuniões, no Palácio da Alvorada ou em hotéis onde a petista se
hospeda no dia do debate, Dilma passa por um treinamento: ministros
fazem às vezes de mediador'' e cronometram perguntas e respostas. Nessas
ocasiões, os momentos são descritos como de muita tensão.
A "Bíblia" ainda não resolveu um dos pontos fracos da candidata nos
debates: ela costuma extrapolar o tempo para concluir suas falas.
Nesta eleição, Dilma dispensou o treinamento de Olga Curado,
especialista em linguagem corporal que ajuda candidatos a se expressarem
melhor. Olga foi rapidamente contratada por Aécio, que passou a modular
o tom de voz, normalmente carregado de tom grave ao final de cada
frase, e tem se esforçado para aparecer mais solto diante das câmeras.
"Não podíamos ter perdido a Olga. Ela sabe as fragilidades de Dilma", avalia um coordenador petista.
Aécio também leva 'cola' para os estúdios
Poucas pessoas participam da preparação do candidato do PSDB à
Presidência, Aécio Neves, para os debates. Um grupo de no máximo cinco
jornalistas se isola com o tucano, num processo que leva ao menos dois
dias de trabalho.
Além de dados do governo federal e da gestão do tucano em Minas, a
equipe de Aécio tenta simular, com base em assuntos explorados pela
imprensa, nos discursos dos adversários e na propaganda eleitoral,
perguntas a que ele terá que responder.
Definido como um político "instintivo", Aécio dá pitacos e não segue receitas prontas para respostas.
A equipe do candidato também reúne informações, separadas por tema e
área, em um livro, que Aécio leva para os estúdios de TV. Ele, no
entanto, não usa a "colinha" durante os embates.
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