Ex-diretor da Petrobras atuou para candidato do PT ao governo do Rio
Paulo Roberto Costa recebeu de Lindbergh Farias a missão de captar doações de empreiteiras
Petista disse que Costa tratou com sua campanha da elaboração do programa de governo
Petista disse que Costa tratou com sua campanha da elaboração do programa de governo
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa trabalhou para o senador
Lindbergh Farias (PT) na eleição deste ano para o governo do Rio e
recebeu como uma de suas incumbências pedir doações a empreiteiras em
nome do candidato.
Trata-se do primeiro caso concreto da participação de Costa numa campanha política do PT com a tarefa de arrecadar recursos.
Costa e o doleiro Alberto Youssef fizeram acordo de delação premiada e
prestaram depoimento à Justiça Federal na quarta-feira (08.out.2014).
Deflagrada em março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato investiga
esquema de lavagem que teria movimentado R$ 10 bilhões. Segundo a PF, uma "organização criminosa" atuava na Petrobras.
Nos depoimentos, os dois disseram que o tesoureiro nacional do PT, João
Vaccari Neto, intermediava os recursos desviados de obras da estatal
para o partido. Na citação a Vaccari, contudo, eles não fizeram menção a
campanhas políticas.
Na operação, a PF apreendeu na casa de Costa uma planilha manuscrita com
os nomes de empresas, a maioria empreiteiras que prestam serviços para a
Petrobras. Na planilha, havia anotações sobre a colaboração para uma
campanha, mas sem menção ao nome do político.
No depoimento de quarta-feira, Costa foi questionado pelas autoridades
sobre do que se tratava a planilha apreendida em sua casa. Ele contou
que, no início deste ano, foi procurado por um candidato ao governo do
Rio. Pelo acordo de delação, Costa não podia mencionar nomes de
políticos com foro privilegiado no depoimento da quarta-feira.
A reportagem apurou que Costa se referia a Lindbergh. Por meio de sua
assessoria, o petista confirmou que Costa participou de três reuniões de
sua campanha, mas, segundo ele, somente para tratar da elaboração do
programa de governo na área de óleo e gás.
No depoimento, Costa realmente disse que foi procurado por um candidato
para participar de seu programa de governo na área de energia. Contudo, o
ex-diretor da Petrobras informou que, numa das reuniões, foi lhe
entregue uma lista com o nome de empreiteiras que poderiam contribuir.
"Eu participei eu acho que de umas três reuniões com esse candidato lá
do Rio de Janeiro, como outras pessoas também participaram. E foi
listada uma série de empresas que podiam contribuir com a campanha para o
cargo político que ele estava concorrendo. E essa planilha foi, então,
encontrada na minha casa", disse Costa.
Num primeiro momento, Costa negou que houvesse sido procurado para
intermediar contribuições. Mas logo em seguida disse que recebeu um
pedido para que fizesse contato com as empresas. "Foi solicitado que
houvesse a possibilidade de que essas empresas participassem da
campanha. Foi isso, era uma candidatura para o Rio."
PLANILHA
Na planilha apreendida na casa do ex-diretor da Petrobras, havia
anotações sobre como seis empresas vinham se comportando em relação a
contribuições para a campanha: Mendes Júnior, UTC/Constran, Engevix,
Iesa, Hope RH e Toyo/Cetal. Em três casos (UTC/Constran, Engevix e
Hope), há menção de que as empresas iriam colaborar ou aumentar a
contribuição a pedido de "PR", iniciais de Paulo Roberto Costa.
No pé da planilha, há também a anotação do nome Garreta, precedido de um
asterisco. A OAS aparece também precedida de um asterisco.
O marqueteiro Valdemir Garreta, que há anos trabalha para campanhas de
petistas, foi contratado por Lindbergh para cuidar da produção de sua
campanha na TV e para prestar assessoria de imprensa. Segundo a
reportagem apurou, a empresa de Garreta também presta assessoria à
construtora OAS.
No depoimento, Costa mencionou os nomes das empresas com as quais mantinha contato.
"Ele me contratou para fazer o programa de energia e de infraestrutura.
Listou uma série de empresas, algumas que eu tinha contato, outras não.
Hope RH, eu nunca tive contato. Mendes Júnior conheço, UTC conheço,
Constran nunca tive contato, Engevix conheço, Iesa conheço, Toyo Setal
conheço."
OUTRO LADO
Senador petista nega ter pedido ajuda financeira
O senador Lindbergh Farias, candidato derrotado ao governo do Rio pelo
PT na eleição deste ano, confirmou por meio de sua assessoria que o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa participou da preparação de
seu programa de governo. Lindbergh negou, contudo, que Costa tenha
participado da captação de doações.
"Em janeiro de 2014, Paulo Roberto Costa esteve em três reuniões de
preparação do programa de governo. Nessas ocasiões, tão somente discutiu
com especialistas propostas para a área em que detinha conhecimento, a
de óleo e gás", afirmou a assessoria de Lindbergh. "Não se pode
confundir isso com as atividades ilícitas do ex-diretor posteriormente
reveladas pela chamada Operação Lava Jato."
Procurada pela reportagem, a Mendes Júnior não se manifestou. A Hope RH
informou que não fez doação para a campanha de Lindbergh. A Engevix
informou que, "irá contribuir com as investigações, prestando todos os
esclarecimentos necessários".
"Todas as contribuições eleitorais da UTC são feitas dentro dos limites estabelecidos e na forma da lei", informou a empresa.
A reportagem não conseguiu contato com a Iesa e com a Toyo/Cetal. Em sua
prestação de contas à Justiça eleitoral, não há doações diretas dessas
empresas para Lindbergh.
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