Perdas inegáveis
Dora Kramer |
A menos que a presidente Dilma Rousseff saia em disparada nas últimas
pesquisas antes do primeiro turno, esta agora terá sido a eleição em que
o candidato com o maior índice de intenções de voto apresenta a menor
vantagem em relação ao principal adversário.
O instituto Datafolha levantou os dados dos desempenhos dos candidatos
de 1994 para cá, comparando as pesquisas feitas a uma semana do dia da
primeira votação. Fernando Henrique Cardoso, há 20 anos, tinha 47%
contra 23% de Luiz Inácio da Silva, mais que o dobro; venceu na primeira
rodada por 54% a 27%.
Quatro anos depois, a pesquisa registrava proporção semelhante: 46% a
25%; FHC ganhou no primeiro turno por 53% a 31%. A partir de 2002 as
disputas ficariam mais difíceis e todas seriam decididas no segundo
turno. Naquele ano, Lula aparecia na pesquisa com 45% contra 21% de José
Serra, 24 pontos de diferença; na simulação de segundo turno, a
distância era de 22 pontos (57% a 35%). O resultado, Lula 61% e Serra
38%.
Em 2006, as pesquisas registravam uma redução da vantagem no primeiro
turno com 49% para Lula e 31% para Geraldo Alckmin, 18 pontos. A
simulação do segundo apontava a recuperação do petista (54% a 39%,
diferença de 15 pontos) confirmada com folga pelo resultado das urnas,
60% Lula e 38% Alckmin.
Na eleição seguinte, Lula no auge da popularidade, governo com aprovação
altíssima, a candidata Dilma Rousseff aparecia nas pesquisas uma semana
antes da eleição com 46% contra 28% de José Serra; 18 pontos de
diferença. Na simulação da segunda etapa a distância entre os dois era
de 13 pontos (52% a 39%). Dilma ganhou por 12:56% a 44%.
As pesquisas desta semana é que vão permitir a conferência precisa da
situação atual comparativamente aos dados acima. Mas, considerando os
números mais recentes a margem é consideravelmente mais estreita: no
primeiro turno Dilma tem vantagem de 13 pontos em relação a Marina (40% a
27%) e no segundo, inéditos 4 (47% a 43%).
A menos que as pesquisas finais que começam a sair hoje mostrem que o
Brasil resolveu cair de amores pela presidente Dilma Rousseff, os
números mostram como nunca foi tão estreita a margem de manobra para o
governo do PT.
Está aí em parte explicado o recurso aos ataques ferozes à segunda
colocada, arma em geral evitada por candidatos em situação razoavelmente
confortável nas disputas, dado o alto risco de haver uma espécie de
efeito bumerangue. Não havia outro jeito. Ou a campanha abatia Marina
Silva ou entregava de bandeja a Presidência.
Mesmo com a perda já significativa de pontos da candidata do PSB,
principalmente nos maiores colégios eleitorais, o ambiente no PT está
longe de ser de serenidade e bom humor. No comitê central, em Brasília, a
atmosfera está mais para manifestações de junho que para Copa do Mundo.
Na verdade o clima é tenso em todas as campanhas. O PSB teme o
derretimento de última hora e no campo dos tucanos o inconformismo é com
a confirmação da eliminação precoce pela primeira vez em 20 anos.
De um lado governar com muito menos, de outros fazer oposição com menos ainda.
Corpo mole
Compreende-se que o PSDB tenha investido pesado no Sudeste a fim de
tentar tirar nos maiores colégios eleitorais a diferença da vantagem que
o PT tem o Nordeste. O que não é compreensível é o desempenho de nanico
que o partido apresenta na região.
Em redutos de aliados fortes. No Ceará, onde Tasso Jereissati será
eleito, o senador Aécio Neves tem 7% na última pesquisa do Datafolha. No
Rio Grande do Norte, terra de Agripino Maia, coordenador da campanha, o
Ibope registra 11% para Aécio. Mesmo índice na Paraíba, onde o senador
tucano Cássio Cunha Lima está em primeiro lugar para governador.
Os mesmos 11% o candidato do PSDB tem na Bahia, a despeito de o
candidato ao governo Paulo Souto (DEM), seu aliado, estar cotado para
vencer no primeiro turno.
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