Bateram a carteira dos acionistas
da Petrobras
Murillo de Aragão |
Imagine um mamute amarelo tocando corneta e fugindo com um cofre na
cabeça. É uma cena extravagante e implausível. Mas é mais ou menos o
que ocorreu com a Petrobras. Bateram a carteira da empresa e de seus
acionistas. Na cara dura, desviaram cerca de R$ 4 bilhões. É o que
apontam as denúncias de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa.
Como é possível que isso possa acontecer com uma empresa de capital
aberto, a maior da América Latina, listada nas bolsas de São Paulo e
Nova York, submetida a auditorias internas e externas e, ainda,
certificada por, em tese, normas de governança e antifraude SOX (Lei
Sarbane-Oxley)?
Espera-se que a Petrobras, além de auditorias internas, seja
submetida a auditorias externas que visem coibir fraudes,
superfaturamento, quebra de sigilo de informações, entre outros
malfeitos. Espera-se, ainda, que a empresa não tenha apenas um
controle de seus processos de decisão, de gastos e de pagamentos:
mas dois ou três. E que tudo seja operado em um ambiente de muita
transparência e rigor.
Espera-se também que tenha sistemas de gestão que minimizem a
ocorrência de desvios e que, para usar uma linguagem de
administração, “parametrizem” as alçadas e assegurem uma governança
de alta qualidade. Nada disso aconteceu. Enganaram os investidores.
Burlaram as regras. E não se deram conta do que ainda pode
acontecer.
As consequências não vão ficar apenas aqui, no Brasil, nas esferas
política, policial, jurídica, legislativa, e na do Tribunal de
Contas. O escândalo terá repercussões no mundo dos negócios e
chegará às Cortes americanas. Neste momento, a SEC (Comissão de
Valores Mobiliários dos Estados Unidos) já está investigando o que
aconteceu. Suas conclusões vão chegar ao Department of Justice.
Pessoas e a empresa podem sofrer punições.
Empresas que operam na bolsa de Nova York devem respeito às leis de
lá também. Penso que os membros do Conselho de Administração da
Petrobras são responsáveis perante as autoridades americanas. De
quebra, estão ainda submetidos ao Foreign Corrupt Practices Act, que
visa coibir situações de corrupção. Imaginem a confusão em que os
conselheiros e diretores da empresa estão metidos?
Para piorar, algumas das falcatruas foram praticadas em solo
americano, caso da venda da refinaria de Pasadena. Além disso, a
Petrobras opera outros interesses nos Estados Unidos. Difícil
acreditar que o mamute amarelo vai passar impunemente pelo
escrutínio das autoridades americanas. Por mais que a arena política
se proteja da questão, o escândalo atingiu mortalmente a
credibilidade da empresa perante investidores no país e fora dele. E
isso não vai ficar assim.
Plataforma de petróleo ‘off-shore’ da Petrobras |
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