Ação contra economista que criticou o BC é incompatível com democracia, dizem economistas em manifesto
O ANALISTA - Schwartsman fez “críticas contundentes, mas sem ultrapassar os limites da liberdade de expressão”, disse a juíza |
Na noite de segunda-feira, 8 de setembro, mais de 40 economistas já haviam assinado uma petição on-line
em favor de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, que foi
alvo de uma queixa-crime movida pela autoridade monetária. Reportagem de VEJA
revelou como a instituição se movimentou para levar à Justiça o
economista depois que ele desferiu críticas contra a condução da
política monetária em entrevistas à imprensa. "A intolerância com a
divergência e com a crítica ácida e o recurso da máquina pública para
suprimir o contraditório (...) configuram uma prática incompatível com
os valores que uma democracia deve ter e cultivar", relata o manifesto.
A lista de economistas conta com os nomes mais graduados da academia e
do mercado: Claudio Haddad, Marcos Lisboa, Affonso Pastore, Elena
Landau, Luiz Fernando Figueiredo, Gustavo Franco, José Roberto Mendonça
de Barros e José Roberto Afonso. Também assinaram seis representantes de
equipes econômicas de presidenciáveis: André Lara Resende, Eduardo
Giannetti da Fonseca e Alexandre Rands, que estão com Marina Silva
(PSB); e Armínio Fraga, Mansueto de Almeida e Samuel Pessôa, do grupo de
Aécio Neves (PSDB).
Difamação ou opinião? A reportagem de VEJA teve acesso ao
conteúdo da queixa-crime, que aponta as entrevistas consideradas pelo BC
como "difamatórias". Em uma delas, publicada pelo Brasil Econômico de
27 de janeiro, o economista disse que “o BC é subserviente e submete-se
às determinações do Planalto” e “é só olhar para a gestão do BC para
saber que é temerária”. Em outra entrevista, ao Correio Braziliense,
Schwartsman declarou que “o BC faz um trabalho porco e, com isso, a
incerteza aumentou”.
Segundo o procurador-geral do BC, Isaac Sidney Ferreira, os comentários
eram ofensivos à imagem da instituição. Contudo, a juíza federal Adriana
Delboni Taricco rejeitou a queixa-crime. Na sua avaliação, as críticas
“de fato se mostraram bastante contundentes, porém faz-se necessário
salientar que não ultrapassaram os limites do mero exercício de sua
liberdade de expressão”. O BC não desconsidera recorrer da decisão.
Depois de deixar a diretoria Internacional do BC, em 2006, Alexandre
Schwartsman assumiu como economista-chefe do banco Real, que depois foi
adquirido pelo Santander. Mas deixou o banco em 2011, semanas depois de
discutir com o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
Durante um evento da Firjan, o economista criticou publicamente o
governo por usar a estatal como ferramenta política e de 'contabilidade
criativa' para ajudar o Tesouro a cumprir o superávit primário. Sabe-se,
hoje, que não só Schwartsman estava coberto de razão, como a estatal
pode ter sido usada para fins ainda menos éticos. Reportagem de VEJA
revela informações sigilosas contidas no depoimento do ex-diretor Paulo
Roberto Costa à Polícia Federal sobre o esquema de pagamento de propina
a partidos políticos da base governista, por meio de contratos com a
Petrobras.
É moda — O cerco em torno de analistas que criticam o governo
apertou nos últimos meses, quando houve o incidente com o banco
Santander e a consultoria Empiricus. No final de julho, quatro funcionários
do banco espanhol foram demitidos depois que uma análise prevendo
período de crise para o Brasil na hipótese de reeleição de Dilma foi
disparada a clientes pessoa física. Em seguida, o PT protocolou uma representação
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a consultoria Empiricus,
que anunciava no Google uma série de relatórios prevendo solavancos
econômicos se Dilma vencer a corrida eleitoral. À época, a candidata
estava em primeiro lugar nas pesquisas, com possibilidade de vitória no
primeiro turno.
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