terça-feira, 8 de julho de 2014


Executivo de empresa que vende ingressos da Fifa é preso acusado de chefiar quadrilha
Encontrado no Copacabana Palace, diretor-executivo da Match, Raymond Whelan, nega envolvimento com Fofana

Raymond  Whelan  (ao centro)

Apontado pela Polícia Civil como chefe de uma quadrilha internacional de cambistas, o diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, de 64 anos, foi preso quando tomava um cafezinho no saguão do Hotel Copacabana Palace. Aparentemente surpreso, o britânico negou qualquer ligação com o argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana, preso semana passada sob acusação de integrar um esquema de venda ilegal de ingressos para a Copa.
Whelan, que estava vivendo no país há dois anos, não explicou, contudo, porque o número de seu aparelho celular, cedido pela Fifa, aparecia na memória do telefone de Fofana com o nome de Ray Brasil. As investigações mostram que o franco-argelino trocou em torno de 900 telefonemas e mensagens de texto com Whelan, que seria o responsável pelo repasse de parte dos ingressos negociados no mercado paralelo por Fofana.
A ação faz parte da investigação que já havia prendido 11 pessoas, inclusive Fofana. Acusado de cambismo e formação de quadrilha, Whelan teve a prisão preventiva decretada pela Justiça com base no Estatuto do Torcedor. A pena prevista chega a 4 anos de reclusão, mas pode ser aumentada quando o acusado trabalha em empresa de venda de ingressos. Ele foi levado para a 18ª DP (Praça da Bandeira). Depois de prestar depoimento, deve ser levado ao Complexo de Gericinó, em Bangu.
De acordo com o inspetor Vicente Barroso, que acompanhou a prisão do britânico, o executivo estava hospedado no 5º andar do Copacabana Palace, juntamente com integrantes do alto escalão da Fifa. Na suíte do estrangeiro, os policiais apreenderam US$ 1,3 mil, aparelhos celulares, cem ingressos (inclusive para a final), um computador e documentos que serão analisados.
— Já solicitamos todas as imagens do circuito interno do hotel desde o início da Copa e talvez venhamos também a solicitar as ligações feitas a partir da suíte do britânico. O objetivo é reunir elementos que provem a ligação do suspeito com Fofana e outros integrantes do grupo — disse o inspetor.

O delegado Fábio Barucke, titular da 18ª DP e responsável pelo caso, bem como o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal, acompanharam a ação no hotel. O inglês foi retirado pela porta dos fundos.
O secretário-geral da Fifa, Jéròme Valcke disse que soube da prisão de Whelan pelo departamento de comunicação da entidade. Valcke saiu do Hotel Sofitel, em Copacabana, com alguns papéis na mão e cercado de seguranças. Quinze minutos depois, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, também deixou o Sofitel, mas não quis comentar a prisão do executivo da Match.
— Cavalheiros, acabei de participar do Football for Hope (torneio de futebol para jovens no Caju). Foi maravilhoso. Vamos falar só de futebol — disse, ao deixar o hotel.
O site da Fifa diz que a Match era a encarregada de combater “o mal causado aos torcedores pelo mercado paralelo de venda de ingressos”. Em nota divulgada após a prisão de Whelan, a entidade afirmou que continua colaborando com as autoridades e que fornecerá todos os detalhes solicitados para auxiliar na investigação.
Já a Match divulgou uma nota em que afirma crer que as investigações mostrarão que Whelan não violou nenhuma lei brasileira. Ela disse ainda que as ligações feitas do Brasil para a Suíça a partir do telefone de Fofana não devem estar ligadas ao executivo preso, uma vez que ele mora no Brasil.

Mais cedo, a Match Hospitality, outra empresa do grupo, divulgou uma nota informando que vai investigar as alegações de revenda ilegal de pacotes de ingressos para camarotes e primeira classe pelo grupo de Lamine Fofana. A empresa, que é ligada a Phillipe Blatter, sobrinho do presidente de Fifa, Joseph Blatter, afirmou que vai cancelar todos os ingressos comprados pela empresa de Fofana, a Atlanta Sportif Management, para os próximos jogos da Copa. “Como cliente da Match Hospitality, Atlanta Sportif comprou 105 pacotes de ingressos hospitality no total para sete partidas da Copa de 2014, no valor de US$ 121.750. Como parte do acordo de venda do pacote hospitality, a Atlanta Sportif concordou com o regulamento de venda, inclusive a proibição de revender qualquer pacote hospitality comprado pela empresa”, diz a nota da Match.
Ainda de acordo com a Match Hospitality, os bilhetes encontrados com os nomes das empresas Reliance Industries Ltd., Jet Set Sports e Pamodzi também podem ser cancelados. A Match afirmou ainda que deve prestar qualquer assistência para a investigação policial, e pode tomar medidas judiciais contra as empresas envolvidas.

Antes da prisão, a Fifa entregou ao delegado Fábio Barucke a lista com todos os telefones usados pela entidade durante a Copa. A partir das escutas das ligações de Fofana foi possível identificar o diretor que estaria facilitando a venda dos ingressos para o cambista. O relatório havia sido requisitado durante investigação da Operação Jules Rimet.
— Estamos colaborando integralmente com as investigações. Isso é muito sério, e qualquer violação será investigada e sancionada. Qualquer pessoa fazendo algo errado será punida, se a evidência for fornecida — disse a porta-voz da Fifa, Delia Fischer.
Fofana fez mais de 900 ligações para celular da Fifa nos dois últimos meses. Segundo a polícia, a quadrilha negociou 52 ingressos VIP.


A empresa comandada por Raymond Whelan é a única responsável por venda de camarotes e pacotes corporativos. Além disso, detém exclusividade em aspectos como credenciamento de hotéis para competições. As ligações com a Fifa são mais estreitas, uma das acionistas da Match é a Infront Sports & Media, presidida por Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Além disso, Whelan sempre aparece em entrevistas coletivas como porta-voz da Fifa em entrevistas coletivas sobre venda de ingressos corporativos e camarotes para o campeonato.
Na semana passada, a polícia havia informado que as investigações apontavam que o executivo tinha acesso ao quartel-general da entidade instalado no Copacabana Palace. Ainda de acordo com a polícia, Whelan usava um cartão de estacionamento da Fifa para ter acesso a estádios e áreas reservadas e teria contatos dentro da entidade que lhe permitiam obter ingressos para serem negociados.


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