Executivo de empresa que vende ingressos da Fifa é preso acusado de chefiar quadrilha
Encontrado no Copacabana Palace, diretor-executivo da Match, Raymond Whelan, nega envolvimento com Fofana
Raymond Whelan (ao centro) |
Apontado pela Polícia Civil como chefe de uma quadrilha internacional de
cambistas, o diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, de 64
anos, foi preso quando tomava um cafezinho no saguão do Hotel
Copacabana Palace. Aparentemente surpreso, o britânico negou qualquer
ligação com o argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana,
preso semana passada sob acusação de integrar um esquema de venda ilegal
de ingressos para a Copa.
Whelan, que estava vivendo no país há dois anos, não explicou, contudo,
porque o número de seu aparelho celular, cedido pela Fifa, aparecia na
memória do telefone de Fofana com o nome de Ray Brasil. As investigações
mostram que o franco-argelino trocou em torno de 900 telefonemas e
mensagens de texto com Whelan, que seria o responsável pelo repasse de
parte dos ingressos negociados no mercado paralelo por Fofana.
A ação faz parte da investigação que já havia prendido 11 pessoas,
inclusive Fofana. Acusado de cambismo e formação de quadrilha, Whelan
teve a prisão preventiva decretada pela Justiça com base no Estatuto do
Torcedor. A pena prevista chega a 4 anos de reclusão, mas pode ser
aumentada quando o acusado trabalha em empresa de venda de ingressos.
Ele foi levado para a 18ª DP (Praça da Bandeira). Depois de prestar
depoimento, deve ser levado ao Complexo de Gericinó, em Bangu.
De acordo com o inspetor Vicente Barroso, que acompanhou a prisão do
britânico, o executivo estava hospedado no 5º andar do Copacabana
Palace, juntamente com integrantes do alto escalão da Fifa. Na suíte do
estrangeiro, os policiais apreenderam US$ 1,3 mil, aparelhos celulares,
cem ingressos (inclusive para a final), um computador e documentos que
serão analisados.
— Já solicitamos todas as imagens do circuito interno do hotel desde o
início da Copa e talvez venhamos também a solicitar as ligações feitas a
partir da suíte do britânico. O objetivo é reunir elementos que provem a
ligação do suspeito com Fofana e outros integrantes do grupo — disse o
inspetor.
O delegado Fábio Barucke, titular da 18ª DP e responsável pelo caso, bem
como o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal,
acompanharam a ação no hotel. O inglês foi retirado pela porta dos
fundos.
O secretário-geral da Fifa, Jéròme Valcke disse que soube da prisão de
Whelan pelo departamento de comunicação da entidade. Valcke saiu do
Hotel Sofitel, em Copacabana, com alguns papéis na mão e cercado de
seguranças. Quinze minutos depois, o presidente da Fifa, Joseph Blatter,
também deixou o Sofitel, mas não quis comentar a prisão do executivo da
Match.
— Cavalheiros, acabei de participar do Football for Hope (torneio de
futebol para jovens no Caju). Foi maravilhoso. Vamos falar só de futebol
— disse, ao deixar o hotel.
O site da Fifa diz que a Match era a encarregada de combater “o mal
causado aos torcedores pelo mercado paralelo de venda de ingressos”. Em
nota divulgada após a prisão de Whelan, a entidade afirmou que continua
colaborando com as autoridades e que fornecerá todos os detalhes
solicitados para auxiliar na investigação.
Já a Match divulgou uma nota em que afirma crer que as investigações
mostrarão que Whelan não violou nenhuma lei brasileira. Ela disse ainda
que as ligações feitas do Brasil para a Suíça a partir do telefone de
Fofana não devem estar ligadas ao executivo preso, uma vez que ele mora
no Brasil.
Mais cedo, a Match Hospitality, outra empresa do grupo, divulgou uma
nota informando que vai investigar as alegações de revenda ilegal de
pacotes de ingressos para camarotes e primeira classe pelo grupo de
Lamine Fofana. A empresa, que é ligada a Phillipe Blatter, sobrinho do
presidente de Fifa, Joseph Blatter, afirmou que vai cancelar todos os
ingressos comprados pela empresa de Fofana, a Atlanta Sportif
Management, para os próximos jogos da Copa. “Como cliente da Match
Hospitality, Atlanta Sportif comprou 105 pacotes de ingressos
hospitality no total para sete partidas da Copa de 2014, no valor de US$
121.750. Como parte do acordo de venda do pacote hospitality, a Atlanta
Sportif concordou com o regulamento de venda, inclusive a proibição de
revender qualquer pacote hospitality comprado pela empresa”, diz a nota
da Match.
Ainda de acordo com a Match Hospitality, os bilhetes encontrados com os
nomes das empresas Reliance Industries Ltd., Jet Set Sports e Pamodzi
também podem ser cancelados. A Match afirmou ainda que deve prestar
qualquer assistência para a investigação policial, e pode tomar medidas
judiciais contra as empresas envolvidas.
Antes da prisão, a Fifa entregou ao delegado Fábio Barucke a lista com
todos os telefones usados pela entidade durante a Copa. A partir das
escutas das ligações de Fofana foi possível identificar o diretor que
estaria facilitando a venda dos ingressos para o cambista. O relatório
havia sido requisitado durante investigação da Operação Jules Rimet.
— Estamos colaborando integralmente com as investigações. Isso é muito
sério, e qualquer violação será investigada e sancionada. Qualquer
pessoa fazendo algo errado será punida, se a evidência for fornecida —
disse a porta-voz da Fifa, Delia Fischer.
Fofana fez mais de 900 ligações para celular da Fifa nos dois últimos
meses. Segundo a polícia, a quadrilha negociou 52 ingressos VIP.
A empresa comandada por Raymond Whelan é a única responsável por venda
de camarotes e pacotes corporativos. Além disso, detém exclusividade em
aspectos como credenciamento de hotéis para competições. As ligações com
a Fifa são mais estreitas, uma das acionistas da Match é a Infront
Sports & Media, presidida por Phillip Blatter, sobrinho do
presidente da Fifa, Joseph Blatter. Além disso, Whelan sempre aparece em
entrevistas coletivas como porta-voz da Fifa em entrevistas coletivas
sobre venda de ingressos corporativos e camarotes para o campeonato.
Na semana passada, a polícia havia informado que as investigações
apontavam que o executivo tinha acesso ao quartel-general da entidade
instalado no Copacabana Palace. Ainda de acordo com a polícia, Whelan
usava um cartão de estacionamento da Fifa para ter acesso a estádios e
áreas reservadas e teria contatos dentro da entidade que lhe permitiam
obter ingressos para serem negociados.
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