Argentina recebe apoio em reunião do Brics
A presidente Dilma Rousseff aproveitou seu discurso de encerramento
da reunião do Brics com os países da América do Sul para pedir um
discurso unificado contra o precedente criado pelo Judiciário dos
Estados Unidos, que obrigou o pagamento integral da dívida argentina
aos chamados fundos holdouts, a ser levado na próxima reunião do
G-20, em novembro, na Austrália. O grupo reúne as 20 maiores
economias emergentes do mundo.
Em apoio à presidente argentina, Cristina Kirchner, Dilma fez um
apelo aos demais presidentes por um "caminho conjunto entre nós"
para mostrar que a decisão da Justiça dos EUA poderá ser muito dura
para países em desenvolvimento e que as economias mais frágeis vão
sofrer muito com procedimentos desse tipo.
Dilma passou o recado durante almoço com os chefes de Estado
reunidos em Brasília. O Palácio do Planalto, no entanto, não
divulgou o conteúdo do discurso da presidente Dilma. Mas o objetivo
de um discurso comum na reunião do G-20 foi confirmado por Cristina.
"Não é um tema apenas da Argentina, mas que pode afetar todos os
países, como afetou o Brasil durante 20 anos", declarou, ao fim do
encontro desta quarta-feira, 16.
Cristina disse que os países presentes na reunião concordaram que a
Argentina foi muita prejudicada na renegociação, "em função dos
fundos abutres que querem derrubar a reestruturação da dívida
argentina". "Queremos pagar 100% da dívida da Argentina com justiça.
Em seis anos, esses fundos tiveram valorização excessiva de 300%",
criticou.
Pilhagem
Surpreendida por um grupo de simpatizantes de partidos políticos
brasileiros de esquerda ao deixar o hotel pela manhã, Cristina fez
um discurso improvisado agradecendo o apoio no momento em que,
segundo ela, a Argentina sofre uma tentativa de "pilhagem
internacional em matéria financeira". "Quero agradecer porque sei
que não é que vocês apoiem Cristina, mas as políticas que temos
adotado na Argentina. Acreditamos numa Pátria Grande e, além disso,
acreditamos que devemos acabar com esse tipo de pilhagem
internacional em matéria financeira como hoje pretendem fazer contra
a Argentina e como vão querer fazer contra outros países do
planeta."
Brics
A presidente argentina disse que a criação do Novo Banco de
Desenvolvimento, a instituição de fomento do Brics, foi um passo
importante, a exemplo do que fizeram os países da Unasul, quando
criaram o Banco do Sul. "E vão surgindo cada vez mais instituições
que questionam exatamente esse funcionamento dos organismos
multilaterais que, em vez de dar soluções, não fazem mais do que
complicar a vida dos povos."
Para ela, a união entre Brics e Unasul é uma aposta em um "mundo
multipolar" e serve como contraponto ao "fracasso dos organismos
multilaterais". "Essa reunião marca, sem a menor dúvida, o fracasso
que estamos tendo nos organismos multilaterais, sobretudo em dar um
ordenamento global e financeiro que inclua crescimento, criação de
empregos, combate ao abandono social que os sul-americanos têm
vivido durante tantas décadas."
O presidente do Uruguai, José Mujica, mostrou-se reticente sobre o
início da atuação do banco do Brics. "Os bancos são uma vaca que
come muito até começar a dar leite. Pode ser que em 2016, 2017 tenha
algo, mas é bom."
Quando questionado se a nova instituição financeira seria uma
alternativa ao Banco Mundial, Mujica disse considerar a atuação das
duas instituições complementares. Sobre a reestruturação da dívida
argentina, ele afirmou que é preciso criar outro mecanismo para
tratar do assunto. "Querem comer um pedaço de uma vaca morta",
afirmou, completando que sabia de cor o discurso que Cristina
Kirchner fez no encontro de hoje. "Já ouvi três ou quatro vezes."
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