domingo, 6 de julho de 2014


A qualificação de profissionais será chave para o crescimento

Um jovem colombiano testa um invento na Campus Party em Cali.

Qualificar profissionais, regulamentar o mercado de trabalho e inovar. Esses são os três pilares que sustentarão a economia da América Latina e determinarão seu crescimento nos próximos cinquenta anos, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O cenário mundial esperado em 2060 é que a "China seja os Estados Unidos de hoje, que a Índia alcance metade disso e que o Brasil fique entre as duas potências asiáticas", explica Jean-Luc Schneider, diretor do Departamento de Economia da OCDE.
De acordo com o estudo, as taxas de desemprego não serão mais a base para avaliar a temperatura de uma economia, mas sim quantos profissionais qualificados estão empregados. O motivo é o envelhecimento da população, algo que inicialmente afeta principalmente os países com economias consolidadas, mas que chegará em breve à América Latina e à Ásia. A tendência é que o profissional tenha uma longa vida laboral, calculando seu tempo de contribuição a partir das expectativas de vida de cada país. Não existirá mais uma determinada idade na qual uma pessoa não possa mais trabalhar e, quanto mais qualificada ela for, maior a probabilidade de uma melhor remuneração, de inovar e de contribuir para o crescimento do país.
A taxa de desemprego em curto prazo será mantida entre 6,5% e 7% nos países emergentes, mas virá acompanhada de mudanças estruturais para reduzir o dualismo do mercado de trabalho, dividido em formal e informal. "É necessário aumentar o setor formal, melhorar as condições do trabalhador e adaptar os impostos e benefícios", indica Schneider. Entretanto, formalizar não significa reduzir o setor de serviços, que muitas vezes vive na fronteira da informalidade, mas sim, ampliá-lo, aproveitando sua capacidade de deslocar-se entre as demandas e de se profissionalizar de acordo com as necessidades que surjam no decorrer do próximo meio século. "Não se trata de garantir a segurança do trabalhador, mas criar um modelo flexível, que permita realocar a força de trabalho onde ela for necessária", esclarece o diretor.
Sobre este aspecto, o informe indica que a imigração deve ser um fator importante nos próximos cinquenta anos e que os fluxos, que já estão mudando, devem se intensificar. O número de imigrantes no Brasil, de 2000 a 2010 passou de 143.644 para 286.468, segundo o último censo do IBGE em 2010. O país tem 0,3% de estrangeiros, sendo que 36% deles têm mais de 65 anos, enquanto o resto do mundo mantêm uma taxa de 3% de cidadãos de outras nacionalidades. Os Estados Unidos, país de referência dos cálculos da OCDE, tem sua sociedade composta por 15% de imigrantes. "Talvez os imigrantes latinos que antes iam para a Europa passem a olhar para o Brasil como uma oportunidade", indica Schneider, mas sem esconder sua preocupação com as políticas migratórias que os países que necessitam receber mão de obra qualificada, como o Brasil, precisam rever.
Hoje os paraguaios e os bolivianos, por exemplo, ocupam o terceiro e quinto lugar em número de imigrantes no país. No entanto, o estudo diz que não será possível escolher o tipo de imigrante que virá, já que esse fluxo se dará em "todos os níveis de capacidades e profissões". Além da incorporação de estrangeiros, as economias deverão reduzir as barreiras econômicas dentro de seu próprio país, abrir a concorrência em todos os setores para que se tornem mais competitivos e acompanhar a evolução tecnológica.
Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidência da República, concorda com a tendência prevista pela OCDE, mas avalia que o Brasil precisa melhorar as leis de acolhida tanto para profissionais qualificados quanto para os com menos formação. "Há um grande apagão de mão de obra é na base, está faltando pessoas de baixa qualificação, empregados agrícolas, pedreiros, empregadas domésticas", garante o ministro.
Ainda que não seja uma previsão certeira, há um ponto que coincide com todos os outros estudos da OCDE: a necessidade de investir em educação e, consequentemente, em pesquisa. "O sistema educacional não acompanha as necessidades do mercado e dos trabalhadores. A demanda por pessoas qualificadas só aumentará", indica Schneider. A tendência, portanto, é que novas políticas de redistribuição de renda venham a ser criadas no continente, ainda que o crescimento do país reduza as diferenças sociais, a previsão é de que em 2060 a desigualdade na zona alcance os níveis atuais dos Estados Unidos. A desigualdade brasileira, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar de 2012, é 13% mais alta que a norte-americana. "Mas seguindo a tendência desde de 2001, vão se equivaler em 2021, daqui a 8 anos e não daqui a 50", garante Neri.

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