A qualificação de profissionais será chave para o crescimento
Um jovem colombiano testa um invento na Campus Party em Cali. |
Qualificar profissionais, regulamentar o mercado de trabalho e inovar.
Esses são os três pilares que sustentarão a economia da América Latina e
determinarão seu crescimento nos próximos cinquenta anos, segundo a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O
cenário mundial esperado em 2060 é que a "China seja os Estados Unidos
de hoje, que a Índia alcance metade disso e que o Brasil fique entre as
duas potências asiáticas", explica Jean-Luc Schneider, diretor do
Departamento de Economia da OCDE.
De acordo com o estudo, as taxas de desemprego não serão mais a base
para avaliar a temperatura de uma economia, mas sim quantos
profissionais qualificados estão empregados. O motivo é o envelhecimento
da população, algo que inicialmente afeta principalmente os países com
economias consolidadas, mas que chegará em breve à América Latina e à
Ásia. A tendência é que o profissional tenha uma longa vida laboral,
calculando seu tempo de contribuição a partir das expectativas de vida
de cada país. Não existirá mais uma determinada idade na qual uma pessoa
não possa mais trabalhar e, quanto mais qualificada ela for, maior a
probabilidade de uma melhor remuneração, de inovar e de contribuir para o
crescimento do país.
A taxa de desemprego em curto prazo será mantida entre 6,5% e 7% nos
países emergentes, mas virá acompanhada de mudanças estruturais para
reduzir o dualismo do mercado de trabalho, dividido em formal e
informal. "É necessário aumentar o setor formal, melhorar as condições
do trabalhador e adaptar os impostos e benefícios", indica Schneider.
Entretanto, formalizar não significa reduzir o setor de serviços, que
muitas vezes vive na fronteira da informalidade, mas sim, ampliá-lo,
aproveitando sua capacidade de deslocar-se entre as demandas e de se
profissionalizar de acordo com as necessidades que surjam no decorrer do
próximo meio século. "Não se trata de garantir a segurança do
trabalhador, mas criar um modelo flexível, que permita realocar a força
de trabalho onde ela for necessária", esclarece o diretor.
Sobre este aspecto, o informe indica que a imigração deve ser um fator
importante nos próximos cinquenta anos e que os fluxos, que já estão
mudando, devem se intensificar. O número de imigrantes no Brasil, de
2000 a 2010 passou de 143.644 para 286.468, segundo o último censo do
IBGE em 2010. O país tem 0,3% de estrangeiros, sendo que 36% deles têm
mais de 65 anos, enquanto o resto do mundo mantêm uma taxa de 3% de
cidadãos de outras nacionalidades. Os Estados Unidos, país de referência
dos cálculos da OCDE, tem sua sociedade composta por 15% de imigrantes.
"Talvez os imigrantes latinos que antes iam para a Europa passem a
olhar para o Brasil como uma oportunidade", indica Schneider, mas sem
esconder sua preocupação com as políticas migratórias que os países que
necessitam receber mão de obra qualificada, como o Brasil, precisam
rever.
Hoje os paraguaios e os bolivianos, por exemplo, ocupam o terceiro e
quinto lugar em número de imigrantes no país. No entanto, o estudo diz
que não será possível escolher o tipo de imigrante que virá, já que esse
fluxo se dará em "todos os níveis de capacidades e profissões". Além da
incorporação de estrangeiros, as economias deverão reduzir as barreiras
econômicas dentro de seu próprio país, abrir a concorrência em todos os
setores para que se tornem mais competitivos e acompanhar a evolução
tecnológica.
Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
presidência da República, concorda com a tendência prevista pela OCDE,
mas avalia que o Brasil precisa melhorar as leis de acolhida tanto para
profissionais qualificados quanto para os com menos formação. "Há um
grande apagão de mão de obra é na base, está faltando pessoas de baixa
qualificação, empregados agrícolas, pedreiros, empregadas domésticas",
garante o ministro.
Ainda que não seja uma previsão certeira, há um ponto que coincide com
todos os outros estudos da OCDE: a necessidade de investir em educação
e, consequentemente, em pesquisa. "O sistema educacional não acompanha
as necessidades do mercado e dos trabalhadores. A demanda por pessoas
qualificadas só aumentará", indica Schneider. A tendência, portanto, é
que novas políticas de redistribuição de renda venham a ser criadas no
continente, ainda que o crescimento do país reduza as diferenças
sociais, a previsão é de que em 2060 a desigualdade na zona alcance os
níveis atuais dos Estados Unidos. A desigualdade brasileira, segundo a
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar de 2012, é 13% mais alta que a
norte-americana. "Mas seguindo a tendência desde de 2001, vão se
equivaler em 2021, daqui a 8 anos e não daqui a 50", garante Neri.
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