segunda-feira, 30 de julho de 2012
Cesare Battisti marca presença em sessão de autógrafos em Caxias do Sul
Fala para convidados e diz que poderá morar no Rio Grande do Sul
A polêmica em torno da vinda de Cesare Battisti a Caxias do Sul não impediu que o ex-ativista italiano autografasse livros na cidade. As ameaças e ofensas postadas nas redes sociais fizeram com que o encontro se tornasse ainda mais interessante.
Como a livraria Do Arco da Velha cancelou o evento, um grupo de caxienses se mobilizou e organizou um encontro secreto para receber o italiano. O clima de mistério, e até mesmo certa tensão pairavam no ar, já que os convidados desconheciam o local onde Battisti seria recebido. Ao chegar à residência, simples e aconchegante, e descer as longas escadas a caminho de um amplo quintal, a expectativa com a chegada do ex-ativista crescia.
Battisti chegou à casa pouco depois da 13h de sábado (28 de julho). Simpático e sorridente, ele percorreu o pátio, e após todos se sentarem ao sol, ao redor de uma árvore, foi realizada a leitura da contracapa do livro Ser Bambu, que integra a trilogia Minha Fuga sem Fim e Ao Pé do Muro, escrito na prisão. Em seguida, se iniciou o bate-papo, que durou pouco mais de duas horas, em meio a conversa, contou a trajetória dele na literatura, e respondeu questionamentos dos presentes.
Battisti afirmou que as ameaças são apenas uma demonstração de intolerância, e que em nenhum momento pensou em deixar de vir a Caxias do Sul. Ele ressaltou, no entanto, que não esperava que após o cancelamento, um novo encontro fosse organizado tão rapidamente.
Autor de 18 livros, destes 16 em francês, e reconhecido pela crítica internacional e nacional, Battisti destacou a felicidade por estar na cidade, e frisou que esses encontros são a única chance que tem para tentar reverter a imagem de mostro criada pela grande mídia.
Ele ressaltou que a escrita é a maneira que encontrou de ser ouvido, e alegou que escrever é também o motivo pelo qual é perseguido pelo governo italiano. Para Battisti, a perseguição se tornou intensa pelo fato de ser escritor, e não ex-militante, porque ao escrever ele encontra espaço para falar sobre o que aconteceu na Itália. O italiano atribui a escrita a superação, já que nos momentos de desespero, solidão, isolamento e tristeza, ele se entregou a literatura.
Sobre a polêmica, em Caxias do Sul, ele não descarta a possibilidade de ter ocorrido intervenção do Consulado Italiano para que fosse criada tensão na cidade. Ele afirmou que as ameaças são apenas blefes, e partem geralmente dos mesmos locais, tanto que passou pela praça Dante Alighieri e foi bem recebido pelos caxienses, que o reconheceram e tiraram fotos.
Sobre a Itália, Battisti afirma que os italianos desconhecem a história e o nome dele, e que sequer sabem o que significa Brigada Vermelha, e que têm conhecimento apenas de que grupos mataram políticos, mas não sabem que há 10 mil presos políticos condenados, e outros 50 mil presos.
Durante a sessão de autógrafos, o ativista afirmou que pretende ficar no Brasil, e não descarta morar no Rio Grande do Sul, estado que já visitou em três ocasiões. Ele afirma que o jeito do brasileiro de encarar a vida o encantou, e tem planos para o futuro, inclusive, de criar uma associação com ajuda de amigos franceses, que vem ao Brasil discutir o assunto.
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