Após rompimento com aliado, Agnaldo Timóteo relata suposto esquema em feira de ambulantes e cita Valdemar.
Administrador da feira e deputado negam a cobrança de propina; vereador paulistano se recusa a falar do caso.
Na carta, Timóteo se explica por ter demitido de seu gabinete a filha de Geraldo de Souza Amorim, a quem diz ter "levado" a reuniões com o prefeito Gilberto Kassab e o ex-ministro Alfredo Nascimento (Transportes), do PR.

Geraldo de Souza Amorim era sócio da GSA, empresa que em 2004 obteve da RFFSA (Rede Ferroviária Federal) autorização para instalar, em terreno da antiga estatal, a Feira da Madrugada, que reúne ambulantes no bairro do Pari (centro de São Paulo).
A carta de Agnaldo Timóteo é a base de representação protocolada no Ministério Público Federal em São Paulo pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
Ele pede a investigação de supostas práticas de improbidade administrativa, cobrança de propina e enriquecimento ilícito por parte de políticos do PR e de grupos rivais de comerciantes da feira.
A GSA foi alijada da administração informal da Feira da Madrugada em 2010. Logo depois, há indícios de rompimento do empresário com Agnaldo Timóteo, de quem era aliado. Na carta, o vereador do PR agradece as "coisas boas" que o antigo aliado lhe proporcionou.
No fim, Timóteo lamenta o rompimento: "Os maus conselheiros te levaram a peitar o Waldemar [sic] e, lamentavelmente, te ajudaram a perder sua galinha com ovos de ouro. Que pena!"
Comerciantes ouvidos confirmaram que o Valdemar mencionado na carta é o deputado Valdemar Costa Neto, que, depois da saída da GSA, teria passado a negociar com o grupo que passou a administrar a feira, coordenado pelo advogado Ailton Vicente de Oliveira.
Tanto Valdemar quanto Oliveira negaram cobrança de propina. Agnaldo Timóteo se recusou a comentar o caso.
Taxa ilegal
O terreno federal em que funciona a feira passou a ser administrado pela Prefeitura de São Paulo, que, em dezembro de 2010, publicou portaria no "Diário Oficial do Município" em que proíbe a cobrança de taxa por parte dos administradores.
Mas recibos obtidos mostram que continua havendo a cobrança de uma taxa de condomínio de R$ 300 pela empresa Novo Oriente, de Ailton Oliveira.
"A carta e os demais documentos que obtivemos são muito esclarecedores do esquema de propinas, chantagens e pressões que existe nessa feira", afirma o deputado Ivan Valente.
"Tanto que eles conseguem arrecadar uma taxa, apesar da clara ilegalidade", conclui o congressista.
O outro lado
Agnaldo Timóteo (PR) se recusou a comentar a carta assinada por ele que faz menções a um suposto esquema de cobrança de propina por parte de seu partido.
"Não vou falar de um assunto dessa gravidade por telefone", disse o vereador, que estava fora de São Paulo e foi contatado pelo celular. "Vocês são muito perversos. A imprensa vive de destruir."
Confrontado com os termos da carta, ele não negou nem confirmou a autoria. "Deixe o Geraldo [de Souza Amorim] falar o que quiser. É um homem inteligente, por isso ficou milionário", afirmou, antes de desligar.
A assessoria do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) disse que ele "desautoriza qualquer pessoa a falar em nome dele ou do partido para entendimentos no âmbito da gestão pública".
O advogado Ailton Vicente de Oliveira, síndico do Condomínio Novo Oriente, que cobra mensalmente R$ 300 dos comerciantes da Feira da Madrugada, nega que a taxa seja usada para pagar propina a políticos.
"Não tenho nenhuma relação com o PR e nunca estive com o Valdemar Costa Neto", afirmou.
Ele disse que os R$ 300 cobrados mensalmente dos cerca de 4.500 feirantes são usados para custear despesas da própria feira, como funcionários, manutenção e outras benfeitorias, enquanto a prefeitura não decide a destinação final da área.
Há um impasse entre os comerciantes e a prefeitura, que quer instalar ali um shopping popular, cuja licitação está prevista para abril.
Por meio de sua assessoria, a Secretaria de Subprefeituras reiterou os termos da portaria de dezembro de 2010 em que diz que é ilegal a cobrança de qualquer taxa por parte da administração provisória da feira.
A direção do PR paulistano também negou a cobrança de propina da atual e da antiga administradoras da feira de ambulantes que funciona no terreno da antiga RFFSA, empresa que era ligada ao Ministério dos Transportes, comandado pelo partido.

Nenhum comentário:
Postar um comentário