domingo, 3 de maio de 2020

Como funciona por dentro um quarto de UTI






As unidades de terapia intensiva (UTIs) são consideradas indispensáveis no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Ainda que a literatura médica aponte infecções leves ou assintomáticas na maioria dos casos da doença, as UTIs são responsáveis por receber os quadros mais graves da covid-19.
Levantamento recente feito da pandemia no Brasil aponta que cerca de 41,5% das pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19 acabaram precisando ser internadas em UTI. Destes, quatro a cada dez pessoas tiveram de usar respirador — situação em que o paciente fica sedado e inconsciente o tempo inteiro.
Médicos que atuam na linha de frente do combate à pandemia já perceberam, ainda, que o período médio de internação por coronavírus supera o de outras doenças e, consequentemente, a rotatividade nos leitos é mais baixa do que o normal. Em meio à aceleração dos casos diagnosticados dia após dia, esse cenário pressiona as redes hospitalares no País, a despeito dos esforço para ampliar, em caráter de urgência, a capacidade de atendimento.

O paciente da UTI — Às unidades intensivas, são destinados a pacientes com quadro de insuficiência respiratória grave e instável por covid-19. Ou seja, aqueles com risco de apresentar piora repentina e, por isso, demandam atenção médica 24 horas por dia. Na UTI, as equipes de saúde devem estar preparadas para intervir imediatamente. Entre os pacientes, há relatos de cansaço extremo ao realizar atividades simples ou até mesmo a sensação de estar se afogando.

Exames — Alguns indicadores são importantes na hora de o médico avaliar se há necessidade de internação, como a taxa de oxigênio no sangue (oximetria), retenção de gás carbônico (capnografia) e o estado dos pulmões (tomografia de tórax). Em casos graves de covid-19, é comum a saturação de oxigênio ficar abaixo de 90% e surgirem lesões pulmonares, chamadas de “vidro fosco”.

Equipamentos — A legislação brasileira lista 39 materiais considerados requisitos mínimos para o funcionamento da UTI. Como o coronavírus é considerado uma doença altamente contagiosa, também há unidades intensivas mais sofisticadas que dispõem de câmaras de pressão negativa para impedir a contaminação do ar. Segundo médicos intensivistas e gestores de hospitais, os equipamentos mais importantes no combate ao coronavírus são:

[1] Cama hospitalar: o ajuste de posição facilita determinados tratamentos; quando equipada com balança também ajuda a pesar o paciente sem deslocá-lo, o que é útil para detectar quadros de desidratação ou retenção de líquido.

[2] Monitor multiparamétrico: mede sinais vitais do paciente em tempo real (frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial, saturação de oxigênio, temperatura).

[3] Bomba de infusão: dispositivo eletrônico que aplica de forma contínua fluidos (medicamentos ou nutrientes) previamente programados.

[4] Máscara de nebulização e cateter de alto fluxo: equipamentos não-invasivos que aumentam a oferta de oxigênio; usado em casos menos severos.

[5] Ventilador pulmonar mecânico (respirador): equipamento invasivo para realizar ventilação mecânica; usado em casos mais graves.

[6] Diálise: Procedimento que substitui a função dos rins; médicos intensivistas têm relatado intercorrência de insuficiência renal em até 20% dos pacientes internados por coronavírus.

[7] Desfibrilador e cardioversor: usados para corrigir emergências cardíacas.

[8] Câmara de pressão negativa: sistema que impede o ar “infectado” de sair e contaminar outros ambientes.





Profissionais de saúde — Por precisar de vigilância constante, pacientes são acompanhados por equipes multiprofissionais na UTI, sob coordenação de um médico intensivista. Com o coronavírus, o foco é em especialidades respiratórias, mas profissionais de outras áreas também são acionados para atuar em procedimentos do dia a dia e no tratamento de pessoas com comorbidades ou complicações específicas.
O paciente é acompanhado por uma equipe específica, mas também recebe visitas de médicos plantonistas a cada mudança de turno. Em alguns hospitais, a situação do doente chega a ser checada presencialmente quatro vezes por dia.

Por causa da covid-19, no entanto, há unidades que restringiram a visita a um profissional por equipe para reduzir a exposição ao vírus. Entre os equipamentos de proteção individual, os profissionais devem usar luvas, avental, máscara, óculos e face shield, com protocolos rígidos na hora de se “paramentar” e de retirar as peças.

Equipe multiprofissional (requisito mínimo estabelecido por legislação)

—> Médico diarista/rotineiro: um intensivista para cada dez leitos.

—> Médico plantonista: um para cada dez leitos, em cada turno.

—> Enfermeiros assistenciais: um para cada oito leitos. 

—> Técnico de enfermagem: um para cada dois leitos.

—> Fisioterapeutas: um para cada dez leitos.

—> Auxiliar administrativo: tem de ser exclusivo da unidade de UTI.

—> Funcionário de limpeza: tem de ser exclusivo da unidade de UTI para cada turno.

Tratamento — Embora estudos estejam em andamento, não existe vacina ou tratamento com resultados clinicamente comprovados contra o novo coronavírus. Entre as drogas que estão em teste há hidroxicloroquina, azitromicina (antibiótico para tratamentos de infecções respiratórias) e remdesivir (antiviral usado contra ebola).
Nas unidades intensivas, equipes médicas focam em tentar manter o paciente estável e tratar possíveis complicações — ações que variam de acordo com cada quadro. Levantamento aponta que cerca de 42% das pessoas internadas em UTI acabam precisando de ventilação mecânica para tentar sobreviver.

[A] Métodos não-invasivos — Em alguns casos, o paciente apresenta falta de ar mas ainda consegue respirar por conta própria. Para os quadros menos severos, os médicos utilizam métodos não-invasivos, aumentando a oferta de oxigênio através de máscara de nebulização ou de cateter de alto fluxo. O paciente fica consciente durante o tratamento.

[B] Método invasivo — Já nos casos mais graves, o paciente tem de ser submetido à ventilação mecânica -- ou seja, o respirador é conectado à traqueia do paciente e compensa a falta de atividade dos pulmões. Para isso, a pessoa precisa ser sedada e recebe relaxante muscular. Ela fica inconsciente durante todo o período de entubação.

Alta — Médicos intensivistas relatam que um paciente com coronavírus fica, em média, entre 10 a 14 dias na UTI. Em alguns casos a recuperação é mais rápida, com extubação — ou seja, a retirada do respirador — em três ou quatro dias. No entanto, também há registro de pessoas que chegaram a passar mais de três semanas internadas.
Em geral, ninguém vai direto para casa: após sair da UTI, o paciente é encaminhado para unidade semi-intensiva ou apartamento, antes de receber alta. Para deixar o hospital, os médicos devem estar seguro de que o quadro de saúde estabilizou.
Em internações longas, independentemente da doença, também é comum que o paciente desenvolva outros problemas, como perda de massa muscular. Nos casos mais graves, é necessário fazer fisioterapia para retomar a atividade plena dos músculos.




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