Como funciona por dentro um quarto de UTI
As unidades de terapia intensiva (UTIs) são consideradas
indispensáveis no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Ainda
que a literatura médica aponte infecções leves ou assintomáticas na
maioria dos casos da doença, as UTIs são responsáveis por receber os
quadros mais graves da covid-19.
Levantamento recente feito da pandemia no Brasil aponta que cerca de
41,5% das pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG) por covid-19 acabaram precisando ser internadas em UTI. Destes,
quatro a cada dez pessoas tiveram de usar respirador — situação em que o
paciente fica sedado e inconsciente o tempo inteiro.
Médicos que atuam na linha de frente do combate à pandemia já
perceberam, ainda, que o período médio de internação por coronavírus
supera o de outras doenças e, consequentemente, a rotatividade nos
leitos é mais baixa do que o normal. Em meio à aceleração dos casos
diagnosticados dia após dia, esse cenário pressiona as redes
hospitalares no País, a despeito dos esforço para ampliar, em caráter de
urgência, a capacidade de atendimento.
O paciente da UTI — Às unidades intensivas, são destinados a
pacientes com quadro de insuficiência respiratória grave e instável por
covid-19. Ou seja, aqueles com risco de apresentar piora repentina e,
por isso, demandam atenção médica 24 horas por dia. Na UTI, as equipes
de saúde devem estar preparadas para intervir imediatamente. Entre os
pacientes, há relatos de cansaço extremo ao realizar atividades simples
ou até mesmo a sensação de estar se afogando.
Exames — Alguns indicadores são importantes na hora de o
médico avaliar se há necessidade de internação, como a taxa de oxigênio
no sangue (oximetria), retenção de gás carbônico (capnografia) e o
estado dos pulmões (tomografia de tórax). Em casos graves de covid-19, é
comum a saturação de oxigênio ficar abaixo de 90% e surgirem lesões
pulmonares, chamadas de “vidro fosco”.
Equipamentos — A legislação brasileira lista 39 materiais
considerados requisitos mínimos para o funcionamento da UTI. Como o
coronavírus é considerado uma doença altamente contagiosa, também há
unidades intensivas mais sofisticadas que dispõem de câmaras de pressão
negativa para impedir a contaminação do ar. Segundo médicos
intensivistas e gestores de hospitais, os equipamentos mais importantes
no combate ao coronavírus são:
[1] Cama hospitalar: o ajuste de posição facilita determinados
tratamentos; quando equipada com balança também ajuda a pesar o paciente
sem deslocá-lo, o que é útil para detectar quadros de desidratação ou
retenção de líquido.
[2] Monitor multiparamétrico: mede sinais vitais do paciente em tempo
real (frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial,
saturação de oxigênio, temperatura).
[3] Bomba de infusão: dispositivo eletrônico que aplica de forma
contínua fluidos (medicamentos ou nutrientes) previamente programados.
[4] Máscara de nebulização e cateter de alto fluxo: equipamentos
não-invasivos que aumentam a oferta de oxigênio; usado em casos menos
severos.
[5] Ventilador pulmonar mecânico (respirador): equipamento invasivo para
realizar ventilação mecânica; usado em casos mais graves.
[6] Diálise: Procedimento que substitui a função dos rins; médicos
intensivistas têm relatado intercorrência de insuficiência renal em até
20% dos pacientes internados por coronavírus.
[7] Desfibrilador e cardioversor: usados para corrigir emergências cardíacas.
[8] Câmara de pressão negativa: sistema que impede o ar “infectado” de sair e contaminar outros ambientes.
Profissionais de saúde — Por precisar de vigilância constante,
pacientes são acompanhados por equipes multiprofissionais na UTI, sob
coordenação de um médico intensivista. Com o coronavírus, o foco é em
especialidades respiratórias, mas profissionais de outras áreas também
são acionados para atuar em procedimentos do dia a dia e no tratamento
de pessoas com comorbidades ou complicações específicas.
O paciente é acompanhado por uma equipe específica, mas também recebe
visitas de médicos plantonistas a cada mudança de turno. Em alguns
hospitais, a situação do doente chega a ser checada presencialmente
quatro vezes por dia.
Por causa da covid-19, no entanto, há unidades que restringiram a visita
a um profissional por equipe para reduzir a exposição ao vírus. Entre
os equipamentos de proteção individual, os profissionais devem usar
luvas, avental, máscara, óculos e face shield, com protocolos rígidos na
hora de se “paramentar” e de retirar as peças.
Equipe multiprofissional (requisito mínimo estabelecido por legislação)
—> Médico diarista/rotineiro: um intensivista para cada dez leitos.
—> Médico plantonista: um para cada dez leitos, em cada turno.
—> Enfermeiros assistenciais: um para cada oito leitos.
—> Técnico de enfermagem: um para cada dois leitos.
—> Fisioterapeutas: um para cada dez leitos.
—> Auxiliar administrativo: tem de ser exclusivo da unidade de UTI.
—> Funcionário de limpeza: tem de ser exclusivo da unidade de UTI para cada turno.
Tratamento — Embora estudos estejam em andamento, não existe
vacina ou tratamento com resultados clinicamente comprovados contra o
novo coronavírus. Entre as drogas que estão em teste há
hidroxicloroquina, azitromicina (antibiótico para tratamentos de
infecções respiratórias) e remdesivir (antiviral usado contra ebola).
Nas unidades intensivas, equipes médicas focam em tentar manter o
paciente estável e tratar possíveis complicações — ações que variam de
acordo com cada quadro. Levantamento aponta que cerca de 42% das pessoas
internadas em UTI acabam precisando de ventilação mecânica para tentar
sobreviver.
[A] Métodos não-invasivos — Em alguns casos, o paciente
apresenta falta de ar mas ainda consegue respirar por conta própria.
Para os quadros menos severos, os médicos utilizam métodos
não-invasivos, aumentando a oferta de oxigênio através de máscara de
nebulização ou de cateter de alto fluxo. O paciente fica consciente
durante o tratamento.
[B] Método invasivo — Já nos casos mais graves, o paciente tem
de ser submetido à ventilação mecânica -- ou seja, o respirador é
conectado à traqueia do paciente e compensa a falta de atividade dos
pulmões. Para isso, a pessoa precisa ser sedada e recebe relaxante
muscular. Ela fica inconsciente durante todo o período de entubação.
Alta — Médicos intensivistas relatam que um paciente com
coronavírus fica, em média, entre 10 a 14 dias na UTI. Em alguns casos a
recuperação é mais rápida, com extubação — ou seja, a retirada do
respirador — em três ou quatro dias. No entanto, também há registro de
pessoas que chegaram a passar mais de três semanas internadas.
Em geral, ninguém vai direto para casa: após sair da UTI, o paciente é
encaminhado para unidade semi-intensiva ou apartamento, antes de receber
alta. Para deixar o hospital, os médicos devem estar seguro de que o
quadro de saúde estabilizou.
Em internações longas, independentemente da doença, também é comum que o
paciente desenvolva outros problemas, como perda de massa muscular. Nos
casos mais graves, é necessário fazer fisioterapia para retomar a
atividade plena dos músculos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário