Bolsonaro diz que não pretende participar do primeiro turno das eleições de 2020
O presidente Jair Bolsonaro |
A confirmação da já esperada ausência do Aliança pelo Brasil nas
eleições municipais deste ano pela cúpula do partido em criação levou o
presidente Jair Bolsonaro a anunciar na sexta-feira (06.mar.2020) que
ele também pretende ficar distanciado do pleito, sem subir em palanques
ou fazer campanha por candidatos a prefeito. Pelo menos no primeiro
turno.
O presidente concluiu que teria mais a perder do que a ganhar
envolvendo-se formalmente nas disputas municipais. A avaliação de seus
aliados é que um envolvimento mais direto só teria potencial de trazer
prejuízos a Bolsonaro, tanto por ser vinculado a possíveis derrotas como
pela possibilidade de desgaste caso aquele que seja eleito com seu
apoio não consiga fazer uma boa administração.
Ainda não está claro se os filhos do presidente seguirão a decisão do
pai. Em 2018, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro apoiou
declaradamente o agora desafeto da família Wilson Witzel (PSC) ao
governo do Rio. Outro ponto importante em aberto é como se comportará a
ativa militância bolsonarista nas redes sociais, considerada decisiva
para os resultados eleitorais de 2018, tanto na disputa presidencial
como nos estados. Candidatos a prefeito alinhados com o presidente
anseiam pela ajuda dessa máquina virtual, mesmo se não for possível ter o
presidente no palanque.
A decisão de Bolsonaro frustra alguns candidatos que tinham a
expectativa de contar com seu apoio declarado. É o caso do prefeito do
Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, e de Andrea
Matarazzo (PSD), postulante ao comando da capital paulista.
O anúncio de que pretende se manter longe do pleito foi feito no fim da
tarde de sexta-feira (06.mar.2020) em entrevista aos jornalistas ao
retornar ao Palácio da Alvorada. Bolsonaro reconheceu que, “pelo o que
tudo indica”, não haverá tempo hábil para oficializar a sigla que lançou
no ano passado após deixar o PSL. E foi questionado como vai se portar
na corrida eleitoral.
— Pretendo não participar no primeiro turno de qualquer candidatura entre os quase 6 mil municípios do Brasil — declarou.
O presidente abriu, no entanto, uma exceção à regra que adotará até
outubro e informou que vai “dar uma força” a alguns candidatos a
vereador:
— Eu tenho um amigo ou outro por aí, vou dar uma força para eles nisso aí — comentou, sem citar nomes.
A posição de relativa neutralidade já era tida como provável por
aliados. Mas até o fim do ano passado, o presidente vinha prometendo,
que daria seu apoio a alguns poucos candidatos considerados de confiança
e alinhados ideologicamente em cidades estratégicas.
Segundo turno — Na avaliação de Bolsonaro e seus
filhos, o mais adequado seria “perder em quantidade para ganhar na
qualidade dos candidatos”. O pano de fundo da estratégia é evitar que se
repita o que houve nas eleições do ano passado, quando vários
postulantes a deputados e senadores se elegeram sob o manto do
bolsonarismo pelo PSL, mas romperam com o presidente quando ele se
distanciou do deputado federal Luciano Bivar (PE), que comanda a
legenda.
Além disso, os governadores Wilson Witzel e João Doria saíram vitoriosos
das urnas fazendo uma campanha se associando a Bolsonaro, mas se
afastaram logo no primeiro ano de governo.
A declaração de Bolsonaro, no entanto, abre margem para que ele entre em
cena em eventuais disputas de segundo turno, o que pode dar esperanças,
por exemplo, a Crivella, que tem se aproximado do presidente. Em ato
evangélico no mês passado, a dupla chegou a dançar lado a lado. O
prefeito já participou de um mutirão de coleta de assinaturas para a
criação do Aliança pelo Brasil.
Mato Grosso — Bolsonaro comentou que pretende, no
entanto, participar da eleição suplementar para o Senado em Mato Grosso —
a senadora Juíza Selma (Podemos-MT) foi cassada pelo TSE. O pleito foi
marcado para o dia 26 de abril, mas é alvo de disputa judicial. Indagado
sobre quem seria apoiado por ele, o presidente disse que não poderia
revelar o nome por questões legais.
— Eu não posso falar o nome agora, porque seria propaganda antecipada. Mas como hoje é dia da mulher: será uma mulher.
O presidente também minimizou o fato de o TSE ter identificado a
assinatura de sete pessoas que já morreram nas fichas de apoiamento para
a criação do Aliança pelo Brasil.
— A questão de mortos, a manchete, acho que foi do (jornal) Estado de
São Paulo, “Aliança tem...”. São sete mortes. Um, o cara lá assinou a
ficha e, na semana seguinte, teve uma acidente de motocicleta. Morreu.
Os outros meia dúzia... Só sete, né?, de não seis quantos mil, 50 mil.
Sete apenas. Era CPF errado, a numeração errada, só isso aí.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já analisou mais de 22 mil
apoiamentos do partido, dos quais 7.298 foram considerados aptos e
15.032 inaptos. Há ainda 55.407 fichas em prazo de análise. Para ser
criado, o Aliança precisa apresentar 492 mil assinaturas válidas.
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