Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão cobra medidas urgentes sobre crise de venezuelanos em Roraima
Pacaraima/RR - atos de violência contra a população migrante |
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC/MPF), em conjunto
com a Defensoria Pública da União (DPU), encaminhou na tarde de
segunda-feira (20.ago.2018) uma Recomendação à Casa Civil da Presidência
da República para que sejam adotadas medidas urgentes diante do
acirramento da crise no estado de Roraima em razão da entrada de
migrantes venezuelanos no Brasil.
O documento estabelece o prazo de até dez dias para que sejam concluídas
as obras e iniciadas as atividades do Posto de Apoio destinado ao
abrigamento humanitário transitório dos migrantes que aguardam a
finalização do atendimento no posto de entrada na fronteira
Brasil-Venezuela da Operação Acolhida, no município de Pacaraima/RR. O
objetivo é evitar a concentração de pessoas em situação de rua e
assegurar a essa população mínima assistência alimentar e sanitária.
A Recomendação também estabelece a elaboração e início de execução de um
plano técnico e operacional voltado a prestar serviços de saúde e
socioassistenciais à população em situação de rua nos municípios de
Pacaraima/RR e Boa Vista/RR, inclusive com fornecimento de água potável e
alimentação. O plano deve indicar ações que envolvam conjuntamente
migrantes e a população local dos dois municípios,com um aumento da rede
de atendimento em saúde e assistência social.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e a Defensoria Pública da
União recomendam ainda que, durante o procedimento de ingresso de
venezuelanos ao Brasil pelo município de Pacaraima/RR, seja realizada a
identificação dos casos de vulnerabilidade acentuada ou extrema. Aos
migrantes deverão ser assegurados o encaminhamento direto às vagas
existentes nos abrigos de Boa Vista/RR, com a definição criteriosa e
objetiva de uma lista de prioridades para o atendimento e
interiorização, considerando a avaliação da assistência social.
A Recomendação foi encaminhada ao ministro Eliseu Padilha, presidente do
Comitê Federal de Assistência Emergencial para o acolhimento a pessoas
em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado
pela crise humanitária. A PFDC e a DPU deram prazo de dez dias para que a
Casa Civil se manifeste acerca das medidas implementadas,sob pena de
adoção das açõesjudiciais pertinentes.
Violação de direitos — No sábado (18.ago.2018) foram
registrados em Pacaraima/RR atos de violência contra a população
migrante em situação de rua, resultando na expulsão dos locais onde
funcionam acampamentos improvisados , além da destruição de pertences e
de casos de agressão física. Para a Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão e a Defensoria Pública da União, os fatos demonstram a
necessidade de adoção de medidas concretas tanto para amenizar o impacto
da migração em massa na vida cotidiana dos moradores do município, como
para impedir que situações idênticas voltem a se repetir no estado de
Roraima.
De acordo com diligência realizada em 17 de agosto pelo Ministério
Público Federal e a Defensoria Pública da União, há omissão — dos três
níveis de governo — quanto à assistência e proteção a esse grande
quantitativo de pessoas, que permanecem em situação de rua sem qualquer
prestação de assistência alimentar e sanitária.
Na Recomendação à Casa Civil, PFDC e DPU apontam a impossibilidade do
município de Pacaraima/RR em concretizar as medidas de assistência
social no âmbito de suas atribuições — inclusive com descumprimento de
Recomendação expedida em junho deste ano pelo Ministério Público Federal
em Roraima que solicitava a elaboração de plano técnico voltado à
prestação de serviços socioassistenciais aos migrantes venezuelanos
residentes em Pacaraima.
O texto ressalta que o Brasil é signatário de diversos compromissos
internacionais de proteção aos direitos dos migrantes — como o Pacto de
San José da Costa Rica, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e a
Declaração Universal dos Direitos do Homem — e que, diante do
descumprimento interno dessas diretrizes, recai sobre a União a
responsabilidade de efetivar essas garantias.
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