Blindagem do PSDB paulista está perto do final
Geraldo Alckmin |
Os acordos de leniência firmados pela Odebrecht e a Camargo Corrêa
forneceram ao Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, um
estoque devastador de dados sobre os cartéis que mutretaram licitações
nos Estados. De tudo o que há na prateleira, impressiona a munição
referente a São Paulo, um pedaço do mapa governado pelo PSDB há 22 anos.
Chama-se Geraldo Alckmin o tucano que por mais tempo ocupou a poltrona
de governador. Por mal dos pecados, deve ser o candidato do ninho tucano
ao Palácio do Planalto. Descobrirá da pior maneira que a blindagem
estruturada para manter a fantasia da invulnerabilidade das gestões
tucanas em São Paulo está perto do fim. Pior: o esforço de acobertamento
empurrou o escândalo dos trens e das grandes obras para dentro da
campanha presidencial de 2018.
A Odebrecht jogou no ventilador a ação do cartel das construtoras em
duas joias da coroa tucana: o Rodoanel e o Sistema Viário Estratégico
Metropolitano de São Paulo, uma parceria do Estado com a prefeitura. A
Camargo Corrêa adicionou as obras do metrô. Entre as empresas envolvidas
nos lances estão todas as gigantes da construção pilhadas plantando
bananeira dentro dos cofres da Petrobras.
A investigação desenvolve-se em duas frentes. Numa, aos cuidados do
Cade, serão esquadrinhados os conluios formados pelas empresas para
fraudar licitações, elevando criminosamente os valores dos contratos.
Noutra, sob a responsabilidade do Ministério Público, será mapeado o
caminho das propinas que azeitaram as boas relações entre os ladrões e
os personagens que abriram as portas dos orçamentos públicos para a
roubalheira. Há no caminho políticos, partidos e servidores públicos.
O destino ofereceu ao tucanato todas as oportunidades para limpar a lama
de sua plumagem. O primeiro aviso foi dado pelo Judiciário da Suíça ao
condenar a Alstom, companhia francesa, pelas propinas que pagou em
diversos países, inclusive no Brasil, sobretudo em São Paulo. Vieram à
luz denúncias de 1995, alvorecer do império tucano.
A coisa ficou ainda mais malcheirosa quando a alemã Siemens, nas pegadas
de um processo de higienização inaugurado na matriz em 2008, firmou um
acordo de colaboração com o mesmo Cade. Iluminaram-se os porões das
licitações paulistas de equipamentos e serviços públicos. Nessa época,
Alckmin preferiu realçar o petismo do Ministério da Justiça, de cujo
organograma pende o Cade. Dedicou-se, de resto, a atacar a empresa
colaboradora. Foi como se o governador, que tem formação médica,
culpasse a radiografia pela doença.
Alckmin não é, por ora, o alvo central da apuração. Apenas no período
recoberto pelas revelações da Odebrecht, passaram pelo Palácio dos
Bandeirantes outros três personagens: os tucanos José Serra e Alberto
Goldman, e Claudio Lembo, um vice do ex-PFL que assumiu o governo
estadual entre abril de 2006 e janeiro de 2007.
O problema é que será Alckmin o presidenciável do PSDB em 2018, ano em
que o melado contido pela blindagem do tucanato paulista deve escorrer
pela fenda. Convém providenciar meio quilo de explicações para levar à
balança na hora que o escândalo invadir os debates.
Quando as novidades começarem a se imiscuir na agenda da campanha, o
candidato sempre poderá alegar que desconhecia eventuais malfeitos. Mas o
político que popularizou o bordão “eu não sabia” já foi condenado a 9
anos e meio de cadeia e pode ter a sentença confirmada em segunda
instância num julgamento que o TRF-4 fará em 24 de janeiro de 2018.
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