Antonio Palocci era o elo que levava o dinheiro
dos empresários a Lula
dos empresários a Lula
Vera Magalhães |
Nos filmes de máfia sempre existe aquele momento de tensão em que um
lugar-tenente ou alguém menos expressivo na hierarquia começa a dar
sinais de que vai roer a corda e ajudar os investigadores ou se bandear
para o grupo rival. Na ficção, esse conflito geralmente acaba em morte,
mas às vezes resulta na implosão da organização.
No enredo de gângsteres que a Lava Jato revela ao Brasil em temporadas
cada vez mais eletrizantes, por ora não se teve ainda — o que é até de
certa forma surpreendente, dada a profundidade e a extensão das
revelações — casos de queima de arquivo, ou mesmo tentativas de. Mas a
implosão das organizações criminosas pelo “pio” de suas figuras
proeminentes tem sido e tende a ser o grande complicador para os capos
políticos.
Agora questionada pela razão, mais ou menos óbvia, de que não produziu
provas materiais, a delação de Delcídio do Amaral foi a primeira nessa
categoria de colaborações. Ex-presidente da CPI dos Correios, ex-líder
do governo Dilma Rousseff, frequentador assíduo do Instituto Lula e
interface do PT com a Petrobrás por décadas, Delcídio sempre foi um
insider.
Suas revelações sobre a cadeia de comando no PT e na relação do partido
com as empresas, embora não tenham recibo, se mostraram precisas na
descrição da engrenagem. Ele disse: Antonio Palocci era o elo que levava
o dinheiro das empreiteiras a Lula.
Vieram as colaborações da Odebrecht, essas sim mais municiadas de
documentos, pois envolvem a máquina de uma das maiores empresas do País,
que tinha até um departamento dedicado à corrupção e, portanto, dispõe
de planilhas, passagens, depósitos, contratos para ofertar, e confirmou,
ipsis litteris, a narrativa de Delcídio.
Agora está próximo de ser selado o acordo em que Palocci dará o fecho na
cadeia de confissões que começa em Delcídio, passa pela Odebrecht,
demais empreiteiras, pelo casal João Santana e Mônica Moura e acaba em
Lula.
Não é por outra razão que a figura que se sentou diante do juiz Sérgio
Moro na quarta-feira nada mais era do que uma fera acuada. Por trás de
uma malograda tentativa de soar indignado ou falar como psicólogo sobre
as supostas razões de seu antigo lugar-tenente, Lula deixava
transparecer na voz rouca e nos olhos assustados a certeza de que não há
como contestar o que está por vir.
Por um mistério desses da política, Palocci, um médico interiorano sem
nenhuma expertise em economia em 2002, foi o passaporte de ingresso de
Lula nos salões dos empresários. Foi ele que, juntamente com os
marqueteiros Duda Mendonça e João Santana, passou em Lula a camada de
verniz que atestava: se eleito, ele não vai contrariar vossos
interesses, muito pelo contrário.
Uma vez que a “esperança” venceu o medo, coube a ele voltar aos que lhe
abriram as portas para introduzir Lula e apresentar o prospecto do custo
que teriam e dos benefícios de que gozariam para ser “amigos” do PT. Um
plano de fidelização que levou empresas à condição de campeões
nacionais na velocidade da luz e deu no que estamos vendo agora.
Dizer que este personagem, assim tão central, diz o que diz sem ter
elementos para demonstrar as acusações é brincar com a inteligência
alheia. Palocci construiu uma consultoria gigante. Contratos maquiados e
tráfico de influência eram seu core business. E o Instituto Lula, sua
segunda sede.
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