Depoimento ao TSE de ex-diretor delator da Petrobrás pode levar à cassação de Michel Temer
Paulo Roberto Costa |
Em depoimento prestado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o
ex-diretor de abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou que
chamou empreiteiras que não participavam de um esquema de cartel para
participar de licitações na estatal, mas foi alertado por executivos da
Odebrecht de que ia “quebrar a cara”. O depoimento de Costa foi feito no
âmbito do processo em tramitação na Corte Eleitoral que pode levar à
cassação da chapa vitoriosa de Dilma Rousseff e Michel Temer na eleição
de 2014.
Costa reafirmou ao ministro relator do processo, Herman Benjamin, a
existência de empreiteiras que se reuniam e faziam entre si a divisão
das obras da Petrobrás, entre gasodutos, plataformas, refinarias — o
grupo ficou conhecido como “Clube das Empreiteiras”, formado por
Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, entre
outras.
“As empresas do cartel, nós sabíamos que pagavam propina. E, quando você
chamava para as grandes obras aquelas empresas, já sabia que ia ter
pagamento”, disse o ex-diretor de abastecimento, um dos delatores da
Operação Lava Jato.
O ex-diretor da Petrobrás destacou no depoimento que por volta de 2009
ou 2010, sem estar satisfeito com o que estava acontecendo na estatal,
resolveu chamar empresas de menor porte para participar de algumas
licitações, principalmente no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.
“E até pra dar uma balançada, quebrar um pouco esse cartel, porque eu
não tava satisfeito com isso. E chamei algumas empresas que
participaram, e eu fui procurado pelo pessoal da Odebrecht, onde eles me
falaram que eu ia quebrar a cara, porque essas empresas não iam dar
conta do serviço”, disse Costa.
“E, realmente, em alguns contratos, eu quebrei a cara, porque as
empresas não deram conta e, em outros contratos, as empresas fizeram o
trabalho. Às vezes demorando mais, com mais dificuldade, mas fizeram”,
completou o engenheiro.
Uma comitiva da Odebrecht desembarcou em Brasília no início deste mês
para negociar aquela que pode se tornar a mais explosiva delação
premiada da Operação Lava Jato. A empreiteira negocia um acordo com a
Procuradoria-Geral da República para que o executivo Marcelo Odebrecht e
cerca de outras 50 pessoas confessem seus crimes em troca de redução
nas penas.
O ex-diretor da Petrobrás também reiterou ao TSE que a atuação do “Clube
das Empreiteiras” não se limitava ao ramo do petróleo, ocorrendo em
licitações de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. “Isso acontecia
no Brasil inteiro, em todas as obras, porque as empresas são as mesmas e
o processo era o mesmo”, comentou Costa.
DOAÇÃO — Em outro depoimento ao TSE, o ex-presidente da Camargo Corrêa
Dalton Avancini afirmou que o pagamento de propina fazia parte dos
negócios com a Petrobrás.
“Era um compromisso, quer dizer, que a empresa tinha e isso era um
compromisso existente, que deveria ser mantido. Ou seja, por ter os
contratos e por estar participando desses negócios, nós tínhamos uma
obrigação, né, que fazia parte do negócio e tinha que ser cumprida”,
afirmou Avancini.
Segundo Avancini, o ex-diretor de serviços da Petrobrás Renato Duque
colocava “de forma sutil” que, caso o acordo não fosse cumprido, haveria
“algum tipo de impacto” nos negócios.
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