quinta-feira, 3 de novembro de 2016

“Brasileiro é tão bonzinho”






Difícil dizer o que é mais espantoso na pesquisa feita pelo Datafolha sobre violência. Todos os dados são aterradores. A realidade não é propriamente desconhecida. O que espanta é a incapacidade do Estado de mudar o rumo das coisas. É impressionante a quantidade de brasileiros que temem ser assassinados (76%) ou agredidos por bandidos (85%). Mas impressiona ainda o fato de que 70% dos entrevistados acham que os policiais cometem excessos de violência quando estão trabalhando. A maioria teme ser agredida também pela polícia: 59% têm medo da PM, 53% temem a a policia civil.
Na semana passada, reuniram-se em Brasília para discutir a encrenca da segurança pública os presidentes dos três Poderes — Michel Temer pelo Executivo, Renan Calheiros pelo Legislativo e Cármen Lúcia pelo Judiciário. Nesse encontro, falou-se de quase tudo. Mas não consta que a violência policial tenha sido tratada. E a pesquisa indica que, aos olhos da clientela, a polícia não precisa apenas de armas e munição. Precisa ser treinada para adotar um comportamento que a diferencie do bandido.
A pesquisa também mostra que o brasileiro é prisioneiro de uma contradição: 57% dos entrevistados concordaram com a tese segundo a qual “bandido bom é bandido morto.” O problema é que o policial que extermina bandidos por conta própria é o mesmo que se sente autorizado a descer a porrada no cidadão de bem que solta fogos quando a bandidagem é passada nas armas.
É sabido que a maioria dos policiais trabalha honestamente e sob condições adversas. Mas os 10% que trafegam à margem da lei dão aos outros 90% uma péssima reputação. Os as coisas mudam ou logo, logo ninguém vai conversar com um policial, a não ser em legítima defesa.




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