Lula sai da eleição de 2016 pela porta dos fundos
Luiz Inácio Lula da Silva |
No primeiro turno da eleição municipal, Lula votou em São Bernardo do
Campo. Estava acompanhado de sua mulher, Marisa, do prefeito petista
Luiz Marinho e do candidato do PT à prefeitura da cidade, Tarcísio
Secoli. Na saída, Lula fez uma aposta alta: “O PT vai surpreender nesta
eleição”. Disse meia dúzia de palavras sobre a disputa na capital
paulista: “Se o povo de São Paulo tiver o orgulho que pensa que tem, se
tiver a inteligência que pensa que tem, ele não tem outra coisa a fazer
que não seja votar no [Fernando] Haddad”.
Todos já sabiam que o PT estava à beira do abismo. Mas ninguém poderia
supor que o morubixaba da legenda fosse pisar voluntariamente no
sabonete. Em São Bernardo, Secoli não foi para o segundo turno, que foi
disputado por dois aliados do tucano Geraldo Alckmin: Orlando Morando
(PSDB), o vitorioso, e Alex Manente (PPS). Em São Paulo, sucedeu algo
mais dramático. Além de ficar pelo caminho, Haddad assistiu ao triunfo
do tucano João Doria, afilhado de Alckmin, no primeiro round. Coisa
jamais vista na capital. Nacionalmente, o PT foi dizimado.
Lula ficou numa situação análoga à do apostador que deixa as calças
sobre o pano verde e abandona o salão de jogos sem dinheiro para o
ônibus. Queimaram-se os fusíveis da intuição lendária do grande guia dos
povos. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Lula parece mesmo
decidido a provar que é errando que se aprende … a errar. Resolveu que,
no domingo (30.out.2016), não iria votar. Sua ausência foi confirmada.
Em 27.out.2016 Lula completou 71 anos. Alega que a lei desobriga os
septuagenários de votar.
Curioso, muito curioso, curiosíssimo. No primeiro turno, Lula fora
vaiado e aplaudido na sessão eleitoral em que votou. Acionou seus
tímpanos seletivos. “Eu não ouvi vaias. Era tanto aplauso! É como quando
o Corinthians vai jogar, mesmo sendo no Itaquerão. Tem sempre meia
dúzia de torcedores do outro time. Pergunta se o jogador ouve vaia. Só
ouve aplausos.” Agora, excluído da partida, age como garoto mimado. Se
pudesse, interromperia o jogo, levando a bola para casa. Por sorte, nas
democracias a bola pertence ao eleitor.
Lula gostaria de ser candidato à Presidência em 2018. Mesmo que sua
situação penal o exclua dessa briga, como democrata que diz ser deveria
respeitar a divergência, abstendo-se de desqualificar as opções alheias
com atitudes desnecessárias. Do modo como passou a agir, pode empurrar
até as pessoas que ainda tentam admirá-lo para uma conclusão inexorável:
quem acha que não tem idade para votar já está velho demais para ser
votado.
Na fatídica entrevista em que vaticinara o desempenho surpreendente do
PT, Lula desdenhara dos efeitos do petrolão sobre as urnas. Rosnara para
a conjuntura: “Quanto mais ódio se estimula contra mim, mais amor se
cria. Essa gente vai se surpreender porque, a partir dessas eleições, eu
vou começar a andar pelo Brasil …” Sem saber como ficará o seu direito
de ir e vir depois que a Lava Jato decidir o seu futuro, Lula teria
feito um bem a si mesmo se tivesse andado do seu apartamento, em São
Bernardo, até sua zona eleitoral. Não resolveria o fiasco do PT. Mas
evitaria o constrangimento de sair da eleição municipal de 2016 pela
porta dos fundos.
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