Petrobras destrói gravações das reuniões do Conselho de Administração
Registros em áudio e vídeo continham
discussões sobre obras da Lava Jato e participação da presidente Dilma
na compra da Refinaria de Pasadena; estatal afirma que eliminação está
prevista no Regimento Interno
A Petrobras destruiu gravações das reuniões do seu Conselho de
Administração, entre elas as que trataram de negócios investigados na
Operação Lava Jato. Em resposta a pedidos da reportagem, feitos por meio
da Lei de Acesso à Informação, a estatal informou que áudios e vídeos
com os diálogos dos conselheiros são “eliminados” após formalizadas as
atas dos encontros. Nos registros supostamente apagados, constavam as
participações da presidente Dilma Rousseff, que chefiou o colegiado de
2003 a 2010, quando era ministra da Casa Civil do governo Lula.
A destruição das gravações torna mais difícil saber, em detalhes, como
se deram as discussões dos conselheiros ao aprovar os investimentos da
companhia. Também compromete a investigação de eventuais irregularidades
cometidas por eles no exercício dessas funções. Aos integrantes do
colegiado, cabe dar aval para as principais obras da empresa, incluindo
empreendimentos alvos da Lava Jato, que apura esquema de corrupção,
cartel e superfaturamento na empresa.
As atas das reuniões registram os assuntos debatidos, mas não na
integralidade. Por isso, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Petrobras e o Tribunal de Contas da União (TCU) cobram informações sobre
o paradeiro das gravações. A estatal vem protelando respostas. A CPI
deu prazo até segunda-feira (04.maio.2015) para a entrega dos registros
existentes sobre os encontros, sob pena de requerer uma busca da Polícia
Federal na sede da petroleira, no Rio de Janeiro.
O tribunal decidiu checar, nas fiscalizações sobre obras e serviços da
companhia, se os conselhos Fiscal e de Administração praticaram “atos de
gestão ruinosa ou deixaram de atuar com o necessário dever de cuidado”
ao aprová-los. Isso significa que a presidente Dilma pode ser implicada
por eventuais falhas detectadas nas auditorias.
Atualmente, há ao menos 60 processos sobre a Petrobras em curso no TCU,
dos quais 15 têm conexão com a Operação Lava Jato e dez com a compra de
Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). No comando do conselho, em 2006,
Dilma aprovou a primeira etapa da aquisição da refinaria, negócio que
causou prejuízo de US$ 792 milhões, conforme o tribunal. O ex-diretor
Paulo Roberto Costa, um dos delatores da Lava Jato, confessou ter
recebido propina para “não atrapalhar” a compra.
Registros eliminados
A reportagem questiona a Petrobras sobre as gravações desde o início de
fevereiro, mas a Gerência de Imprensa da estatal não se pronunciou. Os
pedidos foram feitos, então, pela Lei de Acesso, que obriga gestores a
divulgarem informações de interesse público.
A Petrobras informou que as reuniões do Conselho de Administração são
registradas por meio de gravador “colocado na sala” do encontro e também
por meio de videoconferência. “Após as respectivas atas serem aprovadas
e assinadas por todos os membros das respectivas reuniões, as gravações
são eliminadas”, alegou a estatal. Segundo a empresa, isso vale para
reuniões de março de 2006, com a participação de Dilma, e de 2012, nas
quais foram aprovadas as duas etapas da compra de Pasadena. “Os dados
(gravados) pretendidos não existem”, acrescentou.
Os encontros da Diretoria Executiva, responsável pela gestão dos
negócios investigados, não são registrados nem em áudio nem em vídeo,
segundo a companhia. A Petrobras explica que a destruição está prevista
no Regimento Interno do Conselho de Administração. Mas, questionada pela
reportagem, a Gerência de Imprensa não apresentou o documento. A
reportagem também o solicitou à secretaria responsável por auxiliar o
Conselho de Administração. O órgão informou que a norma é sigilosa.
Ao TCU, a estatal explicou que elimina os registros, mas não entregou à
corte o normativo que, em tese, autoriza a prática. A corte quer saber
em que condições os arquivos são apagados e desde quando.
Dois conselheiros de administração informaram a reportagem que a estatal
“tradicionalmente” destrói as gravações. O procedimento só cessou após a
Operação Lava Jato, deflagrada em março do ano passado, como forma de
“manter” informações e evitar problemas com os investigadores. “As atas
das reuniões são um registro precário. Certamente, um áudio permite
visão bem mais completa do que ocorre (nos encontros)”, disse,
reservadamente, um dos conselheiros.
Outras empresas controladas pelo governo não gravam as reuniões. A
Eletrobras e a Caixa explicaram que os encontros de seus conselheiros de
administração são registrados somente em atas. O Banco do Brasil
informou que a gravação não é praxe e só ocorre quando as discussões são
mais complexas, para facilitar a elaboração das atas. Nesses casos,
depois da produção dos documentos, as gravações são apagadas, informou a
assessoria.
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