Dilma Rousseff irritou-se com declaração de Levy
Coube ao chefe da Casa Civil telefonar
ao ministro da Fazenda para falar da irritação da presidente com frase
divulgada no sábado
Aloizio Mercadante Ministro da Casa Civil |
A presidente Dilma Rousseff escalou o ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, para transmitir sua profunda insatisfação com declarações do
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que ela nem sempre age da forma
mais eficaz. Dilma, segundo interlocutores, ficou irritada e indignada
ao tomar conhecimento da fala de Levy, feita na terça-feira passada
(24.mar.2015) em um encontro em São Paulo, e divulgada no sábado
(28.mar.2015).
Mercadante telefonou ao ministro da Fazenda ainda no sábado
(28.mar.2015), após tomar conhecimento da fala de Levy, feita numa
palestra para ex-alunos e professores da Universidade de Chicago. “Acho
que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes,
não da maneira mais fácil ... Não da maneira mais efetiva, mas há um
desejo genuíno”, disse Levy, em inglês.
A avaliação no Planalto e no Congresso é que esse tipo de discurso vindo
do principal ministro da área econômica e responsável por sanear as
contas públicas do País dificulta as negociações em torno do ajuste
fiscal. É dado como certo que o tema deve interferir nas discussões em
audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, marcada
para terça-feira (31.mar.2015), quando o ministro pretende detalhar seu
plano de corte de gastos e a política de retomada do crescimento.
Resistências
Em meio a sucessivas derrotas sofridas pelo governo no Congresso, um dos
principais objetivos do Planalto é que o Senado retire de pauta projeto
que obriga a presidente a regulamentar a troca dos indexadores da
dívida de Estados e municípios com a União, reduzindo o valor devido.
Isso depende de a audiência de Levy na CAE não ser contaminada pelas
suas recentes declarações.
“Ele (Levy) tem que tomar mais cuidado. É evidente que é ruim e dá
munição para quem quer. A presidente já está sendo muito atacada”,
afirmou, reservadamente, um ministro próximo à presidente.
A avaliação de aliados é que, se o próprio ministro da Fazenda questiona
a eficiência da presidente, é difícil convencer os congressistas a
aderir a um pacote de medidas impopulares proposto por ela. Para o
Planalto e aliados, Levy, mais do que ninguém, precisa defender o
governo em um contexto em que o ajuste enfrenta resistência da oposição e
de partidos da base, entre eles o próprio PT.
Apesar do mal-estar causado pelas declarações, o Planalto trabalhará
para minimizar o episódio. Espera-se que Dilma se posicione na primeira
oportunidade em que for questionada por jornalistas, mas uma reprimenda
dura ao ministro fragilizaria ainda mais o governo nas negociações.
Reações
No Congresso, a polêmica deve fermentar com a ajuda da oposição e do
próprio PT. “Do ponto de vista político, a fala do ministro é temerária:
ironiza a presidente em público. Isso corrói ainda mais a credibilidade
do governo a que pertence”, afirmou o senador José Serra (PSDB-SP),
suplente da CAE.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), também integrante da CAE, disse
que perdeu o cargo de ministro da Educação no primeiro mandato de Lula
por ter criticado o governo de forma mais branda do que fez Levy.
Buarque ocupou o cargo entre 2003 e 2004 e foi demitido por telefone.
“Fui dizer coisas desse tipo sobre o Lula, sem nem citar o nome dele, e
acabei caindo. Lembro da frase que eu disse: não precisa do Fome Zero,
basta ampliar a Bolsa Família. Essas coisas é perigoso para um ministro
dizer.”
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), “não é recomendado a um
subordinado esse grau de liberdade”. “Espera-se dele um discurso mais
uníssono ao da presidente.” O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira
(PMDB-CE), disse que “ele quis dizer que a presidente é bem intencionada
e, às vezes, as coisas não dão certo ou é difícil.
Levy não quis se pronunciar no domingo (29.mar.2015). Na noite de sábado
(28.mar.2015), ele divulgou nota dizendo que sua declaração foi mal
interpretada.
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