Valor de propina citada por delator
é similar ao de doações oficiais ao PT
Pedro Barusco, então gerente de Engenharia da Petrobras, ao fundo se avista barco plataforma da estatal |
Levantamento feito identificou doações oficiais ao
diretório nacional do PT em valores e épocas que coincidem com as
propinas relatadas pelo delator e ex-gerente de engenharia da Petrobras
Pedro José Barusco Filho no acordo de delação premiada fechado na Operação Lava Jato.
Barusco disse que a propina paga ao PT era calculada com base no valor
de cada contrato fechado pelas empreiteiras com a Petrobras.
Na tabela
entregue à Justiça Federal e nos depoimentos à Polícia Federal, Barusco
indicou que 0,5% sobre o valor do contrato fechado pela estatal na
refinaria de Paulínia (SP) com as empresas MPE e EBE (Empresa Brasileira
de Engenharia) foi destinado ao "Part", sigla que ele usou para
designar o PT.
O valor do contrato era de R$ 216 milhões, o que representaria um pagamento de R$ 1,08 milhão ao partido.
Segundo a tabela de Barusco, o contrato tem fevereiro de 2011 como data
de referência. Em junho e agosto daquele ano, o diretório nacional do PT
recebeu duas doações da MPE e uma da EBE que, somadas, corresponderam a
exatamente R$ 1 milhão, segundo a Justiça Eleitoral.
Além disso, segundo a tabela de Barusco, estava previsto pagamento ao PT
de uma taxa de 0,5% sobre um contrato fechado pela Petrobras com o
estaleiro Keppel Fels, multinacional de Cingapura, na plataforma P-58,
pelo valor de R$ 185,8 milhões, ao câmbio do dia anotado por Barusco.
Assim, o valor previsto ao PT seria de R$ 929 mil.
Quatro meses depois, o PT nacional recebeu uma doação de exatos R$ 930
mil da FSTP Brasil Ltda. Trata-se de uma empresa pertencente
majoritariamente à Keppel Fels (75% das ações).
Uma terceira coincidência entre doações partidárias e as informações de
Barusco também se relaciona à Keppel Fels. Um total de R$ 7,44 milhões
foi doado ao diretório nacional do PT entre 2008 e 2010 pelo estaleiro,
tanto diretamente quanto por Brasfels e FSTP.
O delator relatou número semelhante. De acordo com Barusco, foi pago
"até o ano de 2013", como suposta propina do estaleiro ao tesoureiro do
PT, um total de US$ 4,5 milhões. Assim, em reais o valor teria sido de
R$ 7 milhões na cotação do dólar mais baixa no período.
CONTRIBUIÇÕES
Outro delator, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da
empreiteira Setal, afirmou que parte do suborno que pagou se traduziu em
"doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". Ele contou que foi
orientado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque a
procurar o tesoureiro da sigla, João Vaccari Neto, e dizer que "gostaria
de fazer contribuições".
Mendonça Neto disse que na conversa com Vaccari, ocorrida por volta de
2008, ele não revelou que "as doações seriam feitas a pedido de Renato
Duque".
Segundo o executivo, Vaccari o orientou "como fazer" as doações. Por
meio de três empresas, Mendonça Neto de fato doou R$ 4 milhões ao caixa
oficial do PT.
OUTRO LADO
Partido diz que as contribuições eram regulares
O Diretório Nacional do PT informou na segunda-feira (09.fev.2015) que
todas as doações recebidas pela sigla "são feitas na formas da lei e
declaradas à Justiça" Eleitoral.
O grupo MPE afirmou, em nota, que contesta os valores presentes na
planilha entregue aos investigadores da Lava Jato por Pedro Barusco. A
empresa negou que os dados em questão sejam verdadeiros. Afirmou ainda
que todas as suas doações "foram feitas dentro da legalidade".
Na semana passada, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, emitiu nota na
qual afirmou que as declarações prestadas por Barusco "seguem a mesma
linha de outras feitas em processos de 'delação premiada' e que têm como
principal característica a tentativa de envolver o partido em
acusações, mas não apresentam provas ou sequer indícios de
irregularidades e, portanto, não merecem crédito".
O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que o tesoureiro
reitera que o PT "não tem caixa dois nem conta no exterior, que não
recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao
partido, em absoluta conformidade com a lei, sempre prestando as
respectivas contas às autoridades competentes".
A reportagem não localizou representantes do estaleiro Keppel Fels.
Nenhum comentário:
Postar um comentário