Petrolão
Delator detalha R$ 1,2 bi em propina para PT e executivos
Lista entregue por ex-gerente mostra valores obtidos por meio de 89 contratos
Planilha indica que desvios na Petrobras renderam R$ 455,1 mi ao PT, que nega ter obtido dinheiro ilegal
Planilha indica que desvios na Petrobras renderam R$ 455,1 mi ao PT, que nega ter obtido dinheiro ilegal
Pedro Barusco |
Os 89 maiores contratos da Petrobras foram a fonte para um volume total
de propina que chega a R$ 1,2 bilhão, segundo valores contidos em
planilha entregue aos procuradores da Operação Lava Jato por Pedro
Barusco, ex-gerente da petroleira, e corrigidos pela inflação do
período.
Os contratos listados por Barusco somam R$ 97 bilhões. O suborno
equivale a 1,3% deste valor. Em depoimento que prestou após acordo de
delação premiada, o ex-gerente citou que a propina variava de 1% a 2% do
valor contratado.
A tabela de cinco páginas detalha em que acertos houve propina, quem
pagou, o nome do intermediário, em que data e como o dinheiro foi
dividido entre o PT, o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa,
o ex-diretor de Serviços, Renato Duque, e o próprio Barusco.
Duque ocupou o cargo por indicação do PT, o que seus advogados negam.
No acordo que assinou, Barusco se comprometeu a devolver US$ 97 milhões que recebera de suborno.
De acordo com a planilha, o PT ficou com a maior parte dos recursos: R$
455,1 milhões, equivalente hoje a US$ 164 milhões. O partido nega ter
recebido doações ilegais.
No depoimento aos procuradores, Barusco disse que a parte do suborno que
ficara com o PT era de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões.
A empreiteira que mais pagou propina, segundo a lista de Barusco, é a
Engevix. A empresa ocupa essa posição porque conquistou o maior contrato
citado pelo ex-gerente na planilha, de R$ 9 bilhões, para a construção
de cascos de navio para a exploração do pré-sal.
Nesse caso, detalha Barusco, a propina foi de 1% do valor do contrato
(R$ 90 milhões), dividida em partes iguais entre o PT e a diretoria de
Serviços da estatal.
Os pagamentos listados ocorreram entre maio de 2004 e fevereiro de 2011, nos governos Lula e Dilma Rousseff.
Os dados mostram que a maior parte da propina foi paga em 2010, ano da
primeira eleição de Dilma. De acordo com a tabela, foram embolsados R$
374 milhões. Desse total, o PT teria ficado com R$ 120 milhões.
METÓDICO
O material apresentado por Barusco é organizado ao ponto de apresentar
os centavos de obras bilionárias da Petrobras. Onze agentes que
intermediavam a propina são mencionados, entre os quais Julio Camargo --
ligado à empresa Toyo Setal e também delator do esquema -- e Idelfonso
Colares, presidente da Queiroz Galvão até 2013.
Já na coluna sobre a divisão do suborno, Barusco usa códigos: "part"
para Partido dos Trabalhadores, "PR" para Paulo Roberto Costa e "casa"
para identificar a diretoria de Serviços.
Em alguns casos, a divisão da "casa" aparece detalhada. Em uma obra na
refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, há a indicação
"(0,6MW 0,4Sab)" ao lado do registro de uma propina de 1% para a
diretoria.
"MW" é uma referência a Renato Duque, a quem Barusco se referia como "My
Way", título de canção interpretada por Frank Sinatra. "Sab" identifica
o próprio ex-gerente da Petrobras, numa alusão a Sabrina, nome de uma
ex-namorada, segundo ele relatou à Polícia Federal.
Assim, só nesse contrato Duque levou R$ 7,9 milhões e Barusco, R$ 5,3 milhões.
OUTRO LADO
Empreiteiras negam ter feito os pagamentos
Das empresas que aparecem na lista dos dez maiores pagadores de propina
na planilha de Pedro Barusco, só Andrade Gutierrez e Odebrecht
comentaram a tabela apresentada pelo ex-gerente da Petrobras aos
procuradores.
Ambas as empreiteiras negam ter feito os pagamentos relatados na lista.
"A Odebrecht nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu
confesso. Nega em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer
executivo ou ex-executivo da Petrobras", afirma nota da empresa.
A empresa diz que todos os contratos que mantém com a Petrobras são legais.
A Andrade afirmou que "não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso".
A Queiroz Galvão e a Mendes Junior dizem que não se pronunciam sobre
investigações em andamento. A Queiroz Galvão frisa que respeita a
legislação.
O advogado de Renato Duque, Alexandre de Moraes, disse que Barusco mente sobre seu cliente para obter benefícios da Justiça.
As empresas que não quiseram se pronunciar são a Engevix, a UTC e a OAS.
A reportagem não conseguiu localizar representantes da Alusa, Galvão,
Techint, Toyo, IESA, KeppelFels e SBM até o final da tarde de
sexta-feira (06.fev.2015).
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