Grupo alemão anti-islã perde força
após atrair a extrema direita
A calma foi restabelecida nas ruas de Dresden (Alemanha) na última segunda-feira (02.fev.2015).
Pela primeira vez desde outubro o centro da cidade não foi tomado por
milhares de manifestantes do Pegida, grupo que organiza protestos
semanais contra a "islamização" da Europa.
Um racha interno causou a desintegração de sua cúpula, obrigando o
movimento a cancelar a 14ª marcha noturna na cidade e levantando dúvidas
sobre seu futuro.
Fundado em outubro em Dresden, o Pegida (sigla em alemão para "Europeus
Patriotas contra a Islamização do Ocidente") surpreendeu a comunidade
internacional ao reunir multidões em suas manifestações semanais, que
atraíam cada vez mais simpatizantes, principalmente da classe média não
politizada.
Os problemas começaram quando os atos passaram a atrair a extrema direita.
"Radicais de direita sonham há anos com uma oportunidade como a
apresentada pelo Pegida", disse "Julius", codinome de um dos fundadores
da página do Facebook PEGIDA#watch, que concentra informações sobre
protestos contra o grupo.
Essa aproximação com radicais, segundo especialistas, está no centro das dificuldades enfrentadas pelo Pegida.
"Na Alemanha, quando um grupo passa a ser associado a extremistas de
direita, é questão de tempo para que seja enfraquecido", disse o
cientista político Hajo Funke, da Freie Universität (Berlim).
Lutz Bachmann com bigode e
penteado semelhantes aos de Adolf Hitler |
No fim de janeiro, o fundador e presidente do Pegida, Lutz Bachmann,
renunciou ao cargo após a imprensa alemã divulgar foto sua com bigode e
penteado semelhantes aos de Adolf Hitler.
Dias depois, foi a vez de a porta-voz do movimento, Kathrin Oertel,
anunciar sua demissão, com outros quatro integrantes do comitê central,
deixando o grupo com metade da liderança original de 12 membros.
O motivo da saída, segundo especulações da imprensa, seria uma
combinação de fatores que vão do envolvimento do Pegida com grupos
neonazistas até o papel que Bachmann continuaria a desempenhar no
movimento apesar de sua renúncia.
No início da semana, Oertel anunciou a criação de um novo grupo – o
"Democracia Direita para a Europa"– e convocou a população de Dresden a
participar de sua primeira manifestação, marcada para este domingo
(08.fev.2015).
O Pegida, que rejeitou os pedidos de entrevista feitos pela reportagem,
anunciou que retomará seus atos a partir desta segunda (09.fev.2015).
Segundo Funke, a atual crise seria "o começo do fim" do grupo. "A força
do Pegida era um fenômeno localizado. Nas outras cidades alemãs onde fez
protestos o grupo não conseguiu o mesmo apoio que teve em Dresden."
REJEIÇÃO POPULAR
Com um discurso contra os imigrantes, a imprensa e as políticas de
imigração do governo alemão, o Pegida expandiu suas atividades para
países Áustria e Reino Unido.
"As atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico e a guerra na Síria são
alguns dos fatores que contribuíram para o fortalecimento do grupo",
explicou o especialista em extremismo Johannes Baldauf, da Fundação
Amadeu Antonio.
Cerca de 4 milhões de muçulmanos vivem na Alemanha, a grande maioria em Berlim e em cidades da antiga Alemanha Ocidental.
A pequena quantidade de muçulmanos no leste do país contribuiu para o
crescimento do Pegida. "O sentimento anti-islã está ligado ao fato de
que muitas pessoas no país não têm contato com muçulmanos", disse Detlef
Pollack, da Universidade de Münster.
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