Estaleiro rompe contrato de US$ 6 bilhões
Sem receber, EAS decide que não vai mais
fornecer navios-sonda para Sete Brasil, empresa criada pela Petrobrás
para explorar o pré-sal
Estaleiro Atlântico Sul está demitindo funcionários |
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que pertence às construtoras Camargo
Corrêa e Queiroz Galvão, quer romper o contrato para a construção de
sete sondas do pré-sal. O estaleiro enviou, na sexta-feira
(20.fev.2015), um comunicado à Sete Brasil, companhia criada pela
Petrobrás para gerenciar as compras de sondas para o pré-sal, informando
sua intenção de cancelar o negócio em função da inadimplência da
companhia, que desde novembro está sem pagar os cinco estaleiros
responsáveis pela construção de 29 sondas. O valor dos contratos somam
US$ 25 bilhões. Somente o contrato da EAS é estimado, em valores atuais,
em US$ 6 bilhões.
A situação financeira da Sete Brasil vem se deteriorando desde que o
ex-executivo da companhia, Pedro Barusco, se tornou delator da Operação
Lava Jato e a Petrobrás ameaçou cancelar a compra das sete sondas,
justamente às referentes ao contrato com o EAS, em dezembro passado.
Estas questões estavam superadas, até que mais recentemente veio à tona o
conteúdo da delação de Barusco, que implica os estaleiros em suposto
pagamento de propina, o que acabou por impedir que o BNDES liberasse
recursos do financiamento de longo prazo para a Sete.
Desde novembro, a empresa já deixou de pagar em torno de R$ 2 bilhões
aos cinco estaleiros contratados para construir as sondas. Sem a entrada
de recursos, alguns desses estaleiros estão reduzindo a produção,
demitindo pessoas, ameaçando ir à Justiça e agora a EAS quer cancelar o
contrato.
Em nota enviada a reportagem, a Sete Brasil confirmou a intenção do EAS
de cancelar o contrato, mas informou que a empresa não tem suporte legal
para tomar essa decisão. O departamento jurídico da Sete Brasil já está
estudando as medidas que deverão ser adotadas contra essa decisão.
Procurada, a EAS não respondeu aos pedidos de entrevista. A Queiroz
Galvão e a Camargo Corrêa informaram que é a EAS que tem de se
pronunciar sobre o assunto.
Os atuais executivos da Sete Brasil e seus acionistas estão em um
esforço para tentar aprovar o financiamento com o BNDES e assinar o
contrato com a Petrobrás, que também está pendente. Para isso, tentam
desvincular os antigos executivos, que teriam recebido as propinas, da
empresa. O mesmo fazem alguns estaleiros, tentando separar os negócios
dos agentes acusados de corrupção.
Na nota enviada a reportagem, a Sete reforça esta posição e diz que só
está na atual situação em decorrência do que foi apontado na Operação
Lava Jato. “Esse é o nosso principal obstáculo. A liberação do primeiro
desembolso do BNDES, de US$ 3,2 bilhões, estava para ser feita, mas o
banco voltou atrás após o depoimento de delação premiada de Barusco
(ex-gerente de engenharia da Petrobrás e ex-diretor da Sete Brasil)”,
disse uma fonte ligada à empresa.
Essa mesma fonte reforça a tese de que a companhia é “vítima” dessa
situação e que os próprios estaleiros que prestam contrato, a partir do
depoimento do Barusco, prejudicaram a companhia. “Também estamos
estudando medidas legais que podem ser tomadas com essas declarações”,
disse a fonte, referindo-se ao fato de os estaleiros terem pago
propinas, conforme depoimento de Barusco. “Nós, da Sete Brasil, não
estamos envolvidos na Operação Lava Jato”, disse.
Estaleiros
Além da EAS, outros quatro estaleiros prestam serviços para a Sete
Brasil - o Enseada, que pertence às construtoras Odebrecht, OAS e UTC e o
grupo japonês Kawasaki; o Rio Grande, da construtora Engevix; o
estaleiro BrasFels, do grupo Keppel, de Cingapura, e o Jurong, também de
Cingapura.
Criada em 2011, a Sete Brasil tem entre seus principais sócios os bancos
BTG, Bradesco e Santander, os fundos de pensão Previ (dos funcionários
do Banco do Brasil), Petros (da Petrobrás), Funcef (da Caixa Econômica
Federal) e Valia (da Vale), o FI- FGTS e a própria Petrobrás.
No início de fevereiro, vieram à tona os termos da delação premiada do
ex-diretor da Sete, Pedro Barusco, e todos os estaleiros foram
envolvidos na Operação Lava Jato. Eles teriam pago propinas à empresa
para fechar os contratos. Essas declarações barraram o a liberação do
financiamento do BNDES. O dinheiro serviria para garantir a construção
do primeiro bloco de sondas.
O BNDES deixou para a próxima diretoria a decisão sobre a operação de
socorro à Sete Brasil, uma das principais fornecedoras da Petrobrás.
Também caberá a atual diretoria da Petrobrás fazer o negócio ir adiante,
isso porque a empresa ainda precisa dar o seu aval para a compra das
sondas. Um dos motivos de o ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir
Bendine, ter sido colocado no posto, inclusive, segundo entendem
acionistas e fornecedores da Sete, foi justamente para tentar resolver a
situação da Sete.
A empresa tem mais de US$ 4 bilhões em financiamentos de curto prazo com
os bancos, entre eles o próprio Banco do Brasil. A quebra da empresa
poderia acarretar em prejuízos de R$ 28 bilhões. Só os acionistas
colocaram R$ 8,3 bilhões.
Demissões
No último dia 13, o estaleiro Enseada, no Recôncavo Baiano, enviou uma
carta aos funcionários dizendo que a indústria naval vive uma crise sem
precedentes e que os atrasos de pagamento da Sete Brasil tornaram sua
situação insustentável. A empresa demitiu naquele dia 350 trabalhadores,
acentuando a crise no setor.
No ano passado, os atrasos da Sete já fizeram a Enseada tomar a decisão
de parar a construção do estaleiro e cerca de 4 mil funcionários que
trabalhavam na obra foram demitidos. A empresa está desde novembro sem
pagar o Enseada e a dívida já chega a R$ 500 milhões. Com a
inadimplência de seu único cliente, está impossível obter crédito.
Segundo o Sindicato da Indústria Naval, só em janeiro deste ano, foram
cortados três mil postos diretamente ligados ao setor.
Também sem receber, o estaleiro Rio Grande, da Engevix, reduziu o ritmo
da produção e a empresa só não demitiu porque tem outros contratos em
andamento e conseguiu transferir seus funcionários para trabalhar em
outras embarcações. Os atrasos da Sete com o Rio Grande chegam a R$ 180
milhões, e a estimativa é de que atinjam R$ 250 milhões.
Fontes afirmam que o mesmo valor é devido ao estaleiro Jurong, do grupo
SembCorp, de Cingapura, e outros R$ 900 milhões estão em atraso com os
outros dois estaleiros, o Atlântico Sul, e o estaleiro BrasFels. E as
demissões também já começam a ocorrer no Atlântico Sul.
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