Banco suíço manteve US$ 7 bilhões
de brasileiros em contas secretas
Documento revela que o HSBC de
Genebra facilitou a abertura de contas
sem perguntar a origem
do dinheiro de 8,7 mil clientes do Brasil
O banco HSBC ajudou a mais de 8,7 mil brasileiros a depositar US$ 7
bilhões em contas secretas na Suíça. Os dados fazem parte de
documentos bancários que revelam como a instituição teve um papel
ativo em facilitar a abertura de contas, sem perguntar a origem do
dinheiro e que, em muitos casos, ajudou a evadir impostos.
No mundo, o banco auxiliou a mais de 100 mil clientes a levar para a
Suíça suas fortunas, nem sempre declaradas em seus países. A lista
desses clientes é um exemplo de como o sistema bancário do país
alpino lucrou ao manter contas de criminosos, traficantes, ditadores
e milionários que optaram por não pagar impostos ou pilharam seus
países.
Na semana passada, delatores do caso da Petrobras indicaram que
abriram 19 contas em nove bancos suíços para receber a propina.
No caso do HSBC, o Brasil aparece com destaque na lista, sendo o
quarto país com maior número de clientes no ranking das
nacionalidades que mais usaram o banco e as contas secretas. No
total, foram mais de 6,6 mil contas. Entre as personalidades
brasileiras estava Edmond Safra.
No mundo, a lista conta com nomes como Fernando Alonso, Emilio
Botin, David Bowie, Tina Turner ou o Rei Abdallah, da Jordânia.
A lista incluí desde traficantes de drogas, de armas, ditadores até
nomes famosos do mundo da música e do esporte, num total de US$ 100
bilhões. Os documentos são apenas uma parte do que seria o sistema
bancário suíço, duramente criticado por autoridades de todo o mundo
por permitir a existência de contas secretas e ser uma espécie de
“buraco negro” no sistema financeiro internacional.
Os documentos foram colhidos pelo Consórcio Internacional de
Jornalismo Investigativo e revelam a frequência pela qual
personalidades viajavam para a Genebra para consultar suas contas e
administrar suas fortunas.
No caso do Brasil, as contas registradas existem desde os anos 70 e
o período avaliado perdura até o ano de 2006. Na maior das contas,
os documentos apontam para mais de US$ 300 milhões em apenas um
nome.
Pelos documentos, porém, o que se revela é que o crime organizado
sul-americano usou as contas do HSBC para lavar dinheiro da droga e
não se exclui que parte das contas tinham relações com organizações
criminosas.
Os papeis foram obtidos a partir de uma lista roubada dos
escritórios do banco em Genebra por um ex-funcionário, Hervé
Falciani, em 2008 e entregue para as autoridades francesas.
Atingindo todas as partes do mundo, a lista das contas traz pessoas
como Gennady Timchenko, um bilionário russo associado ao presidente
Vladimir Putin e que hoje é alvo de sanções da UE pela guerra na
Ucrânia.
A lista também aponta contas em nome de assistentes do ex-presidente
do Haiti, Jean Claude “Baby Doc” Duvalier, e de Rami Makhlouf, um
primo e aliado do presidente da Síria, Bashar al Assad.
Outro nome é a de Li Xiaolin, filha do ex-primeiro ministro chinês
Li Peng, responsável pela repressão na Praça Tiananmen, além de
príncipes e de membros da monarquia de toda a Europa.
Em uma resposta oficial, o HSBC indica que reconhece que os
controles sobre a origem do dinheiro no passado nem sempre foram
corretos. Mas garante que, desde 2007, o banco “tomou passos
significativos para implementar reformas e expulsar clientes que não
atendiam aos padrões HSBC”.
Segundo o banco, como resultado disso, a instituição na Suíça perdeu
quase 70% de seus clientes desde 2007.
As revelações devem ampliar a pressão sobre os paraísos fiscais e
estimular o debate internacional sobre formas de aperta os
controles.
O HSBC já está enfrentando investigações criminais na França,
Bélgica, EUA e Argentina, como resultado do vazamento dos dados
bancários.
Os dados revelaram que o private bank (área de gestão de fortunas)
do HSBC na Suíça:
- rotineiramente permitia aos clientes retirarem maços de dinheiro em espécie, frequentemente em moedas estrangeiras sem uso na Suíça;
- comercializava serviços para que clientes milionários evitassem impostos;
- ajudava alguns clientes a dissimularem contas não declaradas (caixa 2);
- fornecia contas bancárias para criminosos internacionais, homens de negócios corruptos e indivíduos considerados de alto risco.
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