Alta do dólar eleva custo de dívida e deteriora contas da Petrobras
A valorização do dólar – que atingiu R$ 2,88 na quarta-feira
(11.fev.2015), a maior cotação desde outubro de 2004 – é mais uma
péssima notícia para a Petrobras.
O câmbio vai complicar as contas da estatal, reduzindo o caixa,
encarecendo importações e investimentos e elevando ainda mais a dívida,
que está 70% em dólar.
Para analistas, é a "tempestade perfeita" para a empresa, que já
enfrenta um escândalo de corrupção, troca de comando e agora até a
explosão de um navio-plataforma.
A estatal está muito exposta aos efeitos da variação cambial: 75% das
despesas estão em dólares (importação de gasolina e gás, royalties,
despesas de exploração ... et cetera).
No entanto, apenas 25% das receitas são em moeda forte (exportações de
petróleo, venda de combustível de aviação), conforme relatório do banco
Goldman Sachs.
Com o câmbio atual, que encarece investimentos e eleva custos, analistas
já se perguntam se a estatal consegue atravessar o ano sem recorrer ao
mercado de capitais.
Na mais recente apresentação aos investidores, feita em 29 de janeiro, a
Petrobras previu terminar 2015 com apenas US$ 8 bilhões em caixa. O
cálculo, no entanto, projetava que o câmbio chegaria, no máximo, a R$
2,80.
A estatal não pode captar recursos antes de divulgar seu balanço, mas
ainda não chegou a um acordo com o auditor sobre como contabilizar as
perdas geradas pela corrupção descoberta na Operação Lava Jato.
O câmbio também tem forte impacto na dívida da Petrobras, que já
estourou os parâmetros de endividamento saudável e corre o risco de
perdeu seu grau de investimento.
Segundo os dados mais recentes da empresa, a dívida líquida subiu de R$
221,6 bilhões em dezembro de 2013 para R$ 261,4 bilhões em setembro de
2014 por causa da variação cambial.
Cálculo do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) aponta que a
variação cambial pode ter elevado essa dívida para R$ 290 bilhões.
DEFASAGEM
A desvalorização do real tem outro efeito ruim para a Petrobras: reduzir
os ganhos que a empresa estava conseguindo graças à queda do preço do
petróleo.
Depois de anos subsidiando o consumidor brasileiro, a estatal estava
ganhando dinheiro ao comprar gasolina barata no exterior e vendê-la mais
caro no Brasil.
Em janeiro, a defasagem média entre o preço da gasolina nos Estados
Unidos e no Brasil praticado nas refinarias ficou em 56,8%. No início
daquele mês, chegou a atingir o pico de 67,8%.
Com a desvalorização do real, a diferença caiu para 30,8% no início de
fevereiro e para 23,5% hoje. Conforme o CBIE, o ganho da Petrobras com
essa defasagem caiu de R$ 98,7 milhões por dia para R$ 70,7 milhões.
"O câmbio vai corroendo esse fôlego que a empresa vinha ganhando", diz
Bruno Calori, analista da Coinvalores. Para Adriano Pires, diretor do
CBIE, "o câmbio atual é a tempestade perfeita para Petrobras".
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