Aldemir Bendine levou amiga em missão do BB
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, deu carona para a socialite
Val Marchiori e mais dois amigos num jato a serviço do Banco do Brasil
na época em que era o presidente do banco, segundo o depoimento de um
ex-vice-presidente do BB ao Ministério Público Federal.
Bendine e o então vice-presidente da área internacional do banco, Allan
Toledo, viajaram para Buenos Aires em missão oficial em 20 de abril de
2010, para concluir a aquisição do Banco da Patagonia.
"Val Marchiori acompanhava Aldemir Bendine, sendo que se tratava de
avião pequeno. Neste voo foi um casal de amigos de Bendine ou de
Marchiori, além do próprio depoente e dois pilotos", disse Toledo em seu
depoimento, prestado em novembro.
Três anos depois dessa viagem, Marchiori obteve um empréstimo de R$ 2,7 milhões do Banco do Brasil para sua empresa, numa operação que
contrariou normas internas do banco e se tornou alvo de investigação do
Ministério Público e inquérito da Polícia Federal.
Na viagem a Buenos Aires, Bendine e Marchiori ficaram hospedados no
mesmo hotel, o Alvear, um dos mais caros da capital argentina. No ano
passado, questionado se o Banco do Brasil havia custeado a estadia da
amiga, Bendine negou que os dois tivessem viajado juntos e disse que sua
presença no mesmo hotel foi coincidência.
Toledo não deixou claro no depoimento em qual trecho da viagem Marchiori
foi no avião com os executivos. Três ex-dirigentes do BB que pediram
para não ser identificados disseram que Marchiori e seus amigos estavam
no voo de volta ao Brasil.
A assessoria do Banco do Brasil negou na quinta-feira (19.fev.2015) que
Marchiori tenha voado no avião usado por Bendine. O jato pertencia ao
Banco da Patagonia e foi emprestado para o Banco do Brasil, que controla
quase 60% do capital do banco argentino.
DINHEIRO VIVO
O inquérito em que Toledo foi ouvido foi aberto pelo Ministério Público
para investigar denúncias do motorista Sebastião Ferreira da Silva, que
trabalhou para Bendine por quase seis anos e diz ter transportado dinheiro vivo para ele em várias ocasiões.
Ferreira mencionou Toledo e a viagem a Buenos Aires em um depoimento, e
por isso os procuradores intimaram o ex-vice-presidente do banco para
que fosse ouvido na condição de testemunha.
Um dos principais objetivos da investigação é apurar se a amizade entre
Bendine e Marchiori resultou em mau uso dos recursos do banco, o que
caracterizaria crime de improbidade administrativa. Bendine afirma que
não participou da liberação do empréstimo do BB para a socialite.
O motorista disse ao Ministério Público que, a pedido de Bendine, levou
Marchiori a diversos endereços em São Paulo, em carros oficiais do
banco, na época em que trabalhou para ele, até 2013.
Uma semana após a viagem a Buenos Aires, Bendine e a socialite se
hospedaram no Copacabana Palace, no Rio. Dois ex-dirigentes do BB
disseram que o banco pagou a estadia de Marchiori. Bendine e o BB negam.
O advogado de Toledo, José Roberto Batochio, afirmou que seu cliente não
daria entrevista por tratar-se de assunto em segredo de Justiça.
Desafeto de Bendine, Toledo foi afastado do BB em 2011, quando um
depósito milionário em sua conta o tornou alvo de suspeitas. Toledo
justificou o depósito mais tarde e decidiu processar o banco na Justiça,
acusando-o de quebrar seu sigilo bancário.
BANCO AFIRMA QUE SOCIALITE NÃO ESTAVA EM AVIÃO
O Banco do Brasil negou, por meio de sua assessoria, que a socialite Val
Marchiori estivesse no jato que levou o então presidente da
instituição, Aldemir Bendine, a Buenos Aires em abril de 2010.
A assessoria do banco também negou que a instituição tenha pago na época
a estadia de Marchiori no hotel Alvear, na capital argentina. No ano
passado, questionado sobre o assunto, Bendine disse que a presença da
socialite no mesmo hotel dele havia sido coincidência.
A assessoria do BB informou possuir um documento que comprovaria que o
banco não custeou a estadia da socialite em Buenos Aires, mas não o
exibiu à reportagem.
Na sexta-feira (20.fev.2015), a assessoria do banco avisou que um dos
executivos que acompanhou Bendine na viagem estava disposto a afirmar
que Marchiori não estava no avião, mas depois recuou e não autorizou a
entrevista nem informou o nome do executivo.
Segundo o banco, viajaram com Bendine a Buenos Aires o então
vice-presidente da área internacional, Allan Toledo, e outros dois
executivos. Na volta ao Brasil, apenas Toledo acompanhou Bendine,
segundo o banco.
A assessoria negou também que o banco tenha pago a estadia de Val
Marchiori no Copacabana Palace em outra ocasião, quando Bendine e outros
executivos do banco se encontravam hospedados no mesmo local.
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