Pedaladas fiscais
TCU detecta manobra do Tesouro para maquiar as contas
Tribunal quer convocar 14 autoridades do governo Dilma para esclarecer manobra
A nova equipe econômica do governo Dilma Rousseff deve enfrentar em
breve um desafio inesperado. Uma investigação do Tribunal de Contas da
União (TCU) concluiu, por meio de documentos sigilosos obtidos com
ministérios e bancos públicos, que o Tesouro Nacional realmente atrasou o
repasse de recursos federais para os bancos como forma a melhorar
artificialmente o resultado das contas públicas.
Chamados de “pedaladas fiscais”, esses atrasos ocorreram em despesas
sociais, trabalhistas e previdenciárias, como Bolsa Família,
seguro-desemprego, abono salarial e aposentadorias públicas. Como
resultado da investigação, o TCU quer convocar 14 autoridades do
governo, entre ministros e ex-ministros, presidentes de bancos públicos e
secretários de Estado.
No relatório, o TCU é conclusivo: “Documentos obtidos pela equipe de
auditoria junto à Caixa, ao Ministério do Trabalho e ao Ministério do
Desenvolvimento Social comprovam que, ao longo dos exercícios
financeiros de 2013 a 2014, recursos próprios da Caixa foram usados para
pagamento de dispêndios de responsabilidade da União no âmbito dos
programas Bolsa Família, seguro-desemprego e abono salarial”.
A Caixa precisou pagar do próprio bolso porque não recebia em dia o
dinheiro do Tesouro, que segurava o repasse de forma a registrar
despesas públicas menores. Essa operação é proibida pela Lei de
Responsabilidade Fiscal. A Caixa buscou a Advocacia-Geral da União (AGU)
para discutir a legalidade dessas operações, temendo punições.
O tribunal ainda comprovou, com base em documentos encaminhados pelo
Instituto Nacional de Seguro Social, que entre fevereiro e maio do ano
passado, o Tesouro, “deixou de repassar os recursos solicitados pelo
INSS para o pagamento de benefícios previdenciários”.
O relatório final de 81 páginas, obtido pela reportagem, ainda não foi
divulgado. Elaborado pelos técnicos da Secretaria de Controle Externo da
Fazenda, foi encaminhado ao relator, ministro José Múcio, a quem cabe
escrever o voto a ser levado ao plenário do tribunal. Os ministros do
TCU podem ou não seguir o entendimento da área técnica. A reportagem
apurou que o TCU já sofre pressão do governo por causa do envolvimento
de autoridades de alto calibre.
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