sexta-feira, 9 de janeiro de 2015


Escândalo na Petrobras
Em depoimento, policial cita senador eleito pelo PSDB
À PF, homem que levava dinheiro para doleiro diz ter entregue R$ 1 mi ao ex-governador Antonio Anastasia
Tucano negou com veemência ter recebido a verba e classificou a acusação de 'fora da realidade'

Jayme Alves de Oliveira Filho
O depoimento que faz menção ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na apuração da Operação Lava Jato traz um novo político para o rol de citados no caso: o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas Gerais.
A citação está sob análise na Justiça Federal do Paraná. Não foi encaminhada à Procuradoria Geral da República até agora porque Anastasia só recuperou o chamado foro privilegiado às vésperas do recesso judicial, quando foi diplomado senador.
Já a citação a Cunha está com a Procuradoria, pois ele já era deputado à época do depoimento. A acusação foi apurada por investigadores, que concluíram ser necessário abrir um inquérito para detalhar se há de fato algo concreto contra o peemedebista.
Políticos têm foro privilegiado e, por isso, só podem ser processados na área criminal por tribunais superiores.
Antonio Anastasia
No depoimento de 18 de novembro passado, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, disse que entregou R$ 1 milhão ao então candidato a governador Anastasia a mando do doleiro Alberto Youssef em 2010.
O tucano negou com veemência o teor do depoimento e disse desconhecer o policial e o doleiro. "É totalmente fora da realidade. Meu único patrimônio é moral, tenho toda uma reputação de honestidade. Qual seria o propósito disso? Fica até difícil comentar algo tão absurdo'', disse.
Na declaração, o policial afirma que levou o dinheiro a uma casa em Belo Horizonte e que Youssef tinha dito que o destinatário era o então candidato tucano, que se elegeu governador.
"Tempos mais tarde, vendo os resultados eleitorais, identifiquei que o candidato que ganhou a eleição em Minas era a pessoa para quem eu levei o dinheiro''.
A polícia mostrou então uma foto do tucano. "A pessoa que aparece na fotografia é muito parecida com a que recebeu a mala enviada por Youssef, contendo dinheiro'', disse ele.
Youssef triangulava as operações investigadas envolvendo funcionários da Petrobras, empreiteiras contratadas pela estatal e políticos. Careca, diz a PF, era responsável por entregar dinheiro em espécie a pessoas indicadas pelo doleiro.

OUTRAS MENÇÕES
O policial cita também outro parlamentar, Luiz Argôlo (SD-BA), cujo nome já havia sido mencionado no curso da investigação e que nega ter cometido irregularidades.
Também há uma menção a Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Aroldo Cedraz. Careca disse ter levado dinheiro "duas vezes'' no escritório de Cedraz, que, segundo ele, "fica numa casa no lago, no final de uma rua sem saída em Brasília''.
A assessoria de Cedraz disse que ele não conhece e nunca esteve com Careca ou com o doleiro Youssef e que coloca à disposição das autoridades o acervo de imagens da casa no Lago Sul de Brasília e o sigilo bancário.

R$ 16,7 milhões em dois anos
O policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido por "Careca", acusado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal de ser transportador de dinheiro de propinas do doleiro Alberto Youssef, presos na Operação Lava-Jato, entregou nos anos de 2011 e 2012 pelo menos R$ 16,7 milhões em espécie, ou seja, dinheiro vivo. Desse total, 13.042.800,00 eram em reais, 991.300,00 em dólares, e 375.000,00 em Euros. Esses valores constam em contabilidade informal feita pelo doleiro Youssef, cuja papelada foi apreendida no seu escritório em São Paulo em março de 2014, quando foi deflagrada a Operação Lava-Jato.

"Careca", foi afastado da Polícia Federal por determinação do juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sérgio Moro.

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