sábado, 24 de janeiro de 2015


Escândalo na Petrobrás
Coordenador do 'clube' das empreiteiras negocia delação
Ricardo Pessoa, da UTC, quer contar o que sabe em troca de redução de pena
Acordo ainda não foi fechado porque o executivo afirma não saber sobre propina no setor elétrico


Apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como coordenador do "clube" de empreiteiras que fraudavam licitações na Petrobras, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC-Constran, negocia um acordo de delação premiada com os procuradores que atuam no caso.
Se as negociações derem certo, Pessoa será o primeiro empreiteiro a contar o que sabe em troca de uma redução de pena -- o princípio da delação. Já são pelo menos nove os réus da Lava Jato que decidiram colaborar com as investigações, segundo a Procuradoria Geral da República.
O grupo UTC-Constran tem 29 mil funcionários e faturou R$ 5 bilhões em 2013, o último dado disponível. Pessoa era o presidente da UTC, cargo que deixou após ser preso em 14 de novembro passado sob acusação de pagar propina para conseguir contratos na Petrobras -- o que a UTC nega com veemência.
Nas conversas que ocorreram nesta semana em Curitiba, participaram o defensor de Ricardo Pessoa, Alberto Toron, o presidente da Constran, João Santana, que foi ministro no governo de Fernando Collor, e o advogado Antônio Figueiredo Basto, que cuidou das negociações da delação de Alberto Youssef, seu cliente desde os anos 2000.
Figueiredo Basto foi chamado para reforçar o time por causa da experiência que tem com delação -- é um dos advogados que mais fez acordos de colaboração no país.
Dos 11 executivos presos desde novembro em Curitiba, Pessoa é o mais próximo do doleiro Youssef: era sócio dele em um hotel em Salvador e num empreendimento imobiliário em Lauro de Freitas, ao lado da capital baiana.
As negociações de Pessoa com os procuradores ainda não foram fechadas, segundo se apurou, porque o executivo diz não ter informações sobre pagamento de propina no setor elétrico.
Os procuradores da Lava Jato querem que os delatores não se restrinjam a narrar as irregularidades que praticaram na petroleira.
Eles buscam informações sobre outros setores após o ex-diretor Paulo Roberto Costa ter revelado em depoimento que as empreiteiras também agiam como um cartel em hidrelétricas e portos.
Pessoa tem dito aos procuradores que a UTC participa de uma única obra do setor elétrico, a montagem da usina nuclear Angra 3, num consórcio do qual fazem parte Camargo Corrêa e Odebrecht.
O executivo foi apontado como coordenador do cartel por Augusto Ribeiro Mendonça, ligado à Toyo Setal, que também fez um acordo de delação premiada.
Outro delator da Lava Jato, Júlio Camargo, contou aos procuradores que um consórcio liderado pela UTC pagou propina para conquistar uma obra no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Ele afirma que não sabia o valor porque o suborno teria sido acertado pelo próprio Pessoa.

CAMARGO CORRÊA
Três integrantes da cúpula da Camargo Corrêa que estão presos desde novembro também negociam um acordo de delação.
Em reunião na sexta-feira (23.jan.2015), procuradores e advogados dizem ter encontrado uma forma de beneficiar tanto os executivos como a empresa -- um dos pontos mais difíceis do acordo. Com isso, abre-se a perspectiva de a empresa ser incluída na delação, além dos executivos.
Procuradas pela reportagem, a UTC e a Camargo Corrêa não quiseram comentar. A reportagem não conseguiu localizar o advogado Alberto Toron.


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