Crise na Petrobras afunda sonho da indústria
de construção naval na região sul
Crise na Petrobras afunda sonho de transformar Brasil em titã naval |
A crise que a Petrobras vive e o seu desenrolar nos setores da
economia continuam ganhando destaque na imprensa internacional. Em
matéria do último final de semana, o jornal britânico Financial
Times (FT) destacou que o sonho da presidente Dilma Rousseff em
transformar o "Brasil num titã da indústria naval foi por água
abaixo" em meio aos problemas que a estatal enfrenta.
"Em 2012, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff visitou o sul do
estado do Rio Grande do Sul para visitar um projeto do coração da
líder de esquerda – o renascimento da indústria de construção naval
do país. No Estaleiro Rio Grande (foto), um dos cinco estaleiros
contratados pela Sete Brasil, uma nova empresa de perfuração
brasileira criada para produzir 29 navios, ela se dirigiu a 4 mil
trabalhadores e falou que no Estado estava vendo o nascimento e
crescimento de uma indústria naval”, afirma o jornal. Contudo, menos
de três anos depois, o plano de Dilma de transformar o país em uma
força naval da indústria de petróleo e gás está em dúvida.
E um grupo que está atento a isso é a Sete Brasil. Fundada em 2010
como carro-chefe para o setor de petróleo e gás, dona de contratos
de US$ 89 bilhões para construir, arrendar e operar 29 sondas de
perfuração, a empresa enfrenta dificuldades financeiras. O FT
ressalta ainda a fala de críticos. Eles destacam que, na verdade, a
Sete Brasil ajudou a aumentar os custos da estatal – uma vez que era
possível obter equipamentos mais baratos no exterior. Os acionistas
da Sete incluem a própria Petrobras, dois dos maiores bancos do
setor privado cotadas do país, BTG Pactual e Bradesco, e uma série
de fundos de pensão e de investimento no Brasil. As companhia
contratadas para operar os equipamentos, por sua vez, incluem
unidades de alguns dos maiores grupos de construção do Brasil e
ainda multinacionais como Seadrill e Odjfell.
Os proprietários dos estaleiros incluem Odebrecht, Queiroz Galvão,
UTC e OAS, juntamente com os parceiros estrangeiros, como a japonesa
Mitsubishi e a Keppel Fels, de Cingapura. "A Sete Brasil foi um
exercício muito inteligente em project finance. Mas na época,
ninguém pensou que a Petrobras iria ter problemas financeiros”,
relata um investidor na reportagem. O FT ressalta ainda que quando a
Operação Lava Jato foi deflagrada no início do ano passado, o
ex-diretor da Sete Brasil, Pedro Barusco, foi acusado de má conduta
quando tinha um cargo na estatal. O executivo fez um acordo de
delação premiada em que se compromete a devolver US$ 100 milhões aos
cofres públicos.
Em meio ao imbróglio, unidades de muitos dos grandes grupos
brasileiros que tinham contratos com a Sete Brasil também foram
acusados de irregularidades. Com isso, um dos problemas mais
imediatos para a Sete (e a Petrobras) foi a crise financeira
encontrada e dificuldades para entregar o que fora prometido. Um
empréstimo de US $ 3,1 bilhões foi acordado com o Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2013, mas o desembolso
fora adiado por negociações contratuais prolongadas. Os investidores
estão preocupados, pois sem o financiamento de longo prazo mais
barato oferecido pelo BNDES, o projeto não terá liquidez suficiente.
A Sete Brasil afirmou que o empréstimo deverá ser finalizado dentro
das "próximas semanas", mas não disse nada sobre o possível
adiamento do processo. Enquanto isso, rumores apontam que Dilma
trabalha pessoalmente para agilizar o empréstimo. O jornal britânico
aponta uma saída, mas que não deve ser considerada pela presidente.
"Com os problemas da Petrobras piorando, alguns investidores têm
sugerido que o governo permita que a Sete obtenha algumas
plataformas de perfuração mais baratas no exterior. Tal movimento,
no entanto, seria politicamente intragável para Dilma Rousseff.
Afinal de contas, ela pretendia criar o legado de uma gigante da
construção naval no Brasil – e não mais empregos na Ásia", diz a
reportagem.
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