Confusão no 1º ato contra aumento da passagem em 2015
SÃO PAULO - O Movimento Passe Livre (MPL) reuniu nesta sexta-feira,
09.jan.2015, cerca de 5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, no
primeiro ato contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo em 2015. O
protesto começou de forma pacífica, mas voltou a registrar infiltração
de integrantes do movimento Black Bloc, com cenas de tumulto e
quebra-quebra. Houve vandalismo: três agências bancárias, duas
concessionárias e duas lanchonetes foram depredadas. A polícia usou
bombas de gás e balas de borracha contra manifestantes. Pelo menos seis
pessoas ficaram feridas e houve 53 prisões.
A manifestação teve muitos pontos em comum com o primeiro grande
protesto contra a tarifa organizado pelo MPL, em 6 de junho de 2013.
Naquele caso, também se reuniram 5 mil pessoas, com concentração no
Teatro Municipal, e, após um início pacífico, houve uma série de
confrontos com a polícia. Naquele ano, a tarifa de R$ 3,20 vigorou por
23 dias, pois uma série de protestos pelo País motivou a suspensão.
Nesta sexta-feira, a concentração do grupo começou às 17 horas, na
frente do Teatro Municipal - entre os grupos de apoio estavam
sindicalistas e simpatizantes de PSOL e PSTU. O Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST) também prometia apoio, sobretudo de bases
na periferia. Cerca de 800 homens da polícia já faziam a segurança.
A Tropa de Choque usava câmeras acopladas ao colete para filmar toda a
ação. A estratégia era a mesma adotada durante a Copa do Mundo de 2014 -
usar cordões de isolamento para evitar a aglomeração de pessoas.
No único pronunciamento feito, o MPL definiu o roteiro da marcha por
assembleia. Uma proposta de ir até o Terminal Dom Pedro e lá acampar até
a redução da tarifa acabou rechaçada. Optou-se por seguir até a Avenida
Paulista.
Cerca de uma hora depois, pouco antes de o grupo iniciar a marcha,
começaram a surgir pessoas vestidas de preto e mascaradas. O comércio no
centro fechou as portas antecipadamente. “Não quero correr o risco de
quebradeira”, disse Clara Gonçalves, de 62 anos, que tem uma loja de CDs
e vinis. No horário de pico da tarde, o trânsito nas Avenidas Ipiranga e
São João foi totalmente parado por manifestantes. Os jovens usavam
troncos e pedaços de árvores, deixados por temporais, para bloquear a
passagem. Na sequência, em vários pontos, pichadores deixaram frases
contra a passagem de R$ 3,50, que vigora desde terça-feira.
Confusão. O ato seguia pacífico até o início da subida da Rua da
Consolação, quando mascarados e pichadores começaram a atacar muros e a
provocar a polícia, atirando pedras e tentando atear fogo a lixo.
Um princípio de confusão aconteceu na frente do Cemitério da Consolação.
Um dos manifestantes foi revistado pela polícia, por suspeita de estar
armado. Acabou liberado. Posteriormente, um grupo com cerca de 50 black
blocs tentou invadir uma agência bancária do Santander. O lugar foi
depredado com pedras e chutes. A PM respondeu com bombas de efeito moral
e de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Posteriormente, outra
agência do Santander, na mesma via, foi apedrejada. De acordo com o
major Larry Saraiva, comandante da operação, nove black blocs foram
detidos nesta ação.
Ao chegar à esquina com a Avenida Paulista, mais mascarados atiraram
coquetéis molotov na polícia. “Um amigo jogou o coquetel molotov nos
‘coxas’ e depois foi só bomba para todo lado”, disse um dos adeptos da
tática, que se identificou apenas como Carlos, de 21 anos.
Nesse momento, os soldados bateram nos manifestantes que tentavam
correr, usando cassetetes. “A gente não estava depredando e mesmo assim
foi agredido. Tive de me esconder em uma agência bancária”, disse
Stefani Gomes, de 25 anos, que tinha o braço torcido.
Dispersão. Foi quando a polícia dispersou o protesto - com
manifestantes seguindo em diversas direções. Às 20h30, havia focos de
incêndio com lixo na Avenida Angélica, onde lanchonetes foram
apedrejadas e uma agência do Banco do Brasil, depredada; e na Rua
Haddock Lobo.
De acordo com a PM, os black blocs trocaram de roupa e se dividiram em
grupos. Um grupo teria sido detido quando tentava botar fogo em um
ônibus na Rua Bahia. No mesmo momento, na Rua Augusta, havia registro de
mais bombas explodindo e confrontos com a PM. Uma concessionária Kia
foi depredada. Também foi registrada correria nas Ruas Haddock Lobo e
Bela Cintra, que estavam tomadas pela fumaça de gás lacrimogêneo.
As entradas das Estações Consolação e Trianon-Masp foram fechadas. Na
Matias Aires, perto da Augusta, outra concessionária foi depredada.
Nova manifestação. A polícia levou os detidos, que seriam
acusados de vandalismo, para o 78.º DP (Jardins). Quatro deles, feridos
com balas de borracha, foram encaminhados para exame de corpo de delito.
O ato foi encerrado às 21h10 e a Avenida Paulista estava totalmente
liberada às 21h30. Os poucos manifestantes que ainda se reuniam nas
imediações ainda gritavam palavras de ordem de 2013, como “amanhã vai
ser ainda maior”. Outro ato do MPL contra a tarifa já está marcado para a
próxima sexta-feira.
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