'Charlie Hebdo' já tinha sido alvo de ataques
por caricaturas de Maomé
Ataque de hackers e incêndio estão entre os crimes contra a publicação,
que recebia há anos proteção policial
PARIS - A revista satírica Charlie Hebdo, alvo de um atentado que deixou
pelo menos 12 mortos nesta quarta-feira, 07.jan.2015, em Paris já tinha sofrido em
seus quase 22 anos de existência outros ataques em razão da publicação
de caricaturas de Maomé.
A revista, cuja a mera reprodução está proibida pelo Islã, também chegou
a ser incendiada em novembro de 2011. Quando voltou às ruas, insistiu
na linha editorial com uma capa em que um muçulmano e um desenhista se
beijavam sob o título "O amor é mais forte que o ódio".
No interior da edição, carregada de críticas tanto ao fundamentalismo
muçulmano como o cristão, o diretor da publicação, Charb, exigia no
editorial o direito dos desenhistas e jornalistas da Charlie Hebdo a
fazer humor sobre o que quisessem.
Em 3 janeiro de 2013, o site da revista sofreu ataques de hackers,
motivados pela publicação no dia anterior de um suplemento especial com
uma biografia de Maomé em forma de história em quadrinhos.
Antes disso, o semanário levantou a ira dos islamitas por reproduzir
outras caricaturas, originais do jornal dinamarquês Jyllands-Posten em
setembro de 2005, nas quais o profeta vestia turbante-bomba com o pavio
aceso.
Com uma linha ousada e irreverente, a Charlie Hebdo foi criada em 1992
pelo escritor e jornalista François Cavanna, morto em 29 de janeiro de
2014, aos 90 anos. O desenhista Charb assumiu então a publicação, dando
sequência à linha editorial considerada ofensiva pelos muçulmanos.
No Islã, a mera representação gráfica do profeta é considerada uma
ofensa. A divulgação das caricaturas suscitou um intenso debate na
França sobre a liberdade de imprensa no país.
Atualizando
Coincidência ou não, a Charlie Hebdo fez a
divulgação em sua edição desta quarta-feira, 07.jan.2015, do novo
romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais
famosos autores franceses no exterior. A obra de ficção
política, "Submissão", fala de uma França islamizada em 2022, depois da
eleição de um presidente da República muçulmano.
O curioso é que esta edição da revista se esgotou nas bancas logo depois do atentado.
"As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes ... Em
2022, faço o Ramadã!", afirma a caricatura do escritor na capa da
Charlie Hebdo.
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