Brasil vai demorar a devolver
energia à Argentina
Com as importações de 2 mil MWh,
dívida de energia com o país vizinho
foi elevada a 11 mil MWh, mas só será paga com sobras
foi elevada a 11 mil MWh, mas só será paga com sobras
Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, fez empréstimo de energia da Argentina |
As importações de energia elétrica da Argentina desta semana, embora
não tenham impacto nas contas externas brasileiras, elevaram a 11
mil megawatts/hora (MWh) a "dívida" de energia do Brasil com o país
vizinho. As compras de 2 mil MWh foram realizadas na modalidade
"emergencial", ou seja, para suprir a demanda que não conseguiu ser
atendida pela geração nacional.
O acordo entre Brasil e Argentina prevê que "a energia importada
deve ser compensada com devolução em igual montante" nos casos
emergenciais. Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram
que o Brasil já devia 9.185 MWh aos argentinos importados via Garabi
1 e Garabi 2, em Garruchos (RS).
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informou que
a aquisição da Argentina não foi uma "questão comercial" e não
envolveu nenhuma transação financeira. As importações de 2 mil MWh
serviram para suportar a escalada do consumo no horário de pico
desde terça-feira (20.jan.2015). A última vez em que houve compra de
energia do exterior foi em dezembro de 2010.
Tecnicamente, segundo explicação do ONS, o tipo de aquisição feita
nesta semana ocorre quando "emergências no sistema de geração ou
transmissão comprometem o atendimento à carga". A energia recebida
da Argentina serviu para abastecer a Região Sul que, durante os dois
dias, enviou o máximo de sua energia ao Sudeste, informou uma fonte.
Como a energia produzida pelas usinas brasileiras tem sido
totalmente usada para suprir a demanda nacional, a "devolução" dessa
carga à Argentina não deve ocorrer tão cedo, ainda mais em um
cenário de racionamento, como admitido na quinta-feira (22.jan.2015)
pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga.
O próprio acordo binacional isenta os dois países de devolver a
energia enquanto não houver sobras no sistema. Mesmo nos casos em
que o parceiro superavitário nas transações de troca de energia
inicie também uma situação de emergência. Ou seja, com o Brasil
ofertando energia no limite da demanda, uma ocorrência do outro lado
da fronteira pode ficar sem socorro, mesmo com o "crédito" de 11 mil
MWh dos vizinho.
Há uma alternativa que pode servir para adquirir eletricidade
argentina sem aumentar a "dívida" com o parceiro: a importação pelo
sistema de interligação de Uruguaiana, no qual o Brasil detém um
crédito de 1.153 MWh. O problema é que a usina gaúcha, desligada
desde abril de 2014, está no centro de uma polêmica com o próprio
governo argentino, que rompeu o contrato de abastecimento de gás à
planta em 2009.
Balança
Se a atual crise energética aumenta o déficit de eletricidade do
Brasil com a Argentina, há exatos cinco anos a venda de energia ao
País vizinho ajudou a maquiar o saldo comercial brasileiro. Em
janeiro de 2010, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior alterou o valor das exportações brasileiras de
dezembro de 2009, de US$ 13,720 bilhões para US$ 14,463 bilhões, com
a inclusão de US$ 758 milhões referentes à exportação de energia
para o parceiro.
Com essa mudança - e outros ajustes menores nas importações -, o
saldo comercial naquele mês subiu de US$ 1,435 bilhão para US$ 2,178
bilhões. Consequentemente, o saldo positivo naquele ano passou de
US$ 24,615 bilhões para US$ 25,248 bilhões. Na época, o então
secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, disse que as
operações referiam-se à regularização de exportações de energia à
Argentina em 2007 e 2008.
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