Prefeitura gaúcha de Taquari derruba busto em homenagem a Costa e Silva
Retirada ocorreu em cidade natal do militar que presidiu país na ditadura.
Segundo município, um dos motivos é o relatório da Comissão da Verdade.
Segundo município, um dos motivos é o relatório da Comissão da Verdade.
A prefeitura de Taquari, município a 101 quilômetros de Porto Alegre,
derrubou na terça-feira (16.dez.2014) o busto em homenagem ao marechal
Artur da Costa e Silva, que foi presidente do país durante o regime
militar (1964-1985).
O trabalho foi executado por uma máquina da prefeitura, mas até agora o
município não se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Presidente da
República entre março de 1967 a agosto de 1969, Costa e Silva é natural
de Taquari.
O monumento com mais de dois metros de altura em granito e bronze negro
foi construído em 1976 e estava localizado na Lagoa Armênia, em uma
praça central da cidade. A retirada da estrutura ocorreu na véspera dos
45 anos da morte do militar, na quarta-feira (17.dez.2014).
Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado
semana passada, todos os militares que se tornaram presidentes durante a
ditadura militar, entre 1964 e 1985, são responsáveis pelas violações
de direitos humanos. Na lista, figura o nome de Costa e Silva.
Procurada pela reportagem, a assessoria do município adiantou que desde a
semana passada o prefeito Emanuel Hassen de Jesus, o Maneco (PT),
analisava a possibilidade remover o busto. Um dos motivos seria o
relatório da CNV. Ele deve se manifestar sobre a iniciativa.
O material foi retirado com auxílio de uma retroescavadeira e uma
caçamba. O secretário de Obras, Luiz Construtor, e o chefe das pastas de
Esporte, Lazer, Cultura e Turismo, Leandro Mariante, acompanharam a
ação. Eles não quiseram falar sobre o assunto e não explicaram o motivo
da retirada do monumento.
Após a remoção, a estrutura foi levada a casa onde Costa e Silva residia
em Taquari, informou a prefeitura. No local, funciona atualmente um
museu tombado em homenagem ao ditador.
Baseada no relatório da Comissão da Verdade, prefeitura remove estátua de Costa de Silva
A divulgação do relatório final da Comissão Nacional Verdade (CNV) foi o
mote decisivo para a retirada de uma estátua do presidente Arthur da
Costa e Silva do principal ponto turístico de Taquari, cidade natal do
ditador. Com auxílio de uma máquina retroescavadeira, a prefeitura
derrubou o busto que ficava na Lagoa Armênia, desde 1976.
Segundo o prefeito Emanoel Hassen (PT), conhecido como Maneco, o
relatório comprovou as “atrocidades” cometidas pelo presidente, que não
merece uma homenagem na Lagoa.
— É o principal ponto de manifestações culturais da cidade, e a gente
sabe que a ditadura foi contra qualquer manifestação, seja de música,
dança ou arte. Não tinha mais sentido ficar ali — justifica Maneco.
Junto do busto, uma placa explicava que foi na Lagoa Armênia que Costa e
Silva, ainda na infância, organizou seu primeiro pelotão de meninos e
que, quando presidente, "comandou com altruísmo o Brasil e o povo
brasileiro".
Embora tenha sido derrubada, a estátua está intacta, garante o prefeito,
e foi levada para a Casa Costa e Silva, um museu em homenagem ao
ditador e que fica na casa onde Costa e Silva morou no início da vida.
Ao lado do busto, a prefeitura vai colocar uma cópia do relatório da
CNV.
— Não temos intenção de esconder a história, mas vamos, então, mostrá-la
por completo. Quem for lá pode tirar as próprias conclusões — esclarece
Maneco.
Nota Oficial - Prefeitura Municipal de Taquari - Retirada Busto Costa e Silva
Em face da polêmica gerada pela retirada do busto existente junto à Lagoa Armênia, na cidade de Taquari - RS, a Prefeitura Municipal de Taquari informa que:
1. O busto em questão foi instalado no ano de 1976, em homenagem a Arthur da Costa e Silva, porque “nesta Lagoa Armênia, na infância, organizou seu primeiro pelotão de meninos. Em hora difícil, presidente da República, comandou com altruísmo o Brasil e o povo Brasileiro.”
2. Com a divulgação do Relatório da Comissão Nacional da Verdade, restaram comprovadas as atrocidades cometidas no período da ditadura militar, especialmente naquele período conduzido por Costa e Silva.
3. Portanto, a administração municipal de Taquari entendeu que não havia razão para manter uma homenagem no maior ponto turístico da cidade, espaço de demonstrações culturais, justamente a quem promoveu um período nebuloso na história do país. Cidadãos de Taquari, inclusive, sofreram as mazelas daquele período.
4. O busto, portanto, foi retirado e já está junto ao Museu Costa e Silva, existente no município e mantido pela Prefeitura Municipal. Junto com ele, também estará à disposição uma cópia do relatório da Comissão Nacional da Verdade, para que a história seja conhecida na totalidade em que foi possível escrevê-la.
5. A Lagoa Armênia continuará sendo, e cada vez mais será, um espaço para a livre manifestação cultural no município de Taquari.
Artur da Costa e Silva |
Quem foi Costa e Silva
Arthur da Costa e Silva nasceu em Taquari, no Vale do Taquari, no Rio
Grande do Sul, em 3 de outubro de 1899. Seus estudos sempre foram
realizados em escolas militares, ele participou da revolta tenentista em
1922, foi aprisionado e indultado. Um dos principais organizadores do
golpe de 1964, ele tomou parte do Comando Supremo da Revolução. Durante o
governo de Castelo Branco, foi seu ministro da Guerra, deixando o cargo
para concorrer às eleições indiretas para a Presidência da República
pela Arena. No dia 3 de outubro de 1966, foi eleito presidente, tendo
como vice Pedro Aleixo.
Nos dois primeiros anos de seu governo, a atividade política foi muita
enérgica. Surgiu a Frente Ampla, criada por políticos de diversas
inclinações, tendo como chefe Carlos Lacerda e o assentimento de
Juscelino Kubitschek e de João Goulart. A Frente Ampla apoiava a luta
pelo retorno da democracia, perdão por crimes políticos, a escolha de
presidente por meio de eleições diretas e a formação de uma nova
Constituinte.
O período de 1968 entrou para a história como o ano dos grandes
protestos e das reações violentas por parte do governo. Os estudantes
declararam-se contrários à falta de verbas para a educação, além de se
oporem à transferência do ensino público para o setor privado.
A morte do estudante do ensino secundário Edson Luís, em um confronto
com a polícia militar, provocou uma reação em massa dos estudantes, que
anunciaram uma paralisação estudantil de âmbito nacional, ocorreram
várias reuniões políticas e manifestações públicas, das quais fizeram
parte várias esferas sociais.
A fase mais crítica para o governo deu-se com a passeata dos cem mil –
ato ocorrido no Rio de Janeiro –, a tensão política aumentou e no mês de
abril o governo coibiu a Frente Ampla – as reuniões, as expressões
públicas e qualquer espécie de divulgação tornaram-se contrárias à lei.
Ocorreram greves em Contagem, no estado de Minas Gerais e Osasco, em São
Paulo, local no qual ocorreu uma intervenção do Governo no Sindicato
dos Metalúrgicos.
No mês de outubro a UNE – União Nacional dos Estudantes - efetuou em
Ibiúna, São Paulo, uma reunião secreta. Apesar de todo cuidado tomado,
os estudantes foram descobertos e presos. Surgem os primeiros atos
guerrilheiros na cidade de São Paulo, o Consulado Americano é alvo de
uma bomba, ocorre o famoso assalto ao trem pagador na cidade de Jundiaí,
o hospital militar do Cambuci é alvo de um ataque armado.
Um deputado do MDB, de nome Márcio Moreira Alves, fez um discurso na
Câmara dos Deputados culpando os militares pelas atrocidades perpetradas
em oposição aos estudantes. Suas palavras foram consideradas um afronto
às forças armadas, e teve como consequência o pedido de cassação de seu
mandato pelo governo, o qual foi negado pela Câmara dos Deputados.
O governo, sentindo-se derrotado e tendo que se defender dos atos
contrários ao regime militar, tornou oficialmente público, por meio de
seu ministro da Justiça, Gama e Silva, o AI-5, cujas principais
características foram: aumento dos poderes do Presidente - os quais
permitiam a este encerrar os trabalhos do Legislativo no momento que lhe
aprouvesse, aproveitando para formalizar a cassação de vários
parlamentares -, a paralisação dos direitos políticos e a perda dos
privilégios proporcionados pela Constituição, a intercessão da Federação
nos estados e municípios, a destituição e aposentadoria de
trabalhadores públicos, entre outras providências.
Paralelamente a este caos social que o governo enfrentava, havia coisas
boas acontecendo na área econômica, sob o comando do ministro Delfim
Neto. Houve a reconciliação entre o desenvolvimento industrial e a
concessão de crédito, a política salarial encontrava-se sob controle,
assim como a inflação, que girava em torno de 23% ao ano.
Criou-se o MOBRAL - Movimento brasileiro de Alfabetização. O Serviço de
Proteção ao Índio – antigo SPI – passou a se chamar FUNAI – Fundação
Nacional do Índio. Nesta mesma época surgiram também a EMBRAER e a CPRM.
No dia 31 de agosto de 1969, o presidente Arthur da Costa e Silva
afastou-se do cargo em decorrência de uma trombose cerebral, sendo
substituído por uma Junta Militar. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17
de dezembro de 1969.
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