TCU abre processo para investigar troca de favores entre ministro e Dilma Rousseff
Mensagens reveladas por VEJA nesta semana mostram que Walton Alencar passava informações do tribunal ao governo. Em troca, ele conseguiu nomear a mulher e o irmão para cargos de ponta no STJ e no TST. Tribunal vai pedir à Polícia Federal que compartilhe documentos sobre a relação do ministro com a Casa Civil da Presidência da República
Mensagens reveladas por VEJA nesta semana mostram que Walton Alencar passava informações do tribunal ao governo. Em troca, ele conseguiu nomear a mulher e o irmão para cargos de ponta no STJ e no TST. Tribunal vai pedir à Polícia Federal que compartilhe documentos sobre a relação do ministro com a Casa Civil da Presidência da República
O ministro Walton Alencar: ele dava atenção especial a processos de
interesse do governo em troca da nomeação da mulher para uma vaga no STJ |
Quatro dias após VEJA ter revelado
mensagens que mostram o ministro Walton Alencar atuando a favor do
Palácio do Planalto nos bastidores do Tribunal de Contas da União (TCU),
o corregedor da corte, ministro Aroldo Cedraz, determinou a abertura de
processo para investigar a vida dupla do magistrado. Documentos obtidos
por VEJA mostram que, enquanto presidente do tribunal, Walton manteve
uma intensa troca de favores com a então ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, e seu braço-direito, Erenice Guerra. Walton antecipava
decisões, dava conselhos informais aos advogados do PT e ainda
dificultava o trabalho da oposição que, sem saber da sua dupla
atividade, procurava o TCU auxiliar em investigações contra o governo
federal. Em contrapartida, Walton contou com a ajuda de Dilma e Erenice
para emplacar a própria mulher, Isabel Gallotti, no cargo de ministra do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele também teve o irmão, Douglas
Alencar, indicado por Dilma para o Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Agora, o ministro terá de provar aos colegas de corte a legitimidade
de todas as suas ações. Como primeiro passo dos trabalhos, o TCU irá
solicitar à Polícia Federal o compartilhamento das mensagens que mostram
a troca de favores entre Walton e o governo. A decisão de investigar a
conduta de Walton foi anunciada depois que entidades fiscalizadoras dos
gastos públicos cobraram uma posição do tribunal, que se mantinha em
silêncio sobre as denúncias.
Diante das denúncias, o TCU optou pelo silêncio.
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Augusto
Nardes, emitiu um único pronunciamento em que afirma que “tomou ciência
das notícias veiculadas no último final de semana e irá emitir
pronunciamento após avaliação”.
O único que se manifestou sobre o caso, por mais irônico que isso
possa parecer, foi o próprio ministro Walton Alencar. A nota enviada por
ele ao comando do TCU merece ser lida mais pelo que o ministro omite do
que pelo que diz. Ignorando as mensagens reproduzidas em VEJA em que
ele escreve a Erenice em diferentes momentos para trocar favores e pedir
ajuda para emplacar a sua mulher num cargo de ponta, Walton
concentra-se sobre o mais leve dos pecados revelados na reportagem: a
parte que Erenice solicita que ele aconselhe o advogado do PT Márcio
Silva sobre questões eleitorais: “Na qualidade de ministro do TCU,
tenho, por dever de ofício, de manter contato com autoridades de todos
os Poderes e escalões. Nesse sentido, a solicitação da então ministra
Chefe da Casa Civil de receber certo advogado nada significa, pois todos
sabem que todos os advogados que solicitam audiência no meu gabinete
são por mim recebidos indiscriminadamente”. Receber um advogado é uma
coisa. Dar conselhos eleitorais a ele, outra bem diferente. A resposta
seletiva do ministro joga ainda mais responsabilidade sobre o comando do
TCU, a quem cabe adotar as devidas providências sobre o caso.
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